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Artigo / Ensino & Formação Audiovisual

09 Setembro 2021

O que que é o Cinema tem?

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Maestria ao contar boas histórias e a capacidade de mudar o mundo.

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O cinema nacional, em especial tem, o que o neurocientista Sidarta Ribeiro decodifica como profusão de sonhos, que, cada vez mais, se concretizam graças ao trabalho conjunto do mercado cinematográfico: resistente, determinado e unificado. 

Ao explicitar a realização das produções nacionais com parceiras internacionais,  a metáfora sensível do imaginário  transmite o real poder dos meios de comunicação: unificar quebrando barreiras de  modo abrangente, respeitando olhares múltiplos e valorizando a estrela de cada espaço. A maneira transcendente  que o cinema brasileiro tem de improvisar soluções para situações complexas, democratiza o acesso de nossa arte para o mundo, mesmo quando enfrentamos o luto de catástrofes  flamejantes que tentam apagar nossa história.

O mercado nacional é um exemplo de cooperação, resiliência e subversão,  ocupando  seu devido lugar distante das cinzas e ao lado do sol.  O cinema nacional tem alma que emociona o mundo, a forma brasileira de protagonizar histórias desperta desejo aos olhos do expectador esbanjando linguagens e colorindo telas. As produções nacionais carregam um tempero fundamental para o circuito mundial.  O cinema brasileiro tem autenticidade e, através das co-produções e da ampliação das traduções, elenco e direção, transmite para um público maior, histórias capazes de ressignificar o mundo.

O cinema nacional democrático transmite a possibilidade global de repensar seus valores e buscar , talvez,  a  iluminação em tempos tão sombrios.

"Abe", longa nacional,  produzido pela Spray Content e Gullane em 2019, distribuído e exportado pela Paris Filmes e F.J Productions , recém lançado nos cinemas de São Paulo na primeira semana de Agosto, conta história de Lameece Issac e Jacob Kader, roteiristas palestinos, aos olhos do diretor brasileiro Fernando Grostein Andrade e estrelado  por Noah Schnapp (“Stranger Things” e “Ponte dos Espiões”) e Seu Jorge (“Cidade de Deus” e “A Vida Marinha com Steve Zissou”). O filme transborda sabores e brasilidades em língua estrangeira tornando democrática a repercussão do repertório artístico estético nacional para outras culturas que carecem desse tipo de deleite na filmografia do circuito mundial.

Transcender as barreiras através da cultura é um nobre caminho para o futuro da nossa história. Se as pessoas não sonham, não veem futuro e parece ser por meio  cinema, cada vez mais,  o tornar possível a mágica experiência de sonhar acordado e despertar coletivamente.

Nesse momento e em tantos outros o cinema Nacional  eleva os olhos do mundo para contemplar sabores oriundos de culturas diferentes e essências tribais convergentes.

Abe, com toda elegância do cinema nacional, transmite:  a complexidade dos afetos no século XXI, o desencaixe de um self que não mais almeja anular suas particularidades para se adequar às tradições. E que, honrando suas origens, todas elas, respeita e segue seu próprio curso na metamorfose da autenticidade,  parcimônia, delicadeza  e unificação. Valores sólidos que em tempos líquidos vezes afundam no descontentamento daqueles que preferem dormir sem sonhar.

“Alguns meninos gostam de carros, roupas caras, selfies e dinheiro, mas ele descobriu  que gosta de cozinhar. E com tempero do chefe Chico Catuaba, ele aprenderá a misturar sabores para unir sua família dividida pela religião.” Paris Filmes.

No livro O Oráculo da Noite: a História e a Ciência do Sonho, Sidarta defende que os sonhos funcionam como oráculos que podem nos ajudar a tomar decisões com mais sabedoria nas relações e na vida, a psicanálise também, mas o cinema, para além das janelas dos sonhos possibilita a expansão desse processo para a realização dos desejos ocultos dos indivíduos, libertando-nos da culpa, da xenofobia para conviver em maior “harmonia”.

O cinema não é a paz mundial, mas é inegável  sua  abertura  de caminhos para alma dos sujeitos que almejam diversidade. 

O cinema nacional tem: “o jeitinho brasileiro” (refiro- me a expressão utilizada à noção de criatividade) de mudar o mundo com o seu tempero.  Ainda bem! E como tem…

Ana Júlia Ribeiro
Ana Júlia Ribeiro

Ana Júlia Ribeiro é apresentadora; Mestre de Cerimônias da Expocine; Professora de Teorias da Comunicação e Direção de Atores e Apresentadores nos cursos de Cinema, Jornalismo, Relações Públicas, Rádio e Televisão e Produção Audiovisual da FAAP; Membro e Pesquisadora do Complexus - Núcleo de Estudos da Complexidade de Edgard de Assis Carvalho. Possui Bacharelado em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV e mestrado em Ciências Sociais - PUC - SP.

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