Às vésperas da realização da COP30 no Brasil, a indústria do audiovisual, tanto no Brasil quanto no mundo, continua contribuindo significativamente para a emissão de carbono, impacto que surge do uso intensivo de energia nos estúdios, do uso de geradores a diesel nas locações, das emissões associadas ao deslocamento das equipes, do uso de material não reciclável e do descarte de lixo sem o devido cuidado.

A ideia de neutralização de poluentes surgiu ainda nos anos 1970 nos Estados Unidos com o "Clean Air Act", servindo de precedente conceitual para o primeiro projeto de compensação de carbono que só viria a acontecer em 1988, supervisionado pelo World Resources Institute. Quase dez anos depois, em 1997, o conceito de créditos de carbono e mercados de compensação foi formalmente estabelecido no âmbito internacional pelo Protocolo de Kyoto. E, no início dos anos 2000, empresas e indivíduos começaram a usar a compensação voluntária em projetos certificados (como os do CarbonNeutral Protocol) para reivindicar a "neutralidade de carbono" para suas operações ou eventos específicos.

Foi em 2007 que a Pindorama Filmes, numa parceria pioneira com a Fundação SOS Mata Atlântica e certificação do Instituto Totum, tornou-se a primeira produtora independente Carbono Neutro do mundo, mesmo ano em que a Google e a Natura anunciaram suas diretrizes de neutralização e apenas um ano depois que as empresas britânicas de tecnologia e distribuição de conteúdo Gamma e SKY se comprometeram com a compensação de carbono.

No Brasil, onde a indústria cresce e os orçamentos nem tanto, o desafio é equilibrar o crescimento com práticas sustentáveis que se traduzam também em economia. Não é uma equação fácil de se resolver, mas é necessário se debruçar sobre ela. Neste ano, em que comemoramos os 25 anos da Pindorama Filmes, olho para trás e vejo que plantamos as bases dos frutos que estamos colhendo hoje: um modelo de produção enxuto, eficiente, sustentável e de impacto. Dentre as nossas práticas, destaco: em filmagens, usamos equipamentos de iluminação que tenham maior desempenho com menor consumo de energia, evitando, sempre que possível, o uso de geradores. No escritório, painéis solares fornecem energia para produção, edição, sonorização e finalização. Tanto no escritório como no set reduzimos e reciclamos o lixo. Privilegiamos o uso de veículos elétricos ou movidos a biocombustíveis para a equipe de produção. Optamos por cenários e figurinos feitos de materiais reciclados ou recicláveis. Na alimentação, abolimos o uso de copos plásticos e outros itens descartáveis. Em viagem, buscamos usar mão de obra técnica local, evitando deslocamentos desnecessários e fomentando os mercados de trabalho fora do eixo Rio-SP. Aqui vale ressaltar uma experiência pioneira com o filme “Amazônia Sociedade Anônima” (2019) ao estabelecer uma coprodução com coletivo indígena Daje Kapap Eypi, com participação dos Munduruku nos lucros de licenciamento do filme. Conteúdo finalizado, promovemos, com parceiros locais, a exibição nas comunidades onde filmamos, fortalecendo os laços culturais para ambos os lados. Por fim, e não menos importante, fazemos o inventário de todas as emissões de gases de efeito estufa de nossas produções e neutralizamos 100% de nossas atividades com o plantio de árvores e o reflorestamento de bacias hidrográficas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Celebramos todos os que agora estão entendendo a gravidade da situação do planeta, e embarcando nessa missão, compartilhando uma conquista inédita para o nosso mercado audiovisual: é brasileira a primeira produtora independente do mundo a neutralizar o carbono de todas as suas atividades, o que nos coloca na vanguarda de um movimento global por sustentabilidade no setor audiovisual. A transição para práticas mais sustentáveis não é apenas uma tendência, mas uma necessidade urgente. Afinal, não basta imaginar outros mundos, é preciso cuidar do nosso.