Não é surpresa que nos últimos anos o entretenimento asiático consolidou sua posição como uma potência cultural global. O que começou como um movimento regional ganhou força e se transformou em um fenômeno internacional, impactando decisões criativas da indústria do entretenimento ocidental. Se em 2020 Parasita fez história ao se tornar o primeiro filme de língua não-inglesa a vencer o Oscar de Melhor Filme, em 2025 No Other Choice se tornou o primeiro filme a ganhar o prêmio internacional do público no Festival de Toronto, premiação criada para celebrar produções de língua não-inglesa exibidas no festival.

Esse impulso não é pontual. De acordo com estimativas da Parrot Analytics, empresa líder global em análise de mídia e entretenimento especializada em mensuração de demanda e no valor de um conteúdo, títulos japoneses e coreanos foram, juntos, responsáveis por um terço da receita entre os originais de língua não-inglesa nas plataformas de streaming no último trimestre de 2024. Ou seja, mais do que agradar ao público, esses conteúdos também têm impactado diretamente no retorno financeiro de algumas das principais plataformas de conteúdo globais.

Dentro desse contexto, as animações surgem como um formato de sucesso inquestionável. Considerando os títulos disponíveis nas principais plataformas de streaming da América Latina, os animes são o subgênero de maior oferta e de maior demanda da categoria, ultrapassando animações tradicionais que enfileiraram sucessos na região em décadas passadas. Através de uma comunidade leal, serviços como Crunchyroll são capazes de se sustentar disponibilizando apenas animes em seu portfólio, uma estratégia oposta a gigantes como Netflix e Amazon Prime Video, que buscam alcançar uma audiência cada vez maior, e por isso, cada vez mais diversa.

A consolidação desse formato tem acontecido a passos largos, como indica o sucesso de Demon Slayer: Infinity Castle. Além de ultrapassar a marca de US$ 600 milhões nas bilheterias ao redor do mundo, o longa, distribuído pela Crunchyroll nos mercados para além do Japão, também se tornou o filme japonês de maior bilheteria de todos os tempos. De acordo com os dados da Parrot Analytics, Demon Slayer alcançou a oitava posição entre os títulos de maior demanda global durante a sua primeira semana de lançamento internacional. Neste ranking foram considerados todos os títulos mapeados pela Parrot, independentemente do formato, gênero ou país de origem, indicando, mais uma vez, a força desse tipo de conteúdo.

Outra tendência a ser observada é como a estética das produções japonesas ou coreanas está sendo incorporada em produções ocidentais. Lançada em junho deste ano pela Netflix, K-Pop: Demon Hunters é uma animação norte-americana que bebe diretamente da estética e do universo do K-pop. A trama acompanha um grupo de cantoras que, além de bem-sucedidas, caçam secretamente demônios para proteger o mundo. Voltado ao público jovem, o filme alcançou o segundo maior pico de demanda global entre todos os filmes originais de streaming lançados em 2025, segundo dados da Parrot Analytics.

Além disso, a trilha sonora da produção também refletiu o apelo comercial ao chegar ao primeiro lugar na principal parada de álbuns dos EUA, a Billboard Hot 200. A música “Golden”, interpretada pelas personagens principais da animação, também alcançou o topo das paradas americanas, sendo a primeira vez desde 2001 que uma girlgroup consegue esse feito. Até o momento, a música já permaneceu na primeira posição da Billboard Hot 100 por seis semanas.

O sucesso não é aleatório. Os dados da Parrot Analytics indicam que três dos cinco artistas musicais com maior média de demanda global no primeiro semestre de 2025 são coreanos, uma evidência do protagonismo contínuo da Coreia no setor. Além disso, cerca de 60% da audiência desses artistas está concentrada na geração Z, público essencial para o engajamento multiplataforma e para o sucesso de IPs como Demon Slayers e Demon Hunters. Durante sua semana de estreia, o filme original da Netflix alcançou uma demanda ‘exceptional’ em 20 mercados monitorados pela Parrot, rendendo um patamar de mais de 32 vezes a média dos títulos analisados.

O que se observa é uma mudança de paradigma. O entretenimento asiático, em especial o japonês e o coreano, não se limita mais à exportação de conteúdos prontos. Há uma abertura cada vez maior para um diálogo intercultural, e, com ele, surgem novas possibilidades de coprodução, colaboração criativa e expansão de audiência. Essa influência busca se tornar parte estrutural da indústria global. Nesse movimento, além de impulsionar o consumo de seus produtos, o Japão e a Coreia do Sul também fortalecem seu soft power, estimulando o turismo e ampliando o reconhecimento da sua identidade cultural em escala mundial.