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12 Novembro 2025 | Gabryella Garcia

Inteligência Artificial começa a se estabelecer como ferramenta de gestão e processos no audiovisual, mas criação ainda é tabu

Ferramenta é vista por especialistas como facilitadora do dia a dia, sem que o ser humano deixe a parte criativa exclusivamente para a IA

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(Foto: Divulgação)

Um dos assuntos, e das novidades, que mais gera debate atualmente no mercado audiovisual é a inteligência artificial, e sua utilização dentro da cadeia de produção. A 10ª edição da MAX - Minas Gerais Audiovisual Expo não deixou essa discussão de fora de sua programação e, em meio ao caos e distopia criado pela IA, especialistas do setor começaram a apontar um caminho que inicia a se tornar unanimidade dentro do setor: a utilização da ferramenta como uma aliada na gestão e agilidade de processos. Sua utilização para criação, entretanto, ainda é um ponto sensível e que gera diversos debates e divergências.



O aproveitamento da ferramenta como uma aliada em processos, aliás, é uma tendência mundial que começa a se consolidar no Brasil. No CineEurope 2025, por exemplo, ao invés de os participantes focarem na discussão do uso da tecnologia para produções, a inteligência artificial foi colocada como uma possível aliada dos exibidores, podendo fazer até mesmo a pré-programação dos cinemas ao se basear no comportamento dos consumidores e nos filmes disponíveis para fazer um cruzamento de dados.

"Quando falamos na inteligência artificial como uma ferramenta produtiva e de agilidade de processos, é o ponto onde existe convergência de pensamentos. Sabe-se que traz vantagens e é para tornar algo melhor. Nessa parte, a inteligência artificial basicamente vai entender a situação e ajudar a ser mais produtivo e assertivo, minimizando erros e economizando tempo", destacou o supervisor de efeitos especiais e diretor de animação Cláudio Peralta, durante a MAX.

Peralta, que fez parte de projetos como Ainda Estou Aqui (Sony) e O Homem do Futuro (Paramount), por outro lado, vê a parte generativa de imagem, som e texto da inteligência artificial como problemática e trazendo consigo, inclusive, questões éticas.

"Na parte de processos é legal a inteligência artificial preencher lacunas, mas a inteligência artificial generativa de imagens também vai preencher lacunas e aí entra a problemática. Parte da construção do audiovisual é você se forçar a resolver os problemas e preencher lacunas, e assim a produção audiovisual fica completa. Você consegue ver onde está falhando nesse processo, mas a partir do momento que a IA começa a preencher as lacunas para você, e ela nasceu para isso, o processo se perde. A pessoa vai dizer que fez ou criou algo, mas na verdade não fez. Ela não tem ideia como aconteceu porque foi preenchido pela IA. A criação no audiovisual envolve sua emoção, vivência e relações de criatividade, e não podemos deixar isso para um sistema que mistura e usa de tudo que já pescou do universo. Que universo é esse?", completou o supervisor de efeitos especiais.

Hoje, por exemplo, já usamos a IA em situações corriqueiras do dia a dia como a transcrição de uma reunião online ou através do próprio Gemini, para quem utiliza e-mails do Google, que é um conjunto de modelos de IA que funciona como assistente pessoal, chatbot e ferramenta de produtividade, até mesmo fazendo um resumo dos e-mails para os usuários.

Dani Tolomei, CEO e fundadora da Transforma Audiovisual, seguiu a mesma linha do colega, de incorporar a IA no dia a dia dos processos do audiovisual como uma ferramenta de gestão. A executiva, entretanto, fez questão de destacar que a IA não pode fazer tudo sozinha e é necessária uma "supervisão humana" para que seja estabelecida uma relação de cocriação.

"Muita gente ainda é resistente, mas um dos principais usos que fazer da IA dentro da Transforma é quando olhamos para a gestão. Passamos a utilizar a IA para auxiliar na gestão de muitos projetos simultâneos e até transcrevendo uma reunião online automaticamente para gerar uma pauta. A IA passa a fazer a parte de alguns processos que poderiam parecer meio engessados e toda essa parte 'engessada' fazemos com a IA de forma natural e isso facilita no dia a dia. No desenvolvimento de projetos audiovisuais, a IA pode dar agilidade na pesquisa de audiência, de tendências e dados do que já funcionou ou não em outros projetos. Nós desenvolvemos agentes de IA para sistematizar todo esse método, mas utilizando esses agentes enquanto uma ferramenta. A IA criar sozinha não é a melhor forma, ela é uma excelente ferramenta de cocriação para apoiar o humano e ajudar a entender os processos. Ela não cria nada sozinha, nós que criamos", explicou.

Durante o painel, Laura Terra, co-fundadora da produtora BeeL Films, que trabalha sobretudo com o mercado publicitário, trouxe um exemplo prático de como a IA pode ser usada também de forma criativa, a pedido do próprio cliente, e reduzir custos e colaborar em uma questão de segurança.

Em um caso bastante específico, do mercado de joias, Terra explicou que utilizar a inteligência artificial para recriar as peças e joias foi uma maneira de diminuir o risco de transporte e ferramenta das peças, que muitas vezes chegam a custar mais de 50 vezes o valor envolvido em toda produção audiovisual daquela peça publicitária.

"Para diminuir o risco de segurança e transporte das joias, a ferramenta pode ser uma solução. Temos um cliente que diversas vezes já fizemos captações e há diversas particularidades para captar joias como questão de brilho, roubo, perda e utilização até de carros blindados. É um risco muito grande para o próprio cliente, mas superando o desafio inicial de deixar a joia extremamente real a partir de fotos profissionais que já havíamos captado, conseguimos reduzir o risco do transporte, entre outras coisas, e o custo caiu cerca de 60%", disse. "Mas também é importante destacar que brigamos com a IA porque ela foi projetada por outras pessoas que não são do audiovisual e não têm nossas referências. As respostas não vão bater com nossas ideias, então precisamos usar a IA como uma ferramenta que não vai responder prontamente porque não vai ter a qualidade exigida", completou concordando com seus colegas sobre o uso de IA para a criação.

Por fim, para fechar o debate sobre o uso da IA no audiovisual, Peralta expressou sua preocupação em relação a formação de público no futuro e a forma como os conteúdos vão ser consumidos, uma vez que o consumo de informações hoje em dia está cada vez mais ágil e acelerado, com vídeos extremamente curtos, por exemplo, tomando o lugar de produções mais longas e elaboradas.

"Nós fazemos pesquisas para desenvolver novas coisas e o cinema tem um formato muito bem estabelecido. Minha questão em relação ao futuro é o tipo de espectador que vamos encarar e quem são as pessoas que estão sendo munidas por informação hoje e como vão produzir isso de volta. A formação de público que estamos fazendo é baseada em algo mais volátil e mais raso. Minha preocupação com as gerações que estão vindo é que o consumo é raso e sem entendimento de início, meio e fim como conhecemos. Me preocupa entrarmos em uma disputa com ferramentas que automatizam a parte criativa e o público passe a não se importar, como nós nos importamos, com detalhes. Minha preocupação é que o público não ligue para essa construção e essa comunicação rápida, imediata e rasa possa causar uma ruptura na formação de audiência", encerrou.

O Portal Exibidor acompanhou in loco o seguinte painel durante a MAX 2025:

  • - IA: Como Encontrar Potencial em Meio ao Caos: Laura Terra; Ero; Cláudio Peralta; Dani Tolomei

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