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Artigo / Audiovisual

25 Fevereiro 2021

Produzir é preciso!

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Não, este título não se refere à frase do grande Fernando Pessoa, discorrendo sobre as incertezas da vida e a precisão da navegação.



Me refiro ao sentido bem mais simples, de que produzir é preciso, é necessário, é vital!

A pandemia tem afetado todas as atividades e pessoas e especialmente as ligadas às atividades da produção e distribuição de entretenimento audiovisual.

O destaque continua sendo a tal guerra do streaming, onde empresas gigantes ou nem tanto lutam neste momento por estabelecer sues domínios, guiados pela busca do maior número possível de assinantes ou consumidores. Estão aí os quase 200 milhões de clientes da Netflix, ou os 230 milhões ou mais almejados pela Disney+ para os próximos anos.

Esses números impressionantes, e as manchetes que geram nos veículos de comunicação e nas redes sociais, encobrem uma realidade que está cada vez mais clara: o grande volume de produções e a enorme diversidade das produções sendo planejadas e executadas mundo afora.

Ao anunciar o lançamento de pelo menos 70 produções originais neste ano, a Netflix deixa claro que volume sim importa; que o número de produções, além da qualidade, importa muito para manter a sua base de clientes alerta e atenta às novidades. Ao ritmo de mais de um lançamento por semana, sempre há notícias e reações sobre essas produções, mantendo o brand awareness em altos níveis. Faz parte do marketing bem feito que a empresa tem executado.

Todos os demais produtores e distribuidores sabem também que volume é importante neste momento, e correm para também manter o seu calendário de lançamentos e a sua impressão positiva nos consumidores.

Ao fim e ao cabo, há no momento uma demanda expressiva por produções, e essa demanda gera uma oportunidade incrível para todos os realizadores, e em especial pode ser uma oportunidade para o setor brasileiro de produção.

Não vou mencionar aqui os percalços e perrengues que os produtores brasileiros têm enfrentado, especialmente nos últimos anos. Muito já foi dito a respeito e estamos todos cientes da mediocridade reinante nos organismos e ferramentas de incentivo à produção. Como diria o Elio Gaspari, isso é jogo jogado.

O que importa agora é que há uma forte demanda por produções, de todos os tipos, tamanhos e orçamentos, e essa demanda já está sendo aproveitada por produtores espanhóis, franceses, alemães, argentinos, coreanos, chineses, australianos, e muitos outros, que colocam seus materiais nas diversas mídias e mostram ângulos diversos de estórias, de valores, de paisagens, de personagens. Com isso, a audiência mundial vai se acostumando a ver e a gostar de tipos, falas, expressões, padrões de produção e maneiras de contar estórias diferentes do padrão vigente ate então.

Narrativas originais, fluxo das estórias, diálogos não-usuais, desfechos inesperados e ângulos totalmente novos estão sendo executados e estão agradando o público, provando que que há sim muitas estórias interessantes a serem contadas.

O Brasil conta com grandes roteiristas, produtores, cineastas, realizadores, artistas, diretores, mas ainda não conseguiu explorar internacionalmente outros segmentos além das comédias e de alguns filmes de ação. Há exceções, mas não há um padrão de produções brasileiras que possa gerar uma percepção como a que temos das produções argentinas, por exemplo, construídas com excelentes roteiros, atuações na medida e geralmente baixo orçamento.

 Pelo tamanho do mercado brasileiro e pela língua que falamos, temos a impressão de que basta se a produção fizer sucesso por aqui.

Essa percepção é enganosa.

Se quisermos estabelecer um padrão de qualidade, mostrando a competência dos profissionais do mercado de produção e distribuição de conteúdo audiovisual brasileiro para o mundo, a hora é agora.

O mundo nunca esteve tão aberto a descobrir padrões estéticos, diálogos, imagens e locações tão diversas quanto agora. Das geleiras do Alasca ao deserto da Namíbia, todas as origens e todos os ambientes estão sendo mostrados. Todos os padrões culturais, todas as cores, gêneros, motivações e tradições estão sendo mostrados, e isso é excepcional para abrir os mercados ao gosto e aos padrões de produções brasileiros.

Sem pieguice, o Brasil tem um alto padrão de imagens, com talento e grandes atuações. Temos um alto nível geral de produção, criado e elevado pelas excelentes produções da Globo durante décadas, e esse padrão pode exportado para o mundo.

Mesmo em um cenário de dificuldades de orçamento, câmbio desfavorável, baixo acesso a capital para investimento em produções locais, e muitos outros obstáculos, este é o momento de a produção brasileira seguir em frente, encontrando formas de financiamento, montando parcerias e modelos de desenvolvimento que ajudem a melhorar os modelos existentes, investindo em roteiros e narrativas diversas, explorando novos formatos e padrões de produção.

Deste momento de grandes alterações na forma de consumir e distribuir produções audiovisuais surgirão novos padrões de produção, de roteiros, na dramaturgia, e é o momento preciso para um avanço da produção brasileira, sem sentimentalismos e menos ainda sem paralisia frente às dificuldades.

Não é fácil, claro, como nunca foi, mas a oportunidade de uma geração está aí, e cabe a todos nós, atuantes neste mercado, ajudarmos a encontrar um caminho de potencial futuro para a produção brasileira.

É preciso produzir!

Marcos Oliveira
Marcos Oliveira

Marcos Oliveira é Consultor Especial do setor de Produção e Distribuição de Conteúdo Audiovisual, através de sua empresa Leverá Conteúdo e Negócios, que atua em desenvolvimento de projetos, captação, distribuição e consultoria. Sua carreira profissional inclui atividades em posições de liderança em empresas como Johnson & Johnson, Twentieth Century Fox Brasil e Austrália, Warner Bros e Universal Pictures.

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