Exibidor

Publicidade

Artigo / Diversidade

16 Abril 2021

Mulheres no Audiovisual: a pioneira do cinema peruano María Isabel Sánchez Concha

Compartilhe:

A primeira mulher a trabalhar no cinema peruano foi María Isabel Sánchez Concha Aramburú* (1889-1977) nos anos 10. Escritora, jornalista, roteirista e diretora, ela fez o argumento do filme Del Manicomio al Matrimonio (1913), o segundo filme de ficção do Peru. Muito conhecida no âmbito da literatura pelos pseudônimos de Belsarima e Marisabidilla (formas invertidas de seus nomes de solteira e de casada), a limenha de Barranco, distrito de artistas, intelectuais e boêmios, foi uma escritora importante na cena cultural do Peru com personalidade e escrita peculiarmente ousadas para a época. Além do filme, sua obra ficcional literária destacada é Crónica Limeña, que aborda aspectos da vida cotidiana no distrito de Miraflores. Sempre muito atenta ao contexto e à classe social abastada em que estava inserida.



 

Nos inícios do século XX, uma proposta de indústria cinematográfica peruana começava a se formar financiando o trabalho de profissionais que vinham também do teatro limenho. Cabe ressaltar que a configuração de indústria nunca perdurou no Peru, tendo seus altos e baixos de produção até os dias atuais. Mas nos anos 10 existiam produtoras e distribuidoras cinematográficas que operavam no Peru com empenho, como a distribuidora Compañía Internacional Cinematográfica que produziu, por meio de Juan Armengol, o primeiro filme de Sánchez Concha, e também contratou o fotógrafo francês Fernando Lund para fazer a filmagem. A direção do filme Del Manicomio al Matrimonio (1913) costuma ser atribuída a Lund, embora não se tenha divulgado ainda um rastro comprobatório ou uma fonte histórica que demonstre essa autoria. Há relatos não acadêmicos ou científicos que também atribuem à María Isabel Sanchez Concha o trabalho de direção do filme que teve sucesso em sua exibição em 11 de julho de 1913, no Teatro Municipal, num encontro curiosamente organizado por mulheres. Se futuramente confirmada a direção do filme, ela seria então a primeira diretora de cinema do Peru. Uma pioneira do cinema peruano em duas funções: roteirista e possivelmente diretora.

 

Além do filme de 1913, há registros de sua participação no destemido projeto documental “El Perú ante el mundo. El film de La Prensa”, de 1924. Um trabalho cinematográfico de difusão do Peru comandado pelo jornal La Prensa. Segundo Ricardo Bedoya (2013, p. 157 - tradução nossa), em seu livro El cine silente en el Perú, o projeto contemplava a fusão de documentários com situações ficcionais como o filme-episódio “El Perú ante el mundo”, de 02 de janeiro de 1925, dirigido por María Isabel Sánchez Concha de Pinilla (com adição do sobrenome de seu esposo, o cônsul espanhol Antonio Pinilla Rimbaud). O registro histórico que confirma a diretora do filme encontra-se no jornal La Prensa de 02 de janeiro de 1925, e inclusive faz menção a alguns elementos narrativos escolhidos para as filmagens como: a adoração ao sol com referência aos rituais do Império Inca, e as celebrações bolivarianas de 1824. Alguns episódios do filme, como o de Sánchez Concha, chegaram a ser exibidos previamente em Buenos Aires (Argentina) nos inícios de 1925.   

 

Assim, demonstramos que María Isabel Sanchez Concha é pioneira do cinema peruano. Mas como é de costume nas histórias dos cinemas de mulheres em contexto de capitalismo patriarcal, há evidências de apagamento e silenciamento da contribuição de muitas mulheres. Algumas informações, creditações e fontes carecem de evidências sobre aspectos importantes de suas histórias. Esses rastros históricos nos convidam a pensar sobre algo maior, sobre como muitas mulheres padecem com as diversas imprecisões, que obviamente sempre podem ser revisadas por meio de pesquisas. Revisar e refundar histórias é o caminho.

 

*Para construção deste texto, revisamos algumas publicações acadêmicas que registraram a atuação de María Isabel Sánchez Concha no cinema (em ordem cronológica - 1992/2017):

  • BEDOYA, Ricardo. 100 Años de cine en el Perú: una historia crítica. Lima: Universidad de Lima e Instituto de Cooperación Iberoamericana, 1992.
  • BEDOYA, Ricardo. Un cine reencontrado: diccionario ilustrado de las películas peruanas. Fondo de Desarrollo Editorial Universidad de Lima, 1997.
  • RECOBA, Martina Vinatea. Mujeres escritoras en el virreinato peruano durante los siglos XVI y XVII. Histórica, v. 32, n. 1, p. 147-160, 2008.
  • LUCIONI, Mario; NÚÑEZ, Irela. "Maria Isabel Sánchez Concha Aramburú." In Jane Gaines, Radha Vatsal, and Monica Dall’Asta, eds. Women Film Pioneers Project. New York, NY: Columbia University Libraries, 2013.
  • GORRITTI, Violeta Núñez. El cortometraje documental peruano 1972-1980. imagofagia, n. 12, 2015.
  • BEDOYA, Ricardo. El cine silente en el Perú. Fondo editorial Universidad de Lima, 2017.
  • GUARDIA, Sara Beatriz. Mujeres de la Revista Amauta. Transgrediendo el monólogo masculino. Utopía y Praxis Latinoamericana, v. 22, n. 77, p. 37-46, 2017.

Carla Rabelo
Carla Rabelo

Professora Adjunta do bacharelado em Produção e Política Cultural da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Doutora e Mestra pelo PPGCOM/ECA/USP. Integra os comitês editoriais das revistas Imagofagia e Cadernos Forcine. Foi docente de Linguagem do Cinema e Audiovisual na UNIMONTE, FIAM-FAAM/FMU e UNINOVE. Trabalhou como assessora institucional e coordenadora de projetos no Centro Cultural São Paulo (CCSP/SMC-SP). Atuou na área de produção audiovisual na TV Cidade de Aracaju (SE).

Compartilhe: