11 Abril 2025 | Redação
Estudo mostra grande aumento da representação feminina no cinema na última década, apesar da sub-representação de alguns grupos
Levantamento da Annenberg Inclusion Initiative analisou principais filmes e festivais de cinema desde 2015
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Um novo estudo da Annenberg Inclusion Initiative, em parceria com o programa Women in Motion, da holding francesa Kering, apontou que a presença feminina na indústria cinematográfica aumentou significativamente na última década. O levantamento analisou dados de 3.240 filmes produzidos na Austrália, França, Alemanha, Itália, EUA e Reino Unido que arrecadaram pelo menos US$ 1 milhão globalmente, além das listas de filmes exibidos em cinco grandes festivais: Cannes, Berlim, Veneza, Sundance e Toronto. As informações são do portal Variety.
Desde 2015, diretoras ganharam espaço significativo principalmente nos EUA, Reino Unido e França e, apesar de algumas lacunas ainda a serem preenchidas na indústria, o avanço é nítido. No Reino Unido, por exemplo, o número de mulheres atrás das câmeras disparou de 8,3% em 2015 para 32,3% em 2024. Nos EUA, passou de 8% para 16,2% e, na França, cresceu de 14,4% para 25,9%.
Trazendo os números para a nossa realidade, aliás, o estudo aponta que o Brasil está em patamar semelhante aos países pesquisados: acima dos Estados Unidos e abaixo da França. Um levantamento exclusivo e inédito realizado pelo Portal Exibidor no ano passado mostrou que os 100 filmes brasileiros de maior público entre 2019 e 2023, considerando os 20 filmes com maior bilheteria em cada um dos anos analisados, tinham 20,9% das pessoas na direção sendo mulheres.
Além do aumento no número de diretoras, a proporção de protagonistas e coprotagonistas femininas cresceu de 32% em 2015 para 54% em 2024. Apesar do evidente avanço, porém, há alguns pontos que ainda chamam a atenção pelo viés negativo. O estudo também revelou que apenas 25,3% das personagens nos filmes pesquisados são mulheres com mais de 40 anos, indicando uma questão de etarismo, e apenas 32% das personagens com falas eram mulheres.
Os números foram apresentados por Stacy L. Smith e Katherine Pieper, da Annenberg, em um evento organizado pela Kering para destacar as conquistas do programa Women in Motion. Vale ressaltar que a pesquisa também analisou palestras promovidas pelo Women in Motion e traçou paralelos entre as preocupações levantadas durante essas conversas e o progresso real ocorrido no cenário cinematográfico.
Após a divulgação dos dados, Smith destacou que a indústria se tornou mais equilibrada em termos de gênero na última década, mesmo que a paridade ainda não tenha sido alcançada, e apontou que a mudança positiva no cenário está acontecendo gradualmente por meio de novos projetos de financiamento e programação que incentivam a participação feminina. Na França, por exemplo, o National Film Board (CNC) criou um bônus de paridade, enquanto no Reino Unido o British Film Institute (BFI) estabeleceu padrões de inclusão para o financiamento de filmes. Além disso, a Screen Australia também lançou um programa chamado Gender Matters, enquanto a Netflix criou um fundo para a igualdade criativa.
Em busca da paridade de gênero, Smith também destacou seu programa de mentoria Proof of Concept, lançado em parceria com a atriz Cate Blanchett e a produtora Coco Francini, da Dirty Films, para impulsionar oportunidades de carreira para mulheres cis e trans, e também pessoas não-binárias.
Esse aumento na representatividade e ocupação de espaços, aliás, também se refletiu em um aumento no reconhecimento de prêmios para diretoras. Chloé Zhao venceu o Oscar em 