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12 Novembro 2020 | Renata Vomero

Lançamentos da Netflix devem ocupar brecha na programação dos cinemas

“Era Uma Vez Um Sonho”, “Mank” e “The Midnight Sky” são as apostas da plataforma

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(Foto: Netflix)

Não é segredo para ninguém o quanto 2020 está sendo desafiador para o mercado cinematográfico do mundo todo. Com parte dos cinemas em diversos territórios abrindo e reabrindo de acordo com os casos de coronavírus, as majors se mostram relutantes para liberar seus grandes lançamentos, na espera de maior estabilidade, o que deixa os cinemas que já voltaram a operar sem fortes opções de oferta ao público.



A brecha na programação parece estar abrindo espaço para a Netflix exibir suas apostas do ano nos cinemas. O que pode indicar um caminho de reconciliação entre o setor de exibição, que precisa de novidades para voltar a movimentar as salas de cinemas, e a gigante do streaming, que vem cada vez mais buscando abocanhar uma fatia desse mercado, atraindo prêmios e talentos para seu já robusto portfólio.

“Assim como os amantes da arte, nós também adoramos o cinema. Nos últimos anos, trabalhamos com os distribuidores e lançamos cerca de 30 filmes nos cinemas ao redor do mundo – a maioria de forma simultânea [com o lançamento no streaming] e alguns pré-exibidos nos cinemas. Os lançamentos nos cinemas são importantes para alguns cineastas e também são uma exigência para alguns festivais e prêmios, e sempre que fizer sentido para atender a essas expectativas, vamos adotar essa iniciativa”, comentou, com exclusividade, a Netflix Brasil ao Portal Exibidor.

No Brasil, essa parceria da plataforma com os cinemas vem acontecendo com a O2 Play, que foi responsável por levar O Irlandês às telonas em 2019 e, nesta quinta-feira (12), lança outro aguardado título do serviço de streaming, Era Uma Vez Um Sonho. O filme é dirigido por Ron Howard e protagonizado por Amy Adams e Glenn Close, que já estão chamando a atenção da crítica pelas caracterizações de suas personagens. A produção entra em cartaz em alguns cinemas selecionados, como Espaço Itaú, Petra Belas Artes, Kinoplex e até em drive-ins, como o Alpha Cine Drive-In.

Em dezembro, estreia o aguardadíssimo Mank, de David Fincher. O filme contou com algumas exibições nos Estados Unidos, nas quais os críticos já deram aprovação de 89% no Rotten Tomatoes para o longa protagonizado por Gary Oldman. Há quem aposte que esta será a chance da Netflix levar o Oscar de Melhor Filme, e essa possibilidade só poderá se concretizar com a exibição nos cinemas.

Outro aguardado título, esse do qual ainda faltam mais informações, é The Midnight Sky, produzido e protagonizado por George Clooney. O longa trata de um futuro pós-apocalíptico e que conversa diretamente com a nossa atual realidade.

“Dado o apetite das pessoas por filmes, está claro que exibidores e serviços de streaming podem coexistir e ter sucesso. Como os últimos anos mostraram, a Netflix e os cinemas podem prosperar lado a lado. As pessoas gostam de ter escolhas, alguns preferem assistir aos filmes em cinemas enquanto outros preferem assistir em casa ou a qualquer momento”, finalizou a companhia.

Aposta em originalidade

Inclusive, hoje foi divulgado que David Fincher fechou um acordo de mais quatro anos de exclusividade com a Netflix, a partir do lançamento de Mank. Para a plataforma ele já produziu as aclamadas séries Mindhunter, Love Death + Robots e House of Cards, e se diz contente em criar para a Netflix, pois “tira a pressão de ter que alcançar números estrondosos de bilheteria” e acrescentou: “Se apenas fizéssemos o que era inteligente [no sentindo de focar em grandes arrecadações], provavelmente haveria apenas filmes da Marvel, Star Wars e Jurassic Park”, criticou em entrevista ao Total Film, divulgada pelo Indie Wire.  Na conversa, ele se mostrou descontente com a falta de espaço e oportunidades que os estúdios estão dando aos cineastas mais autorais e independentes, justamente pela necessidade de faturar grandes cifras nas telonas, o que para ele deixa o cinema tradicional sem grande originalidade.

Esse descontentamento também foi mostrado por Sofia Coppola no seu recém lançamento na Apple TV+, On the Rocks. Em entrevista à Premiere, ela deu a entender que sem os streamings, o cinema independente estaria morto e explicou que a produtora A24 foi atrás de várias distribuidoras para fazer o filme chegar na tela grande, mas não houve interesse no lançamento.

O mesmo caminho está sendo seguido por Noam Baumbach, que ano passado lançou História de um Casamento e até por Martin Scorsese, que fez barulho com o seu aclamado O Irlandês, ambos da Netflix. Mas a discussão começou a pegar fogo mesmo quando Alfonso Cuarón surpreendeu o mercado com os prêmios recebidos por Roma, lançado pela Netflix, no fim de 2018. Dadas as críticas pelo pequeno lançamento nos cinemas, Cuarón retrucou dizendo que os grandes estúdios não teriam interesse em lançar o filme de forma tradicional, já que foi gravado em preto e branco e é falado em espanhol e mixteco.

Ali a Netflix parece ter comprado uma briga com as majors e também com os exibidores, que viram o serviço como uma ameaça ao setor, já que não respeitava a tradicional janela de 90 dias. Ao que tudo indica, com as transformações impostas pela pandemia, vai ser justamente o streaming a trazer uma luz no fim do túnel aos cinemas do mundo todo.

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