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29 Julho 2020 | Fernanda Mendes

Universal e AMC firmam acordo: o que isso significa?

Filmes da Universal poderão ir ao PVOD após 17 dias em cartaz nos cinemas

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(Foto: Rebecca Rubin)

Após o CEO da AMC Theatres, Adam Aron, declarar publicamente que a rede de cinemas não iria mais exibir nenhum filme da Universal por conta da estreia digital de Trolls 2 World Tour, ontem (29) a exibidora e a distribuidora chegaram a um acordo.



O contrato permitirá que a Universal coloque seus filmes em plataformas de premium vídeo on-demand (PVOD) após três semanas de exibição nos cinemas da AMC. Tradicionalmente, a janela entre a exibição nos cinemas e a ida do título às plataformas digitais é de 90 dias.

Os termos financeiros do acordo não foram divulgados, mas Aron afirmou em um comunicado oficial que a AMC terá parte “nessa nova receita”.  Importante lembrar que o acordo só abrange as plataformas PVOD, ou seja, as locações por título custarão em torno de US$ 20.

Para a Universal, o acordo poderá ter dois efeitos: ou as outras grandes exibidoras como Cinemark e Regal entrarão na jogada também, ou há riscos de um boicote do mercado exibidor. Nenhuma exibidora ainda se pronunciou e nem a NATO (Associação Nacional dos Proprietários de Cinema).

Em análise, a Variety, veículo de imprensa norte-americano, acredita que as grandes cadeias de cinema não terão outra opção a não ser ceder ao acordo. “Eles precisam de ‘Jurassic World: Dominion’ e ‘Velozes & Furiosos 9’ para impulsionarem seus complexos, mesmo que isso signifique aceitar que o próximo filme da franquia ‘Uma Noite de Crime’ possa estrear em PVOD dentro de algumas semanas depois de chegar à tela grande”.

O veículo ainda sinaliza que isso poderá prejudicar os exibidores menores, que terão que aceitar esse novo padrão de janela e poderão ter danos financeiros, já que dependem muito da venda de pipoca e ingressos.

“A parceria que firmamos com a AMC é impulsionada pelo nosso desejo coletivo de assegurar um futuro próspero para o ecossistema de distribuição de filmes e atender à demanda do consumidor com flexibilidade”, disse Donna Langley, presidente da Universal Filmed Entertainment Group.

O executivo da AMC falou sobre o acordo com a Universal: “Com foco na saúde da nossa indústria, gostaríamos de observar que, assim como os restaurantes prosperam mesmo que todas as casas tenham uma cozinha, a AMC está altamente confiante de que os espectadores chegarão aos nossos cinemas em grande número no mundo pós-pandemia”.

Reação do mercado

O anúncio pegou todo o mercado de surpresa e muitos analistas acreditam que esse novo acordo poderá mudar toda a dinâmica da indústria de cinema. Outros estúdios provavelmente começarão a pressionar os exibidores para terem mais flexibilidade na hora de determinar quando e como seus lançamentos podem chegar às plataformas de entretenimento doméstico.

Um dos principais benefícios para as distribuidoras é em relação aos gastos de marketing. Quando os estúdios esperam três meses para lançar o mesmo título sob demanda, isso exige que eles gastem mais dinheiro para reacender as campanhas de marketing. Com um intervalo menor, a distribuidora fará uma campanha só e aproveitará o buzz gerado em torno da performance do filme no cinema.

Em reportagem ao The Hollywood Reporter, o analista Michael Nathanson da MofffettNathanson acredita que se essa janela de três semanas virar um padrão entre todos os estúdios, haverá um movimento de canibalização pelos espectadores. Ele ressalta que, se olharmos para os principais filmes de 2019, cerca de 80% a 90% do total de bilheteria foi gerado nas primeiras quatro semanas, com as primeiras três semanas respondendo por 70% a 80%. “Então se a janela de 17 dias virar um padrão entre os estúdios, esperamos um nível mais alto de canibalização dos espectadores do que quando os exibidores podiam manter a janela de 30 dias até o filme ir ao PVOD”.

Nathanson ainda reforça que esse acordo pode ser preocupante. “Se os consumidores ficarem treinados para esperar apenas algumas semanas para assistirem aos filmes em casa, especialmente enquanto o contágio de Covid-19 continuar a existir, tememos que o impacto a curto prazo possa ser mais substancial e que os consumidores, a longo prazo, continuem a optar por assistir a mais filmes medianos em suas casas daqui para frente”.

Do lado positivo, ele ressalta que este tipo de acordo pode trazer uma maior pluralidade entre os títulos que vão aos cinemas e ainda os exibidores poderão se beneficiar da receita desses títulos em PVOD. “O anúncio também poderia ajudar os estúdios a cumprirem com algumas datas de lançamento para este ano que estavam com risco de mudar para 2021 por causa da pandemia, o que permitiria mais conteúdos no quarto trimestre”.

Já Eric Wold, analista da B. Riley FBR, acredita que seja cedo demais para saber se o acordo só beneficiará a Universal e prejudicará a AMC. “É difícil acreditar que a Universal retire um filme de cartaz do cinema (ou ofereça uma opção doméstica mais barata para os consumidores) se o filme tiver um bom desempenho nos cinemas e ainda gerar receitas atraentes nas bilheterias. E para a AMC, acreditamos que isso não apenas oferecerá uma oportunidade de retirar filmes com baixo desempenho para fora do cinema (onde eles estão ocupando um espaço valioso na tela), mas também cria uma nova maneira de o exibidor compartilhar a economia do filme em uma próxima janela de distribuição”.

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