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14 Março 2016 | Roberto Cunha

Downtown celebra 10 anos e revela segredos no RioContentMarket

Executivo da empresa comemora números obtidos na trajetória da distribuidora e prevê mais sucesso

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(Foto: Downtown)

Entrevistado pelo jornalista e crítico de cinema Pedro Butcher no segundo dia do RioContentMarket 2016, o CEO da Downtown Filmes Bruno Wainer abriu a sua apresentação com um filme promocional com os números impressionantes obtidos pela empresa nos últimos 10 anos, entre eles o fato de que a empresa distribuiu 86 filmes e com eles vendeu 80 milhões de ingressos, que representam quase 50% do total vendido nos cinemas brasileiros em 10 anos.



O vídeo revelou também que a posição dos filmes nacionais no ranking vai subindo na medida que os anos da empresa vão avançando. O Portal Exibidor estava lá e, abaixo, resume como foi o papo com o distribuidor. Veja como foi!

Seu passado não condena

Butcher deu um rápido panorama do começo da carreira de Wainer e perguntou como a experiência anterior na função de assistente de direção no set do clássico Bye Bye Brasil (1980) tinha ajudado na formação. “A Downtown só é o que é por conta dessa trajetória. Eu comecei minha carreira com o cinema nacional. Quando eu optei por me dedicar 100% ao cinema brasileiro, eu já tinha dentro de mim esse DNA.

De todas as influências que eu tive, Luís Carlos Barreto (produtor) foi a maior, sempre preocupado com a ocupação do mercado. Foi muito inspirador e essa obsessão que tenho até hoje devo muito a ele”, disse o executivo. Ao ser questionado sobre a possível falta de criatividade na distribuição, ele foi taxativo: “Eu exerço minha criatividade todo dia como distribuidor, desde a seleção dos projetos, na colaboração com os produtores para desenvolver juntos e torná-los mais competitivos”.

Seu passado não condena 2

Ao lembrar da passagem de Wainer como sócio da Lumiere, no início dos anos 1990, Butcher perguntou se nesse começo de tudo como distribuidor, se ele já sabia o que era, como aprendeu e a resposta não poderia ser mais esclarecedora e objetiva: “A função do distribuidor começa na escolha dos projetos e depois na colaboração junto ao produtor e diretor, para fazer com ele atinja o máximo do seu potencial. Ajuda no elenco, no desenvolvimento do roteiro, corte e aí sim fecha com chave de ouro ao criar a estratégia de lançamento e alcançar os resultados esperados. Essa é a função do distribuidor: é lá no início e não no final”.

Pequeno dicionário amoroso

Ao seguir com o papo sobre as experiências anteriores, outro relacionamento veio à tona, como o proveitoso acordo selado com a Miramax, maior distribuidora independente do mundo na época e propriedade dos famosos e polêmicos irmãos Weinstein. “Esse balanço explica o porquê de atingirmos esses resultados. Foram 15 anos como sócio da Lumiere, experiência incrível de trabalhar com o francês Marc Beauchamps, e um dos pontos fortes foi a aproximação com a Miramax. Foi possível conviver muito perto deles (irmãos Weinstein)”, disse Bruno.

E ele não pestanejou em revelar um detalhe curioso fruto dessa “relação”: “Obviamente, o modelo de atuação da Miramax é 100% inspirador do modelo da Downtown. Até a vinheta é inspirada neles, um estúdio pequeno, sem medo de pensar grande, adquirindo direitos de distribuição, coproduzindo, produzindo, brigando pelas primeiras posições. É isso que me inspira e é isso que eu sigo”.

De pernas pro ar

Ver os números positivos da empresa é animador, mas se engana quem pensa que foi fácil, mas ele lembra que lutou para melhorar as condições do setor da distribuição e levantou a bandeira de que a produção nacional deveria ser distribuído por empresas locais, uma vez que acreditava que a produção local jamais seria prioridade das majors.

“Aproveitei aquele momento para reivindicar para nós uma isonomia. Aos poucos, a política cinematográfica começou a entender a importância do distribuidor local”, contou. O Fundo Setorial foi fundamental para garantir a ele os projetos e obter os direitos de distribuição. Apesar de ter ainda fazer ressalvas ao fundo e considerar o Artigo 3º mais favorável financeiramente e menos burocrático para o distribuidor, Wainer prefere ver essa desvantagem para o distribuidor nacional de maneira otimista: “Vamos olhar o copo meio cheio e não meio vazio. Foi um grande avanço. E a comunidade cinematográfica tem que trabalhar cada vez mais para aperfeiçoar o mecanismo de financiamento”.

Cine-Hollywood X Cine-Brasil

Indagado sobre a decisão de transformar a Downtown em uma distribuidora exclusivamente dedicada ao filme brasileiro, o executivo não hesitou em revelar seu segredo. “Quando fundei a Downtown, a primeira estratégia foi reproduzir o que conheci na Lumiere de investir nos filmes estrangeiros e ficar de olho nas oportunidades do cinema brasileiro”.

Ele citou a disputa de market share da Miramax com os grandes estúdios e falou de maneira bem clara sobre a crise do cinema autoral, ali nos anos de 2002 e 2003. “O “império” rapidamente se organizou e contra-atacou. Eles compraram todo mundo. Miramax foi comprada pela Disney, New Line pela Warner e por aí foi. Abriram braços independentes e ainda foram no mercado comprar filmes que estavam sobrando. Eliminado o problema, fecharam todas as empresas. Não tinha mais fornecimento de filmes independentes competitivos”, disse.

O pulo do gato veio em 2006, quando ele já pensava em falência e percebeu as ações da ANCINE de estimular a produção independente. Ele viu esse espaço vago, de distribuidora voltada para o cinema nacional e caiu dentro. “Eu vi que eu tinha ali um espaço. Eu acho que tomei uma boa decisão”, concluiu.

De pernas pro ar 2

Questionado sobre a predominância da comédia na cinematografia atual, Bruno esclarece logo que embora o brasileiro goste de outros gêneros, e cita vários deles entre os 10 mais assistidos, a comédia se industrializou. “Esses gêneros são muito mais caros para se fazer. Comédia é barata, a mão de obra é altamente treinada e por isso entrou num ritmo industrial de produção”, avaliou ele, para logo em seguida avisar que tem em andamento uma série de projetos policiais, de ação, e outros gêneros.

“A gente está tentando corrigir isso. É preciso mexer um pouquinho na política de financiamento, para se conseguir orçamentos maiores. A busca pelo resultado é muito importante, mas do ponto de vista do Estado ela não pode ser como se fosse uma iniciativa privada. É preciso aumentar essa faixa para que esses filmes possam ser feitos”.

Não é qualquer gato vira-lata

Quando o entrevistador levantou a lebre sobre a eventual baixa qualidade das comédias, se era possível melhorar esse cenário, Wainer foi direto e desenhou um cenário otimista, mas diferente, para os defensores de filmes supostamente mais bem elaborados do ponto de vista estético etc. “As comédias são muito bem produzidas. O cinema “de qualidade” é voltado para um público mais adulto e perdeu espaço no mundo inteiro. Foi dominado pela garotada. Esse cinema dito “de qualidade” precisa descobrir um novo lugar. A gente tem que perder essa relação “sexual” com a tela de cinema. Tem que entender o potencial que se tem com o VOD. Eu acho que tem um mercado imenso para ser explorado, só que não no cinema, mas no tablet, computador, celular”, sentenciou.

Meu parceiro é uma peça

Ao responder as perguntas sobre parcerias, ele falou que são fundamentais e que a estratégia foi sempre acreditar em formá-las, como a feita com o Telecine, entre outras. Ele comentou também sobre os acordos existentes com as majors, como a Paramount, e a importante realizada com a Paris Filmes, de Márcio Fracarolli, muito elogiado por ele. “Dos 80 milhões que vendemos, 70 milhões foram resultado dessa união na distribuição. Começou em 2011 com De Pernas Pro Ar, quando eles investiram um Artigo 3º para o filme se viabilizar e fez o mesmo com Cilada.com. Os filmes deram certo, foram campeões naquele ano. No ano seguinte, ele me ofereceu E Aí, Comeu? e Até que a Sorte nos Separe. O êxito se repetiu. Foi quando descobrimos que juntos formávamos fornecedores constantes e poderosos”.

Os 15 lançamentos

Sem esconder a alegria de ter lançado seu grande título de 2016, Os Dez Mandamentos – O Filme, que já superou os 8 milhões de ingressos, Wainer se disse muito contente e esperançoso com o futuro da atividade. “Tenho certeza que daqui a 10 anos vamos estar aqui, comemorando números incríveis e momentos ainda mais fantásticos do audiovisual brasileiro”, finalizou.

A empresa tem um line-up considerável pela frente, por volta de 15 títulos, vários deles com potencial de bater, ao menos, a casa dos 2 milhões. Sem contar a sequência de Minha Mãe é uma Peça, que pode repetir o sucesso anterior.

Assista ao vídeo apresentado:

*Veja como foi o primeiro dia

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