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13 Maio 2021 | Renata Vomero

Embaúba Play aposta em cuidadosa curadoria e acervo recheado de novidades brasileiras

Plataforma estará disponível a partir de 14 de maio

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(Foto: Embaúba Play)

A nova plataforma brasileira, Embaúba Play, chega ao mercado de entretenimento doméstico nesta sexta-feira (14). Com uma cuidadosa curadoria voltada ao cinema nacional contemporâneo, o serviço tem objetivo de dar maior acesso a longas, médias e curtas brasileiros que não tenham tanto espaço nos grandes cinemas do país.

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“A ideia surgiu de um incômodo que eu tinha, de ver que muitos filmes brasileiros excelentes eram lançados em mostras e festivais e depois ‘sumiam do mapa’ ou se tornavam de difícil acesso. A vontade foi então criar um espaço onde esses filmes ficassem disponíveis, em que pudessem ser assistidos a qualquer momento, entendendo que a internet seria o caminho natural para isso. Vivemos um hiato entre o fim das locadoras de DVD e o surgimento de um mercado de locadoras virtuais”, explicou Daniel Queiroz, diretor da Embaúba Filmes e coordenador geral da plataforma.

A Embaúba Play contará, já em seu lançamento, com mais de 300 títulos no catálogo, entre eles, filmes de talentos do cinema independente nacional, como Adirley Queirós, Affonso Uchôa, André Novais Oliveira, Bruno Safadi, Felipe Bragança, Gabriel Mascaro, Guto Parente, Helena Ignez, Juliana Rojas, Kleber Mendonça Filho, Leonardo Mouramateus, Marcelo Caetano, Marcelo Pedroso, Marco Dutra, Marília Rocha, Maya Da-Rin, Paula Gaitán, Renata Pinheiro, Rodrigo de Oliveira, Sandra Kogut e Thiago Mendonça.

Diferente da maior parte dos serviços lançados atualmente, a plataforma não exigirá uma assinatura fixa para que os títulos sejam acessados, eles estarão disponíveis por 72 horas mediante pagamento de aluguel de US$1,50. Além disso, diversos conteúdos poderão ser vistos gratuitamente, com destaque à mostra gratuita de abertura do serviço, além de uma retrospectiva do cinema nacional e contemporâneo.

Com tudo isso, o maior diferencial da Embaúba Play se torna justamente a preocupação com o conteúdo, indo além dos títulos, mas pensando neles como algo maior, trabalhando com conteúdos relacionados, vídeos, lives, debates. Tudo isso tendo o cuidado de levar um maior entendimento do nosso cinema para o público.

“Sem dúvida o maior diferencial é o nosso acervo, o conjunto de títulos que estamos reunindo, além do cuidado com a apresentação dos mesmos, em páginas que trarão, além das informações básicas, uma fortuna crítica, links para entrevistas, textos, lives, etc. A grande maioria das plataformas trabalha apenas com longas metragens já lançados comercialmente. Na Embaúba Play teremos filmes que são possíveis de encontrar em vários lugares, alguns títulos amplamente conhecidos, mas teremos também produções de perfil mais independente, incluindo curtas e médias metragens, que não estão em nenhum outro lugar, licenciadas diretamente com os realizadores. Foi triste constatar, inclusive, que alguns filmes que gostaríamos de incluir não existem mais, arquivos digitais se perderam com o tempo ou não existem cópias digitais com boa qualidade de filmes realizados originalmente em película”, reforçou Queiroz.

Há no executivo a preocupação e a consciência da importância deste lançamento em termos de formação de público, algo crucial para estimular a indústria audiovisual brasileira, de ponta a ponta. Com a pandemia, o mercado ficou um tanto bagunçado, com o cinema perdendo o protagonismo, dando lugar a muitas plataformas do tipo, por isso, a importância de um trabalho voltado a dar maior acesso a obras não tão conhecidas, alimentando a possibilidade de conquistar mais público para o cinema no futuro e crescendo o espaço para títulos que não costumar ser visibilizados.

“Vejo o cinema como um lugar sagrado, insubstituível, espaço ideal para se ver um filme, que permite a imersão como nenhum outro. A experiência de um mesmo filme visto no cinema e visto em casa é completamente diferente, independentemente da qualidade dos equipamentos e do tamanho da tela que se possui. Isso tem a ver com a imersão do cinema, com o coletivo, com a experiência social. Creio, inclusive, que o cinema passará por uma revalorização muito grande após essa crise que estamos vivendo. Mas os filmes são vistos tanto nos cinemas quanto em casa e isso não é de hoje. Mas se antigamente só tínhamos a opção de ver filmes em casa pela TV, isso foi mudando com o VHS, com o DVD e se transformou completamente com a internet. A facilidade de acesso é, hoje, sem precedente. O lançamento de várias plataformas é uma tendência natural do mercado, com muitas empresas disputando as fatias do bolo. O bom é que a tecnologia abre espaço também para os pequenos, para plataformas menores, mais especializadas, como a Embaúba Play”, finalizou.

