Exibidor

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Artigo / Pós-produção

10 Março 2021

Um trabalho cuidadoso e fiel

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O espectador que assiste a um filme vê uma obra terminada.  Como tudo que retira da loja pronto para ser usado ou consumido, desconhece o longo caminho que existe entre a ideia original e o filme sendo projetado.

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Um filme resulta de um processo realmente longo e complexo, envolve várias empresas e profissionais especialistas em diversas áreas com muitas etapas. Isto acontece em sucessivas tarefas e empresas diferentes, seguindo dois caminhos paralelos, um para o som e outro para a imagem. Incluído nesse longo caminho de preparação, há na fase criativa uma culminação crítica, na qual se irá dar a forma definitiva à obra, tanto no som como na imagem. A etapa definitiva do som é a mixagem final. Ali o som será conformado de acordo com a intenção do diretor, mixador e do desenhador. Na imagem, o toque definitivo será com o diretor e o diretor de fotografia, conferindo e modificando a imagem. 

Mas estes processos só fazem sentido se som e imagem chegam ao espectador da mesma maneira como os criadores os conceberam, sem ser deturpados. Para isto é obviamente necessário ver e ouvir o mesmo tanto no estúdio de mixagem do som e na sala de correção de cor, como nas salas dos cinemas. Unicamente assim será garantido que o espectador verá e ouvirá o mesmo que viram e ouviram os criadores e que refletirão as suas intenções. E para este objetivo foram inventados os padrões. Estúdios e cinemas devem seguir os mesmos padrões. Imagine como exemplo, uma galeria de arte onde os quadros são pobremente iluminados ou com luzes que deturpam as cores. O artista que os criou no atelier ou ao ar livre não se sentiria feliz com o que acontece com suas pinturas nesse lugar. 

Para fazer esta fidelidade possível, os profissionais que produzem cinema precisam trabalhar em ambientes controlados. Ouvir e ver o que será registrado e projetado. 

Mas o que significa ambiente controlado? No caso do som, o estúdio precisa ser uma cópia de um cinema, já que por causa da acústica até o tamanho deve ser o suficientemente grande para criar as mesmas condições que uma sala média convencional, e seu sistema de som ser calibrado seguindo um padrão bem definido, universal. No caso da imagem, o sistema de projeção ou exibição precisa ser rigorosamente calibrado para que as cores e nível de iluminação sejam reproduzidas segundo um padrão muito rigoroso. É com esses sistemas calibrados que será possível avaliar e assim ter verdadeiro controle para dar forma ao conteúdo. 

Ou seja, existe uma relação muito bem definida entre conteúdo e como ele é apresentado. Essa relação é o padrão. As tarefas de calibrar som em estúdio de mixagem e imagem na sala de correção de cor são feitas com instrumental, que por sua vez, precisam ser aferidos cuidadosamente.  

O outro lado da linha são as salas de cinema, e aqui entra a tarefa do exibidor. Para completar o ciclo e que o conteúdo chegue em forma fiel ao espectador tal como foi concebido, é importantíssimo que as salas estejam calibradas seguindo os padrões universais para som e imagem, os mesmos seguidos pelos estúdios de produção. Essa calibração só pode ser realizada com instrumental aferido e por um profissional, tanto no som como na imagem. 

Os principais aspectos do padrão de som estão relacionados com a equalização de cada canal e seu nível, o correto mapeamento deles e o sincronismo com a imagem. Esta por sua vez tem como principais elementos o correto balance de cores e nível de iluminação, foco e enquadramento. 

Não basta fazer a regulagem inicial do sistema. É necessário mantê-lo fazendo uma revisão periódica. Os equipamentos são relativamente estáveis, mas o tempo faz seu trabalho. Existem trailers de testes rápidos de som e imagem, subjetivos, chamados “jiffy” para avaliar se existe algum problema grave.  Basta rodar e assistir com atenção. Olhos e ouvidos são os únicos instrumentos necessários para este tipo de verificação.  Mas o pente fino com instrumental não deve ser negligenciado, e é recomendável pelo menos fazer uma verificação anual.  

No meio do caminho, mas igualmente importante e crítico é que o conteúdo seja distribuído sem ser alterado. Há outros fatores que podem afetar a fidelidade entre intenção e exibição.  São fatores técnicos, e para que o conteúdo seja distribuído exatamente como foi criado, as operações de finalização se encerram com o chamado masterizado. Aqui, são feitas transcrições rigorosamente controladas para os formatos requeridos pela mídia de distribuição, e efetuado o controle de qualidade final. Nos tempos de filme de 35 mm, esta era uma tarefa técnica extremamente difícil, especialmente para manter a consistência entre cópias por causa da complexidade do processo fotoquímico. O mundo digital facilitou enormemente esta tarefa, já que essencialmente copiamos listas organizadas de números que chamamos de arquivos, e computadores sabem muito bem lidar com isso.  

Cinema é um negócio onde o sucesso depende também de que o conteúdo chegue ao espectador bem fresquinho e cheiroso, igual que croissant de manhã. Exibidores tem um enorme papel nisso.  

Carlos Klachquin
Carlos Klachquin | CBK@dolby.com

Carlos Klachquin é gerente da DBM Cinema Ltda, empresa de serviços, projetos e consultoria na área de produção e exibição cinematográfica. Formado como engenheiro eletrônico fornece suporte de engenharia em tecnologias de áudio, entre outras empresas, para Dolby Laboratories Inc, sendo responsável também pela administração de operações vinculadas à produção Dolby de cinema e ao licenciamento das mesmas na América Latina. Desde 2013, trabalha na implementação do programa Dolby Atmos na América Latina, incluindo a supervisão da instalação e a regulagem dos sistemas em cinemas e estúdios e da produção de som Atmos no Brasil.

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