16 Julho 2025
O mar não está para tubarão e a vida útil das salas de cinema
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A mídia especializada internacional está, entre homenagens e saudosismo, revisando o marco de 50 anos do lançamento de “Tubarão” (Jaws, Steven Spielberg, 1975).
Se “Tubarão” criou o ideal de blockbuster como conhecemos e foi reproduzido sem cessar, o ponto de inflexão vem com ares pós-pandemia. Uma pesquisa realizada pelo analista Stephen Follows e o site Screendollars entrevistou 246 executivos do mercado audiovisual norte-americano que foram impactados pelas modificações trazidas pelo pós-pandemia: lockdown, janelas flexíveis de lançamentos e o futuro do modelo de negócios em meio à proeminência do streaming.
Os destaques dessa imersão:
- - O impacto negativo da pandemia ainda persiste para 90% dos exibidores
- - Cortar custos e flexibilizar programação foram estratégias adotadas
- - Cerca de metade dos exibidores acredita que o setor tem vida útil de 20 anos
- - A maioria dos entrevistados acredita na importância da janela exclusiva, de ao menos 6 semanas, para as salas de cinemas
- - O lançamento multiplataforma (Day-and-date) é visto como um complicador
É sintomático que a celebração de “Tubarão” chegue em um momento no qual nunca se confiou tanto em outro fenômeno, tão intenso quanto o lockdown, para reverter o cenário da exibição. Em 2023, “Barbenheimer” trouxe uma sensação de “agora vai”, ainda sem similar.
“Tubarão” exibe como um de seus marcos o inesperado. O New York Times publicou um vídeo bem didático (outro sinal dos tempos) elencando os motivos pelos quais o filme nunca seria feito e, talvez, não fosse recebido com entusiasmo pelos estúdios como um sucesso de bilheteria.
Inspiração literária
O que fazemos por aqui, na América Latina, é um caminho a ser percorrido de mãos dadas com o público, de olho no que eles pensam, desejam e podem pagar. Mas não só. Se “Tubarão” foi adaptado do livro homônimo de Peter Benchley e segue estampando camisetas com seu legado cool, a conexão com a literatura é um bom vislumbre: no mês de junho vivenciamos o impacto de eventos literários simultâneos e bem-sucedidos em seu diálogo com o público: a Feira do Livro, em São Paulo e a Bienal do Livro, no Rio de Janeiro. A primeira se vê em sua terceira edição, enquanto a segunda têm mais de 40 anos de trajetória.
Pensar sobre a pesquisa norte-americana é um exercício analítico, estando ciente de que se o impacto econômico foi democrático, cada território possui suas especificidades, suas ações e reações. Saber o que acontece nos Estados Unidos é um termômetro, mas não é definitivo nem determinante. Vida longa às salas de cinema.

Márcia Scapaticio
Jornalista e mestranda em Estudos Culturais pela USP, trabalha com cinema há 10 anos, atuando em crítica e curadoria, internacionalização do cinema brasileiro em mostras/festivais, editais, difusão audiovisual em streaming e programação.
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