Além da mostra inaugural e os títulos disponíveis, a Embaúba Filmes contará também com oito pré-estreias de títulos inéditos no circuito comercial, que fazem parte do catálogo da Embaúba Filmes, como Espero que esta te encontre e que estejas bem, de Natara Ney; Kevin, de Joana Oliveira e Eu, Empresa, de Leon Sampaio e Marcus Curvelo e dois lançamentos, filmes que são totalmente inéditos, terão sua primeira exibição na mostra: Aqui jaz teu esquema, de Gabraz Sanna e Brizolão, de Jéferson.

 

Confira a entrevista com Daniel Queiroz na íntegra:

Como surgiu a ideia de criarem o streaming próprio de vocês?

A plataforma começou a ser concebida em 2012, antes mesmo de eu me aventurar pelo mercado de distribuição com a Embaúba Filmes, mas ela acabou demorando para sair do papel. A ideia surgiu de um incômodo que eu tinha, de ver que muitos filmes brasileiros excelentes eram lançados em mostras e festivais e depois “sumiam do mapa” ou se tornavam de difícil acesso. Eu fui programador de salas e festivais de cinema. Trabalhei por muitos anos no Festival Internacional de Curtas de BH e na Semana dos Realizadores, hoje rebatizada para Semana de Cinema. Isso me permitiu, desde 2005, acompanhar de perto a enorme evolução pela qual o cinema brasileiro passou nesse período. A vontade foi então criar um espaço onde esses filmes ficassem disponíveis, em que pudessem ser assistidos a qualquer momento, entendendo que a internet seria o caminho natural para isso. Vivemos um hiato entre o fim das locadoras de DVD e o surgimento de um mercado de locadoras virtuais.

 

 

 

Estamos vivendo este momento de muitos lançamentos de plataformas, para vocês qual é a importância da janela de cinema também? 

Vejo o cinema como um lugar sagrado, insubstituível, espaço ideal para se ver um filme, que permite a imersão como nenhum outro. A experiência de um mesmo filme visto no cinema e visto em casa é completamente diferente, independentemente da qualidade dos equipamentos e do tamanho da tela que se possui. Isso tem a ver com a imersão do cinema, com o coletivo, com a experiência social. Creio, inclusive, que o cinema passará por uma revalorização muito grande após essa crise que estamos vivendo. Mas os filmes são vistos tanto nos cinemas quanto em casa e isso não é de hoje. Mas se antigamente só tínhamos a opção de ver filmes em casa pela TV, isso foi mudando com o VHS, com o DVD e se transformou completamente com a internet. A facilidade de acesso é, hoje, sem precedente. O lançamento de várias plataformas é uma tendência natural do mercado, com muitas empresas disputando as fatias do bolo. O bom é que a tecnologia abre espaço também para os pequenos, para plataformas menores, mais especializadas, como a Embaúba Play, que foi viabilizada com um orçamento bem modesto (45 mil reais, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, com patrocínio do Uni-BH).

Quais são os diferenciais da Embaúba Play? 

Sem dúvida o maior diferencial é o nosso acervo, o conjunto de títulos que estamos reunindo, além do cuidado com a apresentação dos mesmos, em páginas que trarão, além das informações básicas, uma fortuna crítica, links para entrevistas, textos, lives, etc. A grande maioria das plataformas trabalha apenas com longas metragens já lançados comercialmente. Na Embaúba Play teremos filmes que são possíveis de encontrar em vários lugares, alguns títulos amplamente conhecidos, mas teremos também produções de perfil mais independente, incluindo curtas e médias metragens, que não estão em nenhum outro lugar, licenciadas diretamente com os realizadores. Foi triste constatar, inclusive, que alguns filmes que gostaríamos de incluir não existem mais, arquivos digitais se perderam com o tempo ou não existem cópias digitais com boa qualidade de filmes realizados originalmente em película.

