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Artigo / Tendências & Mercado

16 Fevereiro 2022

And the Oscar goes to...

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A lista do Oscar para este ano nas categorias de “Melhor Filme”, “Melhor Direção”, “Melhor Roteiro Original” e “Melhor Roteiro Adaptado” traz respectivamente 01 diretora cis, 03 diretores homens cis não brancos entre 10 concorrentes a melhor filme; 01 diretora cis, 01 diretor homem cis não branco entre 05 concorrentes a melhor direção; roteiristas de roteiros originais são todos homens cis brancos, já no adaptado, pelo menos 03 filmes contam com mulheres cis e 01 com roteiristas homens cis não brancos (Drive My Car são 02 roteiristas assinando).

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Antes de atacar os Academy Awards talvez seja melhor também dar alguns passos para trás. O Oscar vem num esforço crescente de trazer mais diversidade com objetivos e metas claras, com a inclusão dos mecanismos de Diversidade e Inclusão do BAFTA para aumentar o numero de mulheres e pessoas não brancas. Trazer filmes internacionais cada vez mais para as categorias mais disputadas (melhor direção e melhor filme) mostra um esforço (mesmo que com recorte específico, asiático). Entretanto esta edição é bem branca, bem masculina cisgênero.

Aqui damos os passinhos para trás: para cada filme dirigido por um homem cisgênero branco quantos filmes de mulheres cisgênero ou homens e mulheres não brancos são financiados? Num pool digamos de 30 filmes, se 25 forem dirigidos por homens cis brancos, 03 por mulheres cisgênero (sendo todas brancas) e 02 por homens cisgênero não brancos, o que isto diz sobre as chances destes filmes? Digamos que destes 25, 5 sejam realmente bons, eles já são em maioria em relação a mulheres cisgênero e pessoas não brancas, e estes, por sua vez, precisam ser os melhores, os mais incríveis para se destacar no Oceano. Ou seja...continuamos falando de uma supremacia e de oportunidades minúsculas para qualquer outro grupo.

Por isto políticas publicas são tão importantes. Do OCA, passando pelo BFI, chegando no Instituto Sueco de Audiovisual os dados sobre os investimentos em filmes de mulheres cis nos mostram que eles são inferiores se comparados aos homens cisgênero. Mulheres dirigem mais documentários ou filmes de baixo orçamento (com as exceções obvio, antes que falem de Minha Mãe É Uma Peça e outros). O Instituto Sueco fez uma extensa pesquisa e criou políticas específicas para atração de investimentos para mulheres (para além do investimento publico direto). É muito cruel a corrida, não tem política de diversidade de júri e de entrada em festivais que de conta se na ponta, no investimento, isto não acontece. Políticas indutoras que forcem quem tem o dinheiro a olhar para outras narrativas e mostrem que não significará perda de dinheiro são necessárias. Em 2014 ao receber a estatueta dourada Cate Blanchett lembrou o óbvio: filmes protagonizados por mulheres também lucram. Assim como filmes com criadores negros, a Disney que o diga com Pantera Negra e 1,4 bi de dólares arrecadados.

Não estou demonizando diretores homens cisgênero e brancos. Um ano que tem Kenneth Branagh, Steve Spielberg, Dennis Villeneuve, Paul Thomas Anderson e se dá ao luxo de esnobar Joe Cohen é um excelente ano, entretanto não seria tão bom quanto se pudéssemos ter uma quantidade enorme profissionais negros, asiáticos, latinos, mulheres também? E existisse uma competição saudável entre eles ou fosse a estas pessoas dada a possibilidade do fracasso (Spielberg não faz um filme digno de nota faz bastante tempo)?

PS: Quero que notem alguns termos usados aqui: Cisgêneros e não brancos. Pessoas transgénero sequer são computadas pelos dados oficinais. BFI traz LGBTQIA+ mas no que diz respeito à identidade de gênero especificamente não há nada: mulheres trans, pessoas não binárias (aqui como guarda chuva) e transmasculinos. Existe um apagamento sistemático. Pessoas não brancas é porque temos 01 diretor negro, 01 diretor asiático e 01 diretor latino (para a categorização norte-americana Guilhermo Del Toro é latino, brancos são os caucasianos, embora no Brasil por exemplo ele seria categorizado como branco).

 

Malu Andrade
Malu Andrade

Malu Andrade é fundadore da rede Mulheres do Audiovisual BRASIL, membre do + Mulheres, Diretore da Coração da Selva e foi Diretore de Desenvolvimento Econômico e Políticas Audiovisual da Spcine.

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