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Artigo / Educação

30 Junho 2020

Universidade pública e Audiovisual no Brasil

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Os cursos de cinema em universidades públicas brasileiras surgiram na década de 60. O primeiro foi criado na Universidade de Brasília (UNB) em 1965 e posteriormente na Universidade de São Paulo (USP) em 1967, tendo como principal fomentador dessa implantação o professor e crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes. Posteriormente, outras instituições de ensino superior estaduais e federais incorporaram Cinema e Audiovisual em suas ofertas de cursos chegando hoje a um total de 26 graduações lotadas em universidades públicas nas cinco regiões brasileiras. O mais recente curso criado foi o bacharelado em Audiovisual da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul/UFMS (centro-oeste), formalizado com abertura de vagas em 2018. No entanto, dos 118 cursos existentes no país (26 públicos e 92 privados), 70% encontram-se nas regiões sudeste e sul (cf. FORCINE).



Em 2007, as universidades públicas brasileiras foram ampliadas, e consequentemente os cursos de Cinema e Audiovisual, por meio da ação de política pública de acesso à educação superior denominada “Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais Brasileiras (REUNI)” que alcançou desde o extremo sul do país até o extremo norte. O REUNI somado ao Sistema de Seleção Unificada (SISU), que oferta vagas aos participantes do ENEM, são dois marcos importantes para a descentralização da Educação e Cultura. Observamos, portanto, que o ensino superior público se popularizou e se diversificou, tanto em corpo discente, quanto em corpo docente e técnicos administrativos. O perfil dos estudantes mudou. A universidade pública não é composta predominantemente pela elite econômica branca do país, ou por estudantes advindos de escolas privadas. Os marcadores sociais de raça, gênero e renda foram reconfigurados e houve uma transformação radical deixando a universidade pública mais acessível a todas e todos. Por isso, os cursos de Cinema e Audiovisual também ganharam diversidade. Estudantes e egressos têm produzido e provocado outras imagens, outros modos de narrar, outros gestos, outras fruições, porque são diversos em seus perfis socioeconômicos, culturais, regionais, e porque também têm o direito de contar histórias. Ações narrativas que vão da experimentação artística à integração na cadeia econômica do setor.

A histórica produção universitária, desde o período ditatorial, renovou e continua renovando o pensar-fazer audiovisual no país. Além de conhecerem e produzirem sobre a diversidade de gêneros e formatos dessa linguagem, esses estudantes vêm sendo reconhecidos em festivais importantes, com premiações e destaques às obras produzidas em suas universidades, tais como: “Café com Canela” (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/UFRB), “A besta pop” (Universidade Federal do Pará/UFPA), “Era para ser nosso road movie” (Universidade Federal de Sergipe/UFS), “A estranha velha que enforcava cachorros” (Universidade do Estado do Amazonas/UEA), “O encontro com outro” (Universidade Estadual de Goiás/UEG), “Atenção: isso pode ser um poema” (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB), “Até 10” (Universidade Federal de Pernambuco/UFPE), “O cego da casa amarela” (Instituto Federal de Goiás/IFG), “Lição de esqui” (Universidade Federal do Ceará/UFC), “Estrangeiro” (Universidade Federal da Paraíba/UFPB), “Sesmaria” (Universidade Federal de Pelotas/UFPEL), “Clube Stalker” (Universidade Federal da Integração Latino-Americana/UNILA), “Controvérsias” (Universidade Federal do Mato Grosso/UFMT), entre tantos outros.

Esse panorama diversificado de produções audiovisuais é gigante e muitas vezes não chega ao conhecimento do mercado nem da população brasileira em geral. Por isso, alguns estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF) organizaram e mantém um canal no YouTube denominado Canal Curto com objetivo de distribuição de filmes universitários que pouco circulam além dos festivais. Outra ação de exibição é o programa Campus em Ação da TV Cultura que apresenta produções audiovisuais de graduandos e pós-graduandos.

Ao observar cuidadosamente a vasta produção universitária e a capilaridade das 24 universidades públicas presentes em todas as regiões brasileiras com seus perfis diversos de alunos e suas potencialidades profissionais, percebemos que temos um compromisso de apoio e fomento a estes espaços de conhecimento. Também entendemos que é nesse universo precarizado devido a orçamentos insuficientes, que devemos continuar a investir por meio de parcerias interinstitucionais ou por meio de novos projetos de ensino, extensão e pesquisa, sempre indissociáveis entre teoria e prática, criando outros modos de circulação das produções, e talvez criando novos cursos de especialização em áreas profissionais que hoje são consideradas gargalos de currículos e de formação como: produção, políticas públicas, distribuição e exibição, economia e negócios, entre outras.

E, por fim, é importante destacar que além dos cursos específicos, o Audiovisual está presente em outros cursos superiores como os de cultura, artes visuais, artes cênicas, educação e ciências sociais, para citar alguns. Portanto, a relação com o audiovisual é expressiva nas universidades públicas, instituições-janelas importantíssimas principalmente num contexto de constantes ataques às políticas e instituições.

Carla Rabelo
Carla Rabelo

Professora Adjunta do bacharelado em Produção e Política Cultural da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Doutora e Mestra pelo PPGCOM/ECA/USP. Integra os comitês editoriais das revistas Imagofagia e Cadernos Forcine. Foi docente de Linguagem do Cinema e Audiovisual na UNIMONTE, FIAM-FAAM/FMU e UNINOVE. Trabalhou como assessora institucional e coordenadora de projetos no Centro Cultural São Paulo (CCSP/SMC-SP). Atuou na área de produção audiovisual na TV Cidade de Aracaju (SE).

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