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06 Novembro 2020 | Fernanda Mendes e Renata Vomero

Seminário destaca caminhos do audiovisual para ampliação de vozes no setor

Evento contou com homenagem à produtora Mariza Leão

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(Foto: Reprodução)

Nesta terça-feira, 3 de novembro, aconteceu a segunda edição do Seminário Internacional de Mulheres no Audiovisual, organizado pela produtora e criadora do grupo de liderança + Mulheres, Debora Ivanov. O evento promoveu mesas de debate com temas como inclusão de mulheres e minorias no mercado de trabalho, ações e manifestos por igualdade no exterior, ampliação de vozes e diversidade na produção nacional, entre outros temas.

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Neste ano, a iniciativa passou a fazer parte da programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um dos maiores eventos de cinema da América Latina, que aconteceu entre os dias 22 de outubro e 4 de novembro em formato digital.  

“Estar na Mostra é muito importante para amplificar a pauta da diversidade. A Mostra é o maior e mais prestigiado evento de cinema da América Latina e uma referência para todos os profissionais da nossa indústria. A curadoria se dedicou a trazer convidadas do Brasil e de diferentes países para compartilhar suas ações dedicadas a incluir mais mulheres na construção das narrativas dos filmes e séries. O mundo é diverso e precisamos dessa diversidade de olhares nas telas”, explicou Debora Ivanov. 

No dia 4 de novembro, como continuidade do Seminário, aconteceu o II Fórum Nacional de Lideranças no Audiovisual. A ação contou com homenagem a Mariza Leão, encerrando todas as conversas. 

A produtora, que conta com mais de 40 anos de experiência no mercado, teve sua trajetória relembrada com os depoimentos de grandes personalidades que estiveram ao seu lado nestes frutíferos anos de carreira, desde a criação de sua produtora Morena Filmes, passando pelo fim da Embrafilme, pela retomada, até seus mais recentes lançamentos. 

Emocionada e passando uma mensagem de otimismo, Mariza Leão ressaltou a importância de estar sempre lutando pelo cinema brasileiro, algo que ela vem fazendo nestes anos todos e prometeu que não vai parar. “É somente com a soma de muitas energias e fazendo um pensamento político, antropológico, filosófico, psicanalítico sobre o que é o desejo de se ver na tela e de ver o Brasil na tela, que a gente vai poder seguir”, ressaltou ela, que complementou: “O cinema mudou, vamos ter que redescobrir o que vamos fazer nesse novo modelo em que as salas de cinema não vão dar conta de exibir 120 filmes brasileiros por ano, esse momento acabou. Temos que ser criativos, inquietos, turbulentos para que o sonho não acabe”.

E realmente a produtora persiste em sua missão para que o cinema brasileiro se amplie. Ontem (5) ela deu um depoimento durante reunião do TCU, exigindo “razoabilidade” da Ancine em meio ao passivo de 4 mil projetos em espera para análise da prestação de contas.

Conversas e encontros

Voltando ao Seminário Internacional de Mulheres no Audiovisual, a abertura das mesas contou com a presença da ONU Mulheres, representada no Brasil por Anastasia Divinskaya. Ela destacou a potência e o papel central que a arte tem como agente de transformação do mundo e como ela deve ser utilizada, principalmente o cinema.

“O cinema e o setor audiovisual tem um enorme potencial para influenciar e criar as imagens de um mundo em que cada ser humano, independente do sexo, raça, cor ou etnia, seja igual e tenha uma vida livre de discriminação. Combater normas culturais diversas e estereótipos é uma contribuição importante para os avanços dos direitos humanos”, comentou.

A primeira mesa do dia abordou a iniciativa “Free the Work - Uma plataforma internacional de talentos subrepresentados”  que tem como objetivo dar visibilidade global a profissionais do cinema e da publicidade que façam parte de grupos de minorias sociais, os conectando com marcas e corporações que tenham como objetivo o comprometimento com maior diversidade no mercado de trabalho.

A iniciativa foi criada para o meio publicitário, mas, desde o ano passado, passou a atuar na área de cinema também. “O mercado é afetado por muitos esforços e o nosso banco de dados tem um alcance global e eu sinto que o trabalho que está sendo feito por muitas organizações, especificamente o Free the Work, criou o impulso para que mulheres não-brancas e mulheres negras tenham maior oportunidade”, explicou a criadora do projeto, Alma Har’el.

A plataforma também abrange o território brasileiro e Alma se diz animada para conhecer os criadores do País, que serão vistos pelo mundo todo. Segundo ela, são mais de 30 mil pessoas acessando a plataforma e o banco de dados de profissionais diariamente, buscando por talentos para as contratações.

Na mesma linha de trabalho, a francesa Delphyne Besse falou sobre o Collectif 50/50, uma organização que busca equidade de gênero nas seleções de festivais. O movimento ficou famoso após o manifesto nas escadarias em Cannes com 82 mulheres da indústria audiovisual em 2018.

Mesmo tendo sido criado na cola do caso Weisntein, o foco do movimento não é enfrentar o abuso sexual. “Isso não era central para a nossa reflexão porque para nós isso é um sintoma de um ambiente que é dominado pelos homens e onde de fato temos sempre a mesma perspectiva que é predominante. Então a ideia é refletir sobre a questão da divisão de poder. É dizer que se este poder é dividido igualitariamente entre homens, mulheres e de modo geral com uma maior diversidade de opiniões, de pontos de vistas, isso permitiria que este tipo de comportamento acabasse”.

Baseado em números e pesquisas do setor, o coletivo luta para que mais festivais assinem uma carta de compromisso com a igualdade de gênero, além disso cada vez mais o coletivo também busca adentrar o setor de distribuição. “É um setor na ponta e que quase não falamos, mas também tem muito trabalho a fazer”.

Para encerrar as mesas, Debora Ivanov conversou com Maria Angela de Jesus que é diretora de produções originais na Netflix Brasil. Segundo a executiva cada vez mais conteúdos protagonizados por mulheres são mais procurados dentro do serviço, além de conteúdos vindos da África do Sul que estão com forte audiência no Brasil. “Nós queremos cada vez mais buscar essas histórias diversas, sair das histórias únicas, sempre de uma determinada classe, gênero e raça. Queremos buscar olhares novos, que representem os nossos assinantes na tela, é o que faz a grande diferença é o assinante se ver na tela”.

Não só na frente das câmeras, a companhia também tem projetos de inclusão para profissionais técnicos do audiovisual trazendo jovens periféricos para trabalharem em departamentos diversos dentro das produções originais Netflix, além de profissionais iniciantes no setor para acompanharem o dia a dia de cargos de liderança em várias áreas como fotografia, direção, produção.

“Como Vernā Myers, nossa vice-presidente de Diversidade e Inclusão, diz: ‘diversidade é você convidar todo mundo para uma festa e inclusão é você tirar a pessoa para dançar’. E é isso que queremos ter, essa integração”, contou Maria Angela.

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