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17 Novembro 2020 | Fernanda Mendes

Disney+ chega ao Brasil para disputar a atenção do consumidor

Gigante de Hollywood já angariou números homéricos nos EUA e chega gerando burburinho no mercado brasileiro

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(Foto: Disney)

O serviço de streaming do maior estúdio de Hollywood chega hoje (17) para a América Latina, incluindo o Brasil. Mas o que isso significa?

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O Disney + mostrou que não está para brincadeira. Primeiro porque traz um catálogo invejável, com 40 conteúdos originais do serviço, 500 filmes já consagrados de todas as suas marcas (Pixar Animation Studios, Marvel Studios, Walt Disney Animation Studios etc) e mais de 7 mil episódios de séries. Além disso, firmou uma parceria bastante estratégica com o maior conglomerado de mídia no País, a Globo.

Juntos, Globoplay e Disney+ poderão ser assinados em uma única oferta a partir de R$ 37,90. O streaming da Disney também dará desconto para clientes do MercadoLivre, oferecendo até seis meses de gratuidade aos usuários que realizarem a assinatura do serviço por 12 meses.

Tudo isso, é claro, como forma de angariar uma boa base de assinantes. A companhia ainda não divulgou números da sua pré-venda, que começou no dia 3 de novembro, mas nos EUA o Disney+ já é um sucesso. Bob Chapek, CEO da companhia, anunciou nesta semana a marca de 73,7 milhões de assinantes após um ano de lançamento do serviço no país. Lembrando que a expectativa era atingir essa marca só em 2024. Agora, analistas do mercado esperam que o serviço alcance 195 milhões de clientes até 2025.

Em entrevista ao Portal Exibidor, Márcio Rodrigo Ribeiro, professor de Cinema e Audiovisual da ESPM (SP), explica que a chegada do streaming da Disney ao Brasil deve mexer positivamente com o mercado audiovisual. “O Disney+ tem um catálogo de produtos fortes e sabe o que veio buscar no Brasil. Para se ter ideia, o País está no top 3 de maiores mercados do mundo para a Netflix”.

E com uma base de consumidores tão ávidos por novos conteúdos audiovisuais, já se pode ter uma ideia do potencial de audiência que o Disney+ pode alcançar, olhando apenas para os números de espectadores nos cinemas no Brasil em 2019, como atenta o professor. No ano passado, cerca de 50% dos ingressos vendidos foram para filmes da Disney.

Para a estreia do serviço no Brasil, o público pode esperar no catálogo do Disney+ mais conteúdos originais, não só vindos de Hollywood como também regionais. A companhia já anunciou que está desenvolvendo 70 produções na América Latina, incluindo Brasil, México, Argentina e Colômbia.

Essa estratégia, amplamente utilizada também pela Netflix como forma de se aproximar do público local, beneficia não só os espectadores mas também o mercado audiovisual brasileiro que receberá mais investimento, indo além do financiamiento público, que sofre com um passivo bilionário desde 2019. Apesar da demora para a aprovação de uma legislação voltada ao streaming no Brasil, que está em discussão desde 2018, Márcio Rodrigo acredita que a lei poderá ser muito parecida com a Lei do Acesso Condicionado, voltada à TV a cabo, com cotas para conteúdos independentes brasileiros. “Precisamos ter paciência e negociar o nosso próprio desenvolvimento para o audiovisual, idependentemente do dinheiro do Estado, porque todas as vezes que dependemos deste auxílio financeiro, o mercado acaba colapsando”.

Com Netflix no mercado, Amazon e outros tantos pequenos streamings de nicho, a Disney+ entra na disputa pelo bolso do consumidor. A tendência amedronta as operadoras de TV a cabo que temem perder a fatia de mercado que antes dominavam. “O que eu vejo é que enquanto as TVs por assinatura, suas base de clientes só vêm encolhendo, as bases de streaming só vêm crescendo. Acredito que cada vez mais as plataformas de streaming fecharão acordos com as operadoras de TV para empacotar esses serviços. As plataformas nichadas também devem acabar entrando nesses pacotes”, explica Márcio.

Janela do cinema

Não só as operadoras de TV, mas também os exibidores cinematográficos do mundo todo já sentem o peso da chegada do Disney+ no mercado, devido a retirada de grandes filmes programados aos cinemas que acabaram estreando direto no serviço, caso do live-action de Mulan e, em dezembro, será a vez da animação da Pixar, Soul. Essas mudanças foram testadas e causadas por conta da pandemia do Coronavírus, que causou o fechamento de cinemas no mundo todo.

As notícias dessas alterações no line-up da Disney para os cinemas mexeram com os exibidores, que dependem muito de grandes títulos do estúdio para atraírem os espectadores, ainda mais em um momento de reabertura das salas. Mas, para acalmar os ânimos, Victoria Alonso, Produtora Executiva da Marvel Studios, concedeu uma entrevista recente ao jornal argentino Clarín explicando que os títulos com este selo provavelmente não pularão a janela do cinema, pois são pensados para serem vistos nas telonas, em comunidade.

“Nós sempre dizemos que acreditamos em diferentes formatos, e é importante manter o costume, a tradição de ver certos filmes em comunidade. Com Vingadores: Ultimato fizemos como sempre: todos as sextas-feiras antes do lançamento de um filme, vamos assistir com pessoas que nunca vimos antes. Se você assiste com 500 pessoas ou 1.000 pessoas ou 100 pessoas que estavam no cinema, o que você sente quando assiste esse filme com outras pessoas é algo muito diferente ao que sente em uma sala com cinco ou seis pessoas que vivem em sua casa. Então, sempre que seja algo que podemos e que nos permitam pelas medidas de sanidade, queremos que nossos filmes sejam vistos nos cinemas”.

Para Márcio Rodrigo, o futuro também é bastante claro, apesar da tendência acelerada pelo Covid-19 em consumo de streaming. “Claro que teremos filmes menores, mas ir ao cinema para ver as grandes estreias é um movimento que continuará acontecendo e o exibidor continuará vendendo ingresso, especialmente com blockbusters americanos. Esse mercado retomará”.

Cinema ou streaming, fato é que a Disney fez uma boa reestruturação interna para separar o joio do trigo, digamos assim. Desde outubro, há um novo departamento de Distribuição de Mídia e Entretenimento, que visa cuidar apenas da comercialização e estratégias de lançamento a parte dos três grupos de criação para cinema, TV e streaming.

A ideia, segundo o CEO da Disney, é encontrar as melhores maneiras de lançamento para cada tipo de conteúdo produzido. “Gerenciar a criação de conteúdo diferenciando-a da distribuição nos permitirá sermos mais efetivos e ágeis em fazer os conteúdos que os consumidores mais querem assistir e entregar da maneira que eles preferirem consumir”.

Com concorrentes parrudos aqui no país, o Disney+ mostrou que também tem uma estratégia forte para atuar no mercado brasileiro, quem sabe se tornando até mesmo líder por aqui? Bom, fica claro que o novo serviço será mais um canal de distribuição de fortes conteúdos com apelo para estratégias de licenciamento e marca. E o Brasil já se mostrou pronto para receber de braços abertos.

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