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17 Novembro 2021 | Juliane Albuquerque

Encontro de gestores da indústria trouxe olhar de negócios para o audiovisual

A Expocine 2021 realizou conversas sobre negócios e investimentos para o setor

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(Foto: Márcio Neves)

A primeira manhã de conversas da versão virtual da Expocine 2021 abriu tocando em um tema muito importante para a retomada pós-pandemia de todo o setor audiovisual: investimentos. Em uma mesa chamada “Programas de Atração de Investimento na Retomada Econômica Pós-Covid”, composta por representantes de diferentes setores ligados ao assunto, foi possível ter olhares variados contando com Andressa Pappas, da MPA (Motion Picture Association), Daniella Galvão, da CQS/FV Advogados e Gustavo Rolla, da Ancine, com mediação de Maria Izabel Mello, da Fecomercio SP.



 

O debate sobre as perspectivas de atração de investimento ao setor audiovisual tratou de novas ações que têm sido implementadas em várias parte do mundo, como os programas de Tax Credit e Cash Rebate, que de acordo com estudos divulgados pela consultoria Olsberg SPI, geram um impacto significativo nas economias dos países e estados que adotam esses programas. Segundo o estudo esses programas já geraram 14 milhões de postos de trabalho ao redor do mundo em novas produções, o que acaba sendo revertido em outros setores além do audiovisual, cerca de 77% vão para áreas como vestuário, segurança, transporte, alimentação, entre outras.

Andressa Pappas iniciou sua fala justamente destacando a importância desses programas de investimento e incentivo estrangeiros. “Eles são convidativos porque preveem reembolso por crédito fiscal (tax credit) ou devolução de parte dos recursos (cash rebate) e o impacto positivo destes incentivos num contexto de pandemia e pós-pandemia é que consequentemente as produções AV promovem a cultura, ampliam a visibilidade global do país e estimula a capacitação profissional”, disse.

Andressa também afirmou que hoje mais de 100 jurisdições ao redor do mundo utilizam esses programas de incentivo, mas o Brasil não está no mapa ainda, infelizmente. Há ao menos um programa municipal desse gênero, criado pela SPCine e que é o 1º programa de cash rabate do país. “Mas o Brasil é ideal para receber esse tipo de investimento, poque é imenso, tem diferentes geografias atrativas, características culturais diversas da população, é o local perfeito para os mais variados tipos de produção”, observou. “As produções feitas aqui geram interesse internacional. Aquela série da Netflix, 3%, por exemplo, teve mais da metade de sua audiência no mercado estrangeiro”.

Andressa ainda deu alguns exemplos da atuação dos programas pelo mundo, já que vários países começam a olhar 2022 como vetor de possibilidades, como a Austrália, Nova Zelândia e Canadá. “Nos USA, o estado Georgia é um grande exemplo: só em 2020 (em plena pandemia) geraram bilhões com séries, filmes, comerciais e clipes gravados lá, com enorme impacto financeiro no estado.

Já Daniella Galvão lembrou de outros países que também estão adotando estes sistemas: “tem produtoras que conseguem usufruir desses programas em outros países, como em Portugal, na França ou no Canadá... Aqui não temos programas de incentivo nos dos estados e nem da União. Na América Latina, a Colômbia e o México têm, por isso para muitas produtoras internacionais acaba sendo mais interessante realizar seus projetos nesses lugares e ter um incentivo financeiro de retorno”, disse.

Gustavo Rolla, da Ancine, trouxe um pouco sobre as ações da agência em relação à investimentos no setor, e concordou com as falas sobre a necessidade de se aproximar dos incentivos estrangeiros. “No fundo setorial da Ancine tem como aprovar linhas de crédito mais urgentes e incentivar a retomada em alguns projetos que estavam com ‘gap’ de recursos, mas a gente tem que fortalecer e ter uma indústria pujante aqui. Esse é o gargalo e temos que atuar no curto prazo”, afirmou Gustavo.

 

Força de trabalho nas produções latino-americanas

No final do dia, a mesa realizada pela LACT (Latin American Training Center) trouxe um assunto que é consequência do crescimento da demanda de produções audiovisuais na América Latina, muitas por conta dos programas de incentivo. O resultado desse “boom” nas produções de conteúdo AV tem sido a falta de pessoal devidamente qualificado para várias áreas de produção, especialmente as técnicas. Intitulada “O desafio das deficiências da força de trabalho para a produção de conteúdo AV na LATAM”, a conversa trouxe profissionais do exterior para falar sobre o tema: Julie Anglin, da MPA (Motion Picture Association de Washington, DC); Roberto Faissal, da ABC Cursos /Rio de Janeiro; Carlos Congote, da Congo Film School de Bogotá e Alejandra Luzardo, do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento/ EUA), tendo como moderador: Steve Solot, da LACT.

