Exibidor

Publicidade

Notícias /mercado / Especial

26 Janeiro 2021 | Fernanda Mendes

Protocolos de segurança impactam gravações e devem continuar mesmo após quarentena

Produções se adaptam com reduções nas diárias e mudança nos roteiros

Compartilhe:

Bastidores de "Detetive Madeinusa" (Foto: Stella Carvalho)

Todos os setores da economia mundial precisaram se adaptar à pandemia de Covid-19 e, para a área de produção audiovisual, não foi diferente. Gravações no mundo inteiro foram paralisadas logo em março do ano passado e aos poucos voltam aos sets de filmagem, mas com protocolos e cuidados que antes nunca foram pensados.

Publicidade fechar X

Tudo é uma experimentação e, em alguns casos, as produções precisaram paralisar novamente por detectarem casos de infecção de Covid-19 no elenco e equipe. Exemplo recente do filme The Batman, em que o protagonista Robert Pattinson foi diagnosticado com o vírus e houve atrasos nas gravações.

Há também os casos em que a equipe ainda apresenta dificuldades em manter a rigidez nos protocolos de segurança. O caso mais famoso, e que tomou conta dos tabloides, foi no set de Missão Impossível 7 com Tom Cruise. Um áudio com o ator dando uma bela bronca na equipe por não cumprirem os protocolos vazou no mundo inteiro. "Vocês entendem a responsabilidade que têm? Se vocês não conseguirem ser razoáveis e eu não conseguir lidar com sua lógica, vocês estão demitidos", disse na gravação.

Apesar do cunho da fala do ator ter passado da medida, Cruise está coberto de razão. Com as seguradoras excluindo de suas cláusulas o fator “pandemia mundial”, a responsabilidade financeira e de saúde nas gravações fica totalmente por conta das produtoras e trabalhadores.

No Brasil, algumas cidades já autorizaram a retomada das gravações há um certo tempo, enquanto outros municípios nem reabriram os sets ou já voltaram a fechá-los novamente. Por isso mesmo, em entrevista ao Portal Exibidor, a presidente do Sindcine (Sindicato Interestadual dos Trabalhadores da Indústria Cinematográfica e do Audiovisual), Sônia Santana, ressaltou o papel não só do sindicato como também das empresas de biossegurança no acompanhamento dos sets de filmagem para que ninguém corra o risco de contaminação. Uma das principais lutas, segundo ela, é em relação à extensão do prazo de pré-produção e a preservação de 12 horas de diária, principalmente nos sets para publicidade, onde a pressão pela entrega da peça é ainda maior.

Nas gravações para conteúdo (séries, novelas e filmes), Sônia acredita que os players respeitam mais a jornada de trabalho e há um maior plano de contingência, no entanto, é claro, que há riscos nos sets, sendo o maior deles entre o elenco que circula mais entre os departamentos e atua sem máscara. Segundo a presidente, apesar disso, houve poucos casos de contaminação até o momento, e nada grave.

“Os profissionais, principalmente as associações que se envolveram no desenvolvimento do documento com os protocolos de segurança, agem com muita cautela, só vão para o set com segurança. Tanto as grandes, como as pequenas produtoras estão fazendo além do protocolo, não só exigem o processo de testagem, mas também o acompanhamento dos técnicos, porque se alguém da equipe está com dor de cabeça, a empresa de biossegurança vai monitorando até na casa desse trabalhador por meio de telemedicina. Queremos esse processo de gerenciamento de saúde dos técnicos pós-pandemia também, porque vimos que é importante”, conta.

O Sindcine, junto com outros sindicatos como SIAESP e APRO, é responsável pelo documento com os protocolos de segurança para que o setor possa se basear no retorno às gravações. O documento é delimitado em três fases: a primeira, de trabalho remoto; a segunda, voltada ao trabalho mais expandido e híbrido e, nos próximos dias, oficializarão os protocolos para a terceira fase, que abrange os projetos de longo prazo. “Esta fase está mais rígida porque nos baseamos nas experiências de outras fases, o sindicato acompanhou várias produções”, explica.

