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22 Abril 2020 | Fernanda Mendes

Karim Aïnouz fala sobre experiência em lançar seu novo filme sem a janela do cinema

Documentário “Aeroporto Central” chega dia 30 diretamente nas plataformas digitais

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(Foto: Fabrizio Bensch/Reuters)

“Se eu vejo filme no sofá, eu durmo”. É assim que o cineasta brasileiro Karim Aïnouz, explica suas experiências com o streaming. Mas, agora, tudo mudou. Os cinemas estão fechados e para consumir filmes e outros tipos de conteúdo, os espectadores não têm outra alternativa a não ser recorrer para a TV, VOD, streaming e outras plataformas digitais.



Por isso mesmo, seu novo documentário Aeroporto Central, que estava programado para estrear nos cinemas brasileiros em 26 de março, chega às plataformas nesta sexta-feira, dia 24 (Now, Vivo Play, Oi Play, Itunes, Google+, Filme Filme e Looke).

Em entrevista por telefone ao Portal Exibidor, Karim, que mora em Berlim (Alemanha), contou como reagiu a estratégia do lançamento digital, já que antes nunca havia lançado um filme sem passar pelos cinemas. “As plataformas de streaming são inevitáveis, não adianta ficar ignorando que não existem. Venho de uma geração que é mais acostumada a ver filme no cinema do que no sofá, mas precisamos entender que vai levar pelo menos uns dois anos para voltarmos normalmente aos cinemas, e está tudo bem, é uma experiência nova. Se eu vou ver filme no sofá eu durmo, mas nas últimas semanas eu assinei as plataformas, e estou aprendendo. Foi na quarentena que eu entendi que é muito bom poder dividir os conteúdos e que há essa opção para o público. Imagina ficar sem essas plataformas nesse momento?”.

Inclusive, o cineasta já começa a pensar em como contar histórias futuramente para os espectadores que poderão assistir em diferentes contextos, em casa, no metrô e etc. Para ele a exibição cinematográfica pode se ressignificar e explica que na Alemanha os cinemas drive-in estão fazendo enorme sucesso.

Filmagens

Aeroporto Central mostra o extinto Aeroporto de Tempelhof, em Berlim, que entre 2015 e 2019 foi utilizado como um dos maiores abrigos de emergência da Alemanha para refugiados de guerra que buscavam asilo. O filme acompanha ao longo de um ano, entre 2015 e 2016, o estudante sírio de 18 anos Ibrahim e o fisioterapeuta iraquiano Qutaiba.

O local fica próximo à casa do cineasta, e a ideia de documentar a chegada daqueles refugiados se tornou uma missão de registro histórico. “Pessoas fugindo da guerra e sendo abrigadas em um antigo aeroporto militar alemão. Eu pensei que daqui a 10 anos seria importante ter um registro dessa experiência singular e cheia de ironia”, conta.

O processo para as filmagens precisou de muita teimosia e determinação do diretor. Ele ficou visitando o abrigo por seis meses, negociando as gravações com a administração da instituição e com os refugiados, entendendo quem queria contar sua história. Documentarista de primeira viagem, esse processo foi muito diferente de tudo que já passou, ao contrário de um set de filmagem, não havia controle em nada do que poderia acontecer. “Cada mês era uma conquista. Esse documentário é fruto da generosidade das pessoas e da minha teimosia. Me ensinou muito a escutar, eu aprendi demais e é muito bonito o lançamento desse filme agora”.

Ele inclusive lembrou de um dia em que estava no Peru para um festival de cinema e ligaram para dizer que o filme não podia mais acontecer porque uma pessoa não gostou que foi filmada, então a instituição não queria mais a equipe no abrigo. O diretor teve que voltar para a Alemanha e negociar novamente as gravações. Ele compara esse trabalho ao de um repórter.

Lançamento

O filme foi finalizado há dois anos, mas o cineasta preferiu esperar seu lançamento para dedicar-se à divulgação de A Vida Invisível, vencedor de vários prêmios e escolhido do Brasil para concorrer ao Oscar 2019. De lá para cá, o mundo mudou radicalmente. Quando decidiram lançar o documentário no Brasil, foi decretada a pandemia mundial do Coronavírus, o que para Karim se tornou uma ironia muito grande. Assim como nós, os personagens de Aeroporto Central também estão de “quarentena”, em uma eterna espera e não sabem quando as coisas irão se resolver. “O filme ecoa no tempo em que estamos vivendo. Estou curioso para ver como ele vai ser percebido, lido e decifrado”.

Para finalizar a entrevista, o Portal Exibidor perguntou se ele gostaria de dar um recado aos colegas brasileiros do mercado audiovisual. Karim não hesitou em dizer que não reconhece o atual governo e que acha muito difícil o setor cultural receber algum auxílio por parte do Estado. “Para os meus colegas do âmbito cultural, temos mais do que nunca pensar na questão da solidariedade. Se existem diferenças, a gente tem que continuar fazendo o que fazemos. Os trabalhadores da cultura ajudam as pessoas a imaginarem o futuro, nos ajudam a sonhar. Então, que também haja solidariedade de quem está mais próximo para saber dividir com o nosso setor, que isso sirva para quem tem recursos, reconhecer a importância de quem conta história”.

E é claro, que ele reforça: “Fiquem em casa!”.

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