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26 Agosto 2021 | Renata Vomero

"Encarcerados" é rico complemento às adaptações audiovisuais da obra de Drauzio Varella

Documentário estreia hoje nos cinemas do Brasil

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(Foto: Divulgação)

Não há quem não conheça a figura de Drauzio Varella no Brasil, com um trabalho profundo e humanitário em diversos segmentos da sociedade, o médico trabalhou durante anos dentro de presídios brasileiros, em contato direto com presos e carcereiros, vendo de perto a dura realidade do nosso regime penitenciário.

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Deste trabalho, vieram diversos livros e deles alguns importantes e impactantes trabalhos audiovisuais, como o filme Carandiru, e a série e filme Carcereiros, completando essa biblioteca cinematográfica, chega hoje nos cinemas o documentário Encarcerados, com distribuição da Gullane, produção da Spray e Gullane, em coprodução com Globo Filmes e GloboNews.

O filme é dirigido por Claudia Calabi, Fernando Grostein Andrade e Pedro Bial e foi filmado antes da pandemia, contando com relatos de diversos agentes penitenciários, alguns na ativa, outros já aposentados, fazendo um retrato da rotina dentro dos presídios.  

Tanto Claudia, quanto Fernando, já haviam retratado essa realidade com o documentário Quebrando o Tabu e o filme Na Quebrada, portanto já conheciam alguns agentes e já tinham contato com Dráuzio Varella, pela questão da temática do sistema prisional brasileiro.

Desta forma, ficou muito mais fácil juntar a equipe que faria este documentário, bem como superar um dos maiores desafios quando se mergulha neste tema, que é conquistar a confiança destes profissionais, para que dessem seus depoimentos no filme e mostrassem seus olhares ao público.

“O tempo todo eles se sentiram preocupados, eles são funcionários públicos e passam o tempo todo preocupados com o que vão dizer. Aliás, detestam a imprensa, porque qualquer coisa pode ser tirada de contexto e virar manchete. A equipe soube ganhar essa confiança, isso não é simples. Ajudei, mas não basta, é importante que eles sintam essa confiabilidade, sem ela não se faz nada, porque são muito desconfiados o tempo todo. Só com isso é que vocês conseguiram os depoimentos que foram para o filme”, comentou Drauzio Varella em coletiva de imprensa realizada em formato online para o lançamento do documentário.

“Essa confiança foi construída, sempre houve respeito para a pessoa falar apenas o que se sentisse a vontade, isso foi sendo desenvolvido. Havia algumas lideranças lá dentro que a gente tinha contato, tinha o nosso compromisso de não expor ninguém e fomos muito cuidadosos com isso. Mesmo quando o corte estava pronto, passamos para os agentes mais próximos para ver se eles se incomodavam com algo, se feria alguém no processo. Foi próximo e fomos muito transparentes com eles o tempo todo, também dividindo com eles. Foi algo a ser construído”, complementou Claudia Calabi.

Além de dar voz a estes profissionais, o documentário também constrói uma linha do tempo desde a ditadura militar, passando pela criação do PCC e os dias atuais, tudo isso mostrando como alguns acontecimentos políticos e sociais tiveram impacto direto no sistema.

Se complementa a este retrato também a reflexão, claro, sobre como o Brasil está tratando essa população e o olhar totalmente invisibilizado tanto para a questão da violência, seja ela dentro ou fora dos presídios, tanto para toda problematização em torno de punição, desigualdade e direitos humanos.

“Acredito na tese de que jogar luz nos cantos escuros da sociedade é importante, a informação liberta. É importante retratar isso para as pessoas entenderem o que se passa dentro dos presídios. A cadeia não é feita para punição apenas para isso, é feita para reabilitar. A conta não fecha, o estado precisa gastar mais com educação do que com detenção. A gente mostra o quanto não funciona, mostra um sistema que prende mais do que sua capacidade de prender, e aí deixa de ter capacidade de reabilitar. Isso está criando uma bomba relógio. Quem tem dinheiro, está ficando com cada mais dinheiro. A desigualdade social só aumenta, há uma ideia equivocada de que um país rico é o que tem mais bilionários, e não é, é o que a renda é melhor distribuída”, reforçou Fernando.

Traçando toda a trajetória deste sistema, o documentário não deixa de esbarrar na questão da pandemia, embora tenha sido filmado antes dela. É impossível assistir ao filme e não pensar em como estão aquelas pessoas naquele momento e como uma situação já desumana, pode ter sido potencializada pela crise humanitária.

Quanto a isso, a equipe não descarta a possibilidade de trabalhar em desdobramentos, para além disso, também não descartam que outros profissionais de cinema partam do filme para fazer seu próprio retrato da situação. No entanto, tanto o documentário, quanto os outros conteúdos sobre o tema, tanto nos livros de Drauzio, quanto os filmes já produzidos sobre o tema, geram material e reflexão suficiente para o público também preencher esta lacuna.

“As obras se retroalimentam, entendendo o que vai acontecer com Encarcerados, certamente podem ter mais desdobramentos. O Encarcerados era para ser o primeiro projeto de uma grande série que virou esse trabalho do Drauzio, que tem a série e filme, todo esse conjunto de obras sobre o tema cumpre bem a função de jogar luz ao tema. Acho que exploramos tudo isso de um jeito muito amplo”, finalizou o produtor Fabiano Gullane.

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