Esse diferencial do acervo se dá pelo trabalho curatorial. Não fazemos um “ajuntamento” de filmes sem critério, mas avaliamos a pertinência da inclusão de cada obra, com uma seleção cuidadosa. Apresentamos também filmografias bem completas, com vários títulos de nomes importantes das novas gerações do cinema brasileiro, dando a oportunidade ao público de conhecer a trajetória de cineastas que, por vezes, são conhecidos só pelos longas ou por alguns filmes mais recentes que tiveram maior repercussão.

Vocês têm como proposta trabalhar o cinema nacional contemporâneo, qual é a importância de dar maior acesso ao nosso cinema e como isso impacta em termos de formação de público para o futuro? 

Vejo a formação de público como um aspecto chave para a evolução da nossa sociedade. Por fatores diversos, econômicos, sociais e educacionais, boa parte do público praticamente só tem acesso à blockbusters. A maior parte dos filmes brasileiros e dos internacionais que não vêm de Hollywood tem dificuldade para chegar a um público mais amplo. Isso é muito ruim, pois são justamente as obras de maior valor artístico, aquelas mais estimulantes, que podem ter um efeito transformador. Isso não ocorre apenas com o cinema. Outras áreas como a música e a literatura enfrentam o mesmo dilema.

É claro que há filmes com um perfil mais experimental, narrativas menos convencionais, que tendem mesmo a ser filmes “de nicho”. Mas há uma produção imensa no país que poderia fazer enorme sucesso, se tivesse mais oportunidade para chegar ao público. Filmes como Arábia, Inferninho e No Coração do Mundo, para ficar apenas em três exemplos de títulos distribuídos pela Embaúba, repercutem muito bem com as mais distintas audiências. Mas não conseguimos exibi-los nas grandes redes de cinema, nem chegar com eles na TV aberta. Ter uma plataforma na internet em que filmes como esses possam ser vistos é, assim, muito importante. Claro que isso por si só não basta, os desafios para que sejam efetivamente acessados são muitos. Mas ações como essa podem fazer a diferença para muita gente, contribuir para, aos poucos, irmos mudando esta realidade.

 

Como enxergam o mercado de distribuição (cinema e streaming) neste momento de pandemia e como imaginam que será depois que isso passar? 

A pandemia acelerou processos que já vinham em curso, a Netflix já havia começado a bagunçar o coreto e as empresas de entretenimento passaram a se adaptar. A tendência hoje é que as pessoas deixem de ter um serviço único de uma TV paga, assinando diretamente diversas plataformas. Esse mercado está sendo disputado por grandes corporações, que enxergam o potencial de receita crescente pela internet. Até então o cinema ainda se mostrava como o carro chefe, a janela principal para os longas-metragens. Hoje isso já começa a mudar, há empresas anunciando lançamentos simultâneos no cinema e pela internet e mesmo filmes que são produzidos para serem lançados diretamente em plataformas digitais.

É difícil fazer prognósticos, mas creio que é um caminho sem volta. A ida ao cinema tende a ser mais episódica, um programa especial, que certamente seguirá acontecendo, mas com menor frequência (até mesmo pelo valor do ingresso, lembrando que mesmo antes dessa crise, menos de 10% da população frequentava salas de cinema). Os filmes serão cada vez mais vistos em ambiente doméstico. Mas, sinceramente, não me preocupo muito com essa briga de cachorro grande, entre os grandes grupos exibidores e as grandes plataformas de streaming.

A minha maior preocupação é com os menores, com os independentes, com a sobrevivência das salas de cinema que tem uma programação mais diversificada, com as distribuidoras de porte menor que garimpam bons títulos internacionais e os trazem para o Brasil e, principalmente, com a possibilidade de continuidade da produção brasileira de perfil mais autoral, com filmes que possam ser concebidos com objetivos outros para além de gerar receitas. Isso não é possível sem a ação direta do Estado e vivemos hoje um momento de muita incerteza, de desmanche do que vinha sendo construído.

A indústria é importante, sabemos que o audiovisual contribui muito para o PIB, gera empregos, ajuda no desenvolvimento econômico, mas a arte precisa ser vista sempre por outro prisma, estimulada, em sua criação e circulação, com outros vieses. Penso que já passou da hora de deixar o preconceito de lado ao se falar em “cinema de arte”, como se isso fosse algo de uma “elite intelectual” e que espanta o público (é um termo muito renegado, inclusive no meio cinematográfico). A arte e os artistas precisam ser cada vez mais valorizados. Imagine o que seria de nós sem a companhia da arte, nesse momento de confinamento, de isolamento social. Não é sem razão que alguns governos temem tanto os artistas. A arte liberta, faz pensar, sonhar… são clichês, mas no meu entender é a realidade.

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