Julie Anglin, da MPA, observou o grande crescimento de produções na América Latina, com destaque para o volume previsto por algumas empresas como a Disney que pretende fazer cerca de 80 no Brasil nos próximos anos e a HBO. “A América Latina deve aproveitar essas possibilidades que estão surgindo, mas observamos que há falta de capital humano qualificado, especialmente técnico”. Carlos Congote, da Congo Film School de Bogotá, na Colômbia, vê como os programas de incentivo têm levado produções ao país e por isso, a grande busca por bons profissionais do setor.

“Esforço enorme deve ser feito pelos governos, pelas produtoras e todos que estão envolvidos nessa indústria. Com tanta gente filmando tanta coisa, de filmes, séries, vídeos, comerciais de TV, precisamos de profissionais qualificados. Na Congo Filmes damos formação técnica para trabalhar nas produções, porque é preciso profissionais, equipamentos, locais para pós-produção... Tudo é caro e isso é complexo para os países latinos. A realidade aqui não é fácil, não se tem grande poder de compra. As pessoas não têm capital para cursos de capacitação, então é preciso incentivo e investimento. Temos demanda de produção, mas nem sempre equipes porque as pessoas não podem pagar os cursos. O apoio de empresas maiores e dos governos é essencial!”, Carlos disse explicando bem o panorama local.

Já Alejandra, do BID, falou sobre o grande estudo realizado por eles “Criatividade e Investimento para América Latina – Lições aprendidas em uma conversa com os principais representantes do audiovisual”, em que levantaram alguns gargalos nesse tema. “Sabemos que tem gente estudando cinema, mas sem formação prática de produção. É importante um esforço dos governos e do poder privado para formação dessas equipes, para atender a demanda de produção. Alguns lugares na América Latina estão mais desenvolvidos, outros não. Bons exemplos locais são a Colômbia e o Uruguai, ambos têm incentivo e redução de impostos, por isso estão levando investidores para lá. Outra coisa importante é que os cursos de formação de equipe de produção precisam ter foco em diversidade levando para as produções também os povos originários, negros, mulheres, LGBTQIA+ e PCDs.

 

 

SPCine e seu papel nas políticas públicas

A SPcine, que é patrona da sala online de discussões da Expocine desse ano, fez uma interessante apresentação sobre sua atuação no mercado audiovisual e ainda liderou um bate-papo sobre circulação, exibição e comercialização de curtas-metragens. Para apresentar o papel da SPCine nas políticas públicas de AV no país, especialmente em São Paulo, Lyara Oliveira (Diretora de Inovação e Políticas do Audiovisual da SPCine) trouxe dados sobre a empresa pública de capital misto que foi criada em 2015. Lyara falou no lugar da Diretora da SPCine, Viviane Ferreira, que por motivos de saúde não pode participar do painel.

A SPCine atua como responsável por gerir o fomento do audiovisual da cidade de SP, sendo vinculada à Secretaria Municipal de Cultura. Ela tem o papel estratégico de mediar e facilitar as conversas entre o setor público e os profissionais do audiovisual. Entre as várias frentes de atuação, Lyara destacou o SPCine Play, “que é a primeira plataforma pública de streaming do Brasil, criada antes da pandemia, desde 2016, e oferece cerca de 200 títulos”; além do Circuito SPCine que conta com 20 espaços de exibição, especialmente em bairros que não possuem salas de cinema. Outro ponto que tem chamado atenção das produtoras é que a SPcine é o único órgão público que possui um programa de Cash Rabate do país e, por isso, tem atraído produções para a capital paulista.

Lyara também foi a mediadora da mesa que discutiu o espaço dado para os filmes de curta-metragem. A mesa contou com Thais Scabio, da APA/ Todesplay; Letícia Santinon, da Vitrine Filmes e a pesquisadora Janaína Oliveira, do FICINE — Fórum Itinerante de Cinema Negro. “Tendo um olhar dentro da distribuição, esse tipo de produção acaba sendo muito pontual porque há uma resistência no mercado para exibição – que acaba ficando mais restrito a festivais e eventos específicos. Eu particularmente gosto muito porque traz um frescor de conteúdo, dialoga melhor e retém melhor a atenção”, disse Letícia.

Thais, que é produtora e realizadora de curtas, espera que os curtas sejam mais vistos e respeitados como produções completas. “O curta tinha uma ideia de experimento para fazer curtas para depois ir fazer longa, mas que te permitia ousar e criar. Hoje tem um olhar mais profissional, as pessoas passaram a ser reconhecidas por seus trabalhos em curtas porque têm histórias que são curtas, que tem esse foco.

Janaína refletiu vários pontos desse setor e acredita que é preciso pensar em formas de exibição para uma maior valorização das obras em curta tanto em festivais quanto no circuito em geral: “A circulação de curtas tem o gargalo comercial porque tem estruturas de mercado que trazem desafios para esse formato. Por mais que tenh demanda por conteúdos curtos, há uma resistência de exibição desse tipo de conteúdo. Acho que é importante pensar em caminhos para criar meios para melhorar isso”.

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