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Artigo / Tendências & Mercado

19 Setembro 2025

75 anos do lançamento da televisão no Brasil

Luiz Fernando (Pará) é professor e supervisor do curso de graduação em Cinema e Audiovisual da ESPM-SP

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Certamente, ao abordar o século XX, entre menções a grandes guerras e transformações socioeconômicas, os livros de História terão sempre que incluir citações referentes aos avanços dos meios de comunicação no período.

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Uma sucessão de inventos permitiu, nesse curto espaço de tempo – ao considerar a presença do Homem sobre a Terra -, aproximar povos e levá-los a possibilidades de interação e comunicação como nunca possíveis.

Se o início do século XX trouxe o deslumbramento com o cinema -, não somente como entretenimento audiovisual, mas especialmente como possibilidade de divulgação de eventos à distância e de perenidade -, a chegada do século XXI viria a proporcionar, por meio da integração digital, o rompimento de fronteiras e eliminação de distâncias.

Na metade do século passado, os lares de diversas partes do mundo se encantavam ou, ao menos, almejavam ter acesso a mais um avanço criado pelo homem: a televisão. Em pouco mais de cinquenta anos daquele período, a TV viria a suceder telefones, rádios e geladeiras como o mais desejado e adquirido aparelho doméstico, especialmente nos domicílios brasileiros – mantendo-se hoje presente em cerca de 95% dos lares deste país, segundo o IBGE.

Sua concepção criativa alimenta-se do cinema, ao possibilitar também a difusão à distância de formas de manifestação artística e cultural. Difere, entretanto, pela maneira de difundi-las, ao utilizar sinais eletromagnéticos, e por sua presença doméstica e suas funções relacionadas ao consumo.

A observação conjunta da onipresença da televisão nos lares brasileiros e do uso frequente que a população faz deste meio, reforça a percepção de seu papel para o intercâmbio cultural e a difusão de informações em nosso país.

No Brasil, diferente de sua origem europeia como televisão pública, o meio TV foi implantado a partir do modelo privado/comercial, importado pelo magnata brasileiro da comunicação Assis Chateaubriand diretamente dos Estados Unidos e financiada pelo que eram grandes empresas nacionais. Na América do Norte, a TV já nasceu com valores e formato comercial, com as primeiras transmissões da NBC, em 1939, apenas três anos após a pioneira – e pública - BBC de Londres. Pouco mais de uma década depois, Chatô inaugurou a TV Tupi, em São Paulo, colocando também o Brasil em atuação no mercado televisivo mundial.

Segundo o jornalista Sérgio Mattos, em seu livro História da televisão brasileira uma visão econômica, social e política (2010), “os primeiros anos da televisão, tanto da Tupi de São Paulo como da Tupi do Rio, foram marcados pela falta de recursos e de pessoal e de improvisações”. O primeiro dia não poderia ter sido diferente.

Nos estúdios preparados pela equipe de Assis Chateaubriand para a inauguração da TV Tupi de São Paulo, as primeiras transmissões daquele marcante décimo oitavo dia do mês de setembro iniciariam ao som e imagem do “Cisne Branco” com orquestra de Georges Henry - também diretor da emissora -, e encerrariam com o “Hino da TV” [1], a ser entoado por Hebe Camargo. Uma alegada rouquidão a levou à substituição, rapidamente, pela atriz Lolita Rodrigues, já indicando as necessidades intrínsecas ao momento daquele novo meio, com suas atuações ao vivo e importações de formatos, artistas e técnicos do cinema, teatro e rádio.

Enquanto isso, populares tinham acesso à novidade em bares, lojas e calçadas da capital paulista. 200 aparelhos foram importados, às pressas, por Chateaubriand – alguns diriam “contrabandeados”, como destaca Mattos em seu relato histórico. Tais aparelhos viriam a ser dispostos nas ruas da cidade, após um engenheiro da NBC – em colaboração ao lançamento da Tupi -, alertá-lo de que não haveria quem pudesse assistir às transmissões, por falta de equipamentos entre a população, revela Fernando Morais na deliciosa biografia Chatô, o rei do Brasil (1994).

E a TV, rapidamente, no Brasil, deixaria de ser percebida não somente como “uma máquina que dá asas à fantasia mais caprichosa” - como descrita por Chatô em seu discurso de inauguração da Tupi em 1950 (indica o pesquisador Igor Sacramento no livro História da Televisão no Brasil, 2010) -, mas também como aquela que mais teria capacidade de “influir na opinião pública”. O jornalista Leandro Narloch (2005) traduz, precisamente, tais colocações iniciais de Chateaubriand ao indicar que “no Brasil, a TV chegou antes de o povo se alfabetizar. Adicione a isso o fato de que fazemos parte de uma tradição católica, mais oral que letrada. Em vez de interpretar diretamente a Bíblia, como acontece entre os protestantes, preferimos a cultura oral: ouvir o padre falar. Em vez de escrever diários, preferimos contar o caso para a vizinha. Em vez de ler romances, assistimos a novelas.”

Por isso, podemos destacar o impacto que aquele dia, há 75 anos, teve sobre a cultura brasileira e que assim segue, ainda que ampliadas, constantemente, as formas de acesso a conteúdos audiovisuais ao longo das décadas seguintes.

Afinal, o que permanece, no processo de desenvolvimento do audiovisual - da fotografia à televisão, passando pela indiscutível importância do cinema e incluindo as possibilidades provenientes do ambiente digital -, é a constante busca do Homem pela eternidade do momento e por apresentar acontecimentos ocorridos e/ou realizados à distância, para outros. E assim, seguiremos, pois adoramos ouvir e contar histórias – como bem sabiam Chatô, Jô Soares, Hebe e tantos que poderíamos citar nesta trajetória.

Luiz Fernando (Pará)
Luiz Fernando (Pará)

Possui título de Mestre em Comunicação Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi/Laureate International Universities (2013), especialização na FGV-Fundação Getúlio Vargas, em Formação Executiva em Cinema e Televisão (2005) e graduação em Comunicação Social pela ESPM-Escola Superior de Propaganda e Marketing (1994). Atualmente é professor da ESPM e supervisor do curso de graduação em Cinema e Audiovisual da faculdade. Durante oito anos, atuou também como Coordenador Geral do Núcleo de Imagem e Som da faculdade, sendo esta a área responsável pelo atendimento e desenvolvimento de produções audiovisuais curriculares e extracurriculares realizadas pelos cursos de graduação da unidade São Paulo. São 30 Anos de carreira, desenvolvida com especial ênfase em planejamento de marketing. Durante esse período, seus conhecimentos em planejamento foram aplicados principalmente em atividades do meio televisivo para importantes empresas como TVA, Canal Futura e TV Cultura.

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