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Artigo / Tendências & Tecnologia

02 Setembro 2021

Telas e projetores terão um dia final?

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Desde que cinema é cinema tela e projetor sempre foram o ponto de partida. Em 1893, dois anos antes das primeiras projeções dos irmãos Lumière em Paris, Edison tentou emplacar o “kinetoscópio”, um dispositivo para visão individual com habilitação por moedas que davam direito a assistir um clipe por um pequeno visor. Uma espécie de caça níquel, e o próprio Edison produzia os clipes da ordem de um minuto, com simples cenas ou vistas. Durante um período breve, se instalaram algumas galerias com estas máquinas. Na visão comercial do inventor, a exibição individual era a essência do negócio. Mas “lanternas mágicas” já eram bem conhecidas, projetando transparências estáticas em muros ou telas, e não demorou para que alguns dos seus clientes pedissem que adaptasse o sistema de kinetoscópio para projeção. Edison recusou de imediato esta ideia, segundo conta o seu cliente Norman Raff, da Kinetoscope Company:

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“Não. Se fizermos esta máquina com tela que você está pedindo, iremos estragar tudo. Estamos construindo estas máquinas individuais, vendendo muito bem e com bons lucros. Se começarmos a vender máquinas para projetar, tal vez vendamos dez nos Estados Unidos, e com isso logo mostrarão os filmes para todo mundo, e o negócio terá acabado. Não vamos matar o ganso dos ovos de ouro. “

Mas mercado é mercado e o kinetoskópio não durou muito, e desde 1895 até agora projetamos sobre telas, e o negócio não parece ser ruim, mesmo com televisão preto e branco, colorida, com VHS, com DVD, Bluray e streaming. A pandemia colocou a exibição numa situação especial, mas é isso, uma situação especial. Não vai durar para sempre, embora vai produzir algumas mudanças. Mas cinema é um fenómeno social, uma experiência diferente, e não iremos renunciar a ela.

Se bem Edison errou de forma espetacular no modelo do negócio, tecnicamente deixou uma marca que durou até o fim da película, na última década. O kinetoscópio funcionava com filme, e já nasceu com bitola de 35 mm. e com as quatro perfurações por fotograma. Continuamos utilizando esse padrão até o fim do formato, mais de 120 anos depois, quando mudamos para o sistema digital. A partir desse momento revolucionário, as mudanças tecnológicas se aceleraram, embora continuamos projetando sobre telas. Mas aqui entra uma nova história.   

Pouco tempo antes da pandemia, foi apresentado o sistema de telas modulares de leds, com resultados espetaculares na imagem, já contando com definição em 4 K e “High dynamic range” que consegue níveis de brilho até dez vezes maiores que os que conseguimos com projetores, e negros praticamente absolutos. Ou seja, uma relação de contraste infinita em termos práticos. Naturalmente, este sistema modular de painéis de LED dispensa o projetor e a tela de tecido. O conceito é similar as utilizado nas TV´s domésticas, mas a implementação tem diferenças.

Será que esta tecnologia irá se converter no padrão? É muito difícil prever. Como tudo, tem prós e contras. A favor, a alta resolução e o contraste, embora segundo alguns críticos a percepção mude em alguns aspectos em relação à projeção convencional.  A passagem de película para o digital mudou muito mais esta percepção, e o público a aceitou.  Outra vantagem é que a cabine ou cápsula onde colocamos o projetor não é mais necessária, e nesse espaço podemos colocar mais poltronas, para alegria dos exibidores.

Mas nem tudo é vantagem. O custo por enquanto resulta extremadamente alto, mas isto cabe esperar com uma tecnologia nova, e a economia de escala no futuro pode fazer o preço ficar competitivo com a projeção. Um outro problema e bastante difícil de resolver, é o som dos canais da tela. No cinema projetado, estes canais são reproduzidos por caixas de som instalados por trás da tela com regras bem precisas, para que imagem e som combinem na localização.

A interposição da tela entre as caixas e audiência não atenua muito o som nem este fica abafado graças a diminutas perfurações na tela que o transmitem com bastante eficiência. A tela é bem fina e naquelas de boa qualidade as perfurações não são simples perfurações, elas têm um perfil especial que ajuda a passar o som com um mínimo de perdas, e a equalização do som faz o resto.  Mas no sistema modular de LEDs não é possível fazer isto. Caixas de som não podem ser colocadas por trás dos módulos, já que formam uma parede sólida. Assim, é preciso colocá-las em outro lugar, fora da tela, e não estarão na posição adequada para fazer coincidir som e imagem. Num sistema doméstico esta é uma solução aceitável, mas nas não nas salas de cinema, por causa da amplitude do ângulo com que vemos a tela.  Existem algumas inovações que tentam resolver este problema, mas até agora os resultados são polémicos, ou ineficientes. Não é um problema fácil de resolver. A tela é onde acontece a ação e estes canais são críticos.

O tempo e a engenhosidade tal vez resolvam. E o mercado irá decidir.

Carlos Klachquin
Carlos Klachquin | CBK@dolby.com

Carlos Klachquin é gerente da DBM Cinema Ltda, empresa de serviços, projetos e consultoria na área de produção e exibição cinematográfica. Formado como engenheiro eletrônico fornece suporte de engenharia em tecnologias de áudio, entre outras empresas, para Dolby Laboratories Inc, sendo responsável também pela administração de operações vinculadas à produção Dolby de cinema e ao licenciamento das mesmas na América Latina. Desde 2013, trabalha na implementação do programa Dolby Atmos na América Latina, incluindo a supervisão da instalação e a regulagem dos sistemas em cinemas e estúdios e da produção de som Atmos no Brasil.

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