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14 Junho 2019 | Renata Vomero

Instituto Britânico propõe colaboração com Brasil para garantir diversidade no setor

Profissionais do mercado comentaram os desafios e os caminhos para inclusão

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(Foto: Divulgação)

A conferência de Amanda Nevill do BFI (British Film Institute) durante o Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual, que aconteceu nesta quinta-feira (13), em São Paulo, deu lugar a um debate esquentado das profissionais do mercado brasileiro. Subiram ao palco para conversar com a executiva: Carolina Costa, Presidente da Comissão de Gênero, Raça e Diversidade da Ancine; Simoni de Mendonça, Presidente do Sindicato da Indústria Audiovisual de São Paulo; Jussara Locatelli, Representante do Fórum Audiovisual Minas Gerais, Espírito Santos e Sul; Lyara Oliveira, Representante da Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro; Alessandra Meleiro, Presidente do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual, e Renata Almeida, Diretora da Mostra Internacional de São Paulo. A conversa foi mediada pela jornalista Ana Paula Souza e ganhou o nome de “Diversidade e Inclusão: Como avançar?”.



Tendo como ponto de partida as iniciativas da BFI (British Film Institute), as profissionais trataram logo de comparar a realidade brasileira. “Temos muita dificuldade para convencer os políticos, já que eles mudam a cada dois anos. Então, tem acontecido tudo de maneira bastante devagar. Na televisão essa mudança teve efeito de forma mais ágil, principalmente na Globo”, comentou Jussara. Outra questão bastante abordada entre as participantes, foi a falta de representatividade negra entre os filmes do circuito no ano passado. Lyara abriu os olhos do público para a questão da não-presença de negros entre os realizadores. “Tivemos duas mulheres negras na história dirigindo exclusivamente longas-metragens, Adélia Sampaio e Camila Borges. Precisamos pensar em maneiras de aumentar a representação dessas mulheres tanto nas telas, quanto fora delas. O foco agora é o de equidade, para depois falarmos em igualdade”, revela a profissional.

A questão da capacitação é sempre um ponto focal nessa discussão, além da própria formação, as novas cineastas precisam se sentir encorajadas a entrar no mercado de trabalho. O que acontece é que o ingresso nos cursos da área é alto entre as mulheres, mas isso não se reflete depois da formação, muito por uma falta de referência e oportunidade. “Precisamos pegar esses estudos que estão sendo feitos e harmonizá-los, trabalhar em cima desses resultados. Além disso, é preciso pensar em desenvolver competências para o futuro, há a necessidade de capacitação para o setor”, revelou Alessandra Meleiro, que trouxe dados da Rio2C. Segundo ela, 70% dos participantes dos painéis eram homens, foram 43% das mesas compostas só por eles, inclusive. 11% dos debates foram realizados só por mulheres, sendo que em todos eles, o tema era justamente essa questão de gênero. Apenas 2% dos participantes eram negros.

Parte do debate foi relacionado a questão de cotas, já que muitas pessoas acreditam que elas não fazem sentido, ou só funcionam quando voltadas para a formação e produção. “Cota não tem sentido na curadoria de um festival, porque aí vai contra as próprias mulheres responsáveis pelos filmes escolhidos, já que muitas pessoas vão pensar: ‘ah, esse filme só foi escolhido por causa da cota’. Acho importante criar uma comissão de seleção que seja diversa e isso vai se refletir na escolha dos filmes”. Renata explicou que boa parte dos filmes ganhadores das mostras competitivas, mesmo sendo a minoria, foram vitoriosos e ganharam boa visibilidade. “A gente tem que continuar a luta, mas temos que celebrar nossas conquistas. Temos muitas produtoras mulheres e temos muito poder, mas não nos damos conta. Não podemos esquecer disso!”, comentou Almeida.

Já Amanda Nevill comentou não acreditar muito nas cotas, porque “elas são uma obrigação, acredito mais na criação de targets, que são objetivos que devem ser alinhados, eles acabam tendo maior eficácia na mudança de comportamento”, explicou. Carolina Costa discorda, “não é algo que se usa para bonificar pessoas sem mérito, não adianta entregar conteúdo diversificado para os programadores, eles ainda não acham interessante, em sua maioria, então, é preciso ter um sistema que ajude a colocar esses conteúdos no ar ou nos cinemas”, explicou.

Renata, então, preferiu defender sua posição quanto curadora de uma mostra, “acredito nas cotas durante todo o processo, mas não para a seleção dos filmes. Se o filme for bom vai chegar na gente de qualquer maneira, se não chega é porque não existem, não estão sendo produzidos, então, precisa mexer no começo dessa cadeia”, comentou. O comentário da curadora gerou reações, tanto entre as profissionais no palco, quanto entre as mulheres na plateia. “Os filmes existem e seus realizadores também, os curadores precisam reconhecer o papel deles de criar a demanda. Porque se quebrar alguma parte dessa corrente, não vai dar certo, todo o trabalho será jogado fora”, enfatizou Costa.

Na finalização da conversa, Amanda pediu a palavra para fazer uma proposta inédita: fazer uma parceria com a Ancine para que a os Standars, criados pela BFI para garantir diversidade nas equipes e produções, sejam absorvidos pela agência. Segundo a executiva, “nunca antes fizemos algo desse tipo fora do Reino Unido, então, gostaria de propor essa colaboração com o Brasil”, finalizou. Débora Ivanov, que estava na plateia, concordou com a parceria, que foi recebida sob aplausos do público.

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