Hadija Chalupe da Silva, professora do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM-Rio, ressaltou a importância da conscientização de todos os trabalhadores de uma produção. “A desvalorização, o não reconhecimento da importância econômica e social dos profissionais da área da cultura, os diversos cortes e ausências de investimentos no setor criam um ambiente de desemprego crônico e insegurança, jogando para o indivíduo a responsabilidade da 'escolha' do retorno para a frente de trabalho. Por essa razão, o protocolo deve ser cumprido com rigor, pois são as vidas dessas pessoas que estão em jogo”.

Hadija também explicou que, muitas vezes, por conta dos novos procedimentos e diárias mais curtas, as narrativas também sofreram modificações tanto como forma de minimizar os riscos de contaminação, como para readequar às condições orçamentárias dos projetos. “A escolha da história e do roteiro a ser filmado dá a tônica dos desafios que cada equipe enfrentará”.

Produções na pandemia

Entre as filmagens que começaram na pandemia, duas delas são da Galeria Distribuidora, Papai É Pop, estrelado por Lázaro Ramos e Paolla Oliveira, e Detetive Madeinusa, com Tirullipa e Whindersson Nunes. Esta última, aliás, com um imprevisto logo no começo da produção: o humorista Tirullipa, testou positivo para a Covid-19, o que gerou um hiato de cinco semanas entre a suspensão e o primeiro dia de filmagem. No fim, as gravações duraram quase 30 dias, todos em segurança.

“O tempo é outro, são novos procedimentos e novos valores. A volta para os sets de filmagens requer muito cuidado, é necessária disciplina nesse aspecto, pois estamos tratando de vidas. Logo, seguir os protocolos de segurança é uma postura social, humana e profissional”, conta Deborah Nikaido, gerente de conteúdo da Galeria Distribuidora. “É tudo muito novo, então, vez ou outra nos deparamos com algumas situações adversas, como quando o profissional acredita estar imune por já ter pegado Covid-19, ou quando insistem em utilizar suas próprias máscaras de proteção. Nesses casos, contamos com um time de fiscais preparados para sanar dúvidas e orientar a equipe da melhor forma possível”.

Entre as soluções discutidas com sindicatos, produtoras e colegas de trabalho, a Galeria vem adaptando seus sets para ter ainda mais segurança. Em Papai É Pop, 70% das cenas serão gravadas em um mesmo cenário, onde a equipe de arte fará com que uma mesma estrutura se transforme em outros ambientes, além disso, a Prodigo, coprodutora do longa, trouxe a ideia de utilizar um painel de LED de “virtual production”, para replicar as cenas externas, que além de funcionarem como fonte de luz, trazem mais realismo para a dramaturgia.

“Também estamos trabalhando com um plano de filmagem com uma semana a mais que a média de gravações, garantido que o Caito Ortiz, diretor da comédia, possa cumprir com todos os planos ao mesmo tempo que cumpre com as medidas de proteção. Enfim, são novas atitudes com base na consciência coletiva e a auto responsabilidade”, explica Deborah.

Já é fato, os protocolos e adaptações à pandemia continuarão ainda por um bom tempo no setor e, com certeza, terão um impacto para pós-pandemia, como afirma a presidente do Sindcine. Sônia enxerga uma grande possibilidade na volta dos profissionais acima de 50 e 60 anos, por exemplo, por estes serem os primeiros a tomarem a vacina. “Queremos atualizá-los profissionalmente para uma janela de oportunidades que se abriu”, conta. Além disso, a exigência dos EPIs (Equipamento de Proteção Individual) continuará por pelo menos mais um ano e meio até uma alta parcela da população ser vacinada, dentre outras coisas.

“Mesmo com as incertezas quanto ao futuro do impacto global da pandemia, uma coisa é certa: teremos que nos adaptar. Pré e pós-produção, roteiros, filmagens e distribuição não estarão imunes ao mundo que surgirá depois da quarentena. Nós encontramos formas seguras de realizar as nossas atividades, e ao mesmo tempo responder às demandas do mercado, desenvolvendo soluções para esse novo momento”, finaliza Deborah, da Galeria.

Compartilhe:

  • 0 medalha