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21 Maio 2020 | Fernanda Mendes

Canal Brasil celebra aumento na audiência e quer ampliar o alcance do cinema nacional

André Saddy, diretor geral do canal de TV à cabo, concedeu entrevista exclusiva ao Portal Exibidor

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(Foto: Divulgação)

Com a maior parte da população brasileira dentro de casa, ou pelo menos, deveria estar, o Canal Brasil quer aproveitar este momento para levar o cinema nacional para o maior número de espectadores possível. Em entrevista ao Portal Exibidor, André Saddy, diretor geral do canal de TV à cabo que tem 80% de sua programação voltada à filmes nacionais, contou que assim que foi anunciada a quarentena no País, muitas operadoras abriram o sinal dos canais para não assinantes e foi neste momento em que a programação da rede focou em exibir filmes brasileiros mais “populares”.

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“Funcionou super bem, a audiência do canal vem crescendo muito e é legal saber que esses dois meses sejam um dos meses em que as pessoas mais viram filme brasileiro na TV”, comemora Saddy. De janeiro a abril deste ano, o canal teve aumento de audiência de 29% na média do total do dia, subindo seis posições no ranking da televisão brasileira, e 16% na média do horário nobre em comparação com o mesmo período em 2019. Além disso, somente entre março e abril desse ano, mais de 19 milhões de pessoas passaram pelo canal.

Mas, o que é maior motivo de comemoração para Saddy é a audiência do mês de fevereiro, que marcou o terceiro maior pico da história do canal que tem 21 anos de existência. “Com isso, confirmamos que há muita demanda por cinema brasileiro”.

Com um maior volume de pessoas assistindo ao canal, a estratégia agora é aproveitar essa audiência para apresentar filmes premiados em importantes festivais como Cannes, Veneza ou Berlim, mas que não tiveram grande bilheteria nos cinemas. “Filmes que não tiveram espaço, mas não por culpa dos exibidores, sei que temos poucos complexos e salas”, explica. Entre os títulos que Saddy usou como exemplo estão Benzinho e Ferrugem, ambos com coprodução do próprio canal.

Aliás, o Canal Brasil se firma cada vez mais como um grande coprodutor. No último Festival de Cannes, os concorrentes brasileiros Bacurau, A Vida Invisível e O Traidor, todos eram de coprodução do canal. No entanto, Saddy lembra que o mercado já vinha com dificuldades para finalizar os filmes há cerca de um ano, por conta da paralisação dos recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). E com a quarentena, a situação está cada vez mais insustentável, o que é lamentável para Saddy que classifica o subsídio à indústria do audiovisual como estratégico para qualquer país.

Entre os filmes coproduzidos pelo canal que já estavam prontos, alguns tiveram lançamento direto nas plataformas digitais, caso de Aeroporto Central, dirigido por Karim Aïnouz. E outros estão aguardando a reabertura dos cinemas. “O cinema é uma janela importantíssima. É saudável para todo mundo respeitar as janelas. Quanto mais faz barulho nos cinemas, mais quente chega no Canal Brasil”, disse. O executivo ainda lamentou as dificuldades que os exibidores estão passando neste momento, principalmente os grupos menores e independentes, mas acredita que as pessoas voltarão com muita empolgação às salas quando houver a reabertura do mercado.  “A experiência do cinema não acaba nunca”.

E além da forte presença na televisão, o Canal Brasil também está tomando protagonismo nas redes sociais. Na primeira semana da quarentena, a empresa decidiu fazer uma transmissão ao vivo no Instagram com Andreia Horta e Bárbara Paz para se aproximar do público. Até aí tudo bem, mas o sucesso foi tão grande que atualmente a rede faz duas “lives” por dia nas redes sociais e já tem agenda fechada para os próximos dois meses.

As transmissões sempre trazem um entrevistado especial que está ligado a algum filme do dia da grade do canal ou que está disponível no Canal Brasil Play. Entre os convidados já participaram Cacá Diegues, Deborah Secco, Fábio Porchat e Jorge Furtado. Saddy compara as entrevistas como um cineclube. “É como sair de uma sala de cinema e conversar sobre o filme depois. Queremos ajudar com que essas produções mexam com as pessoas, as transformem. E não tem nada mais legal do que conversar com o diretor ou o ator antes ou depois de assistir ao filme”.

No momento, o Canal Brasil só tem a comemorar e ainda trará muitas novidades em sua grade. Mas se a paralisação dos incentivos e subsídios continuar, Saddy prevê problemas a longo prazo. Questionado sobre a maneira de reverter essa situação, o executivo explica que é um grande desafio diminuir a dependência de recursos públicos, pois para ele o mercado audiovisual é uma indústria de difícil sustentação que nem sempre encoraja o investimento privado. Para ele, não é certo se desapropriar totalmente do incentivo público, mas sim, tê-lo em proporção menor. “Se fizermos filmes só com incentivo privado, aí só um tipo de filme vai ser feito, e quem perde vai ser a própria população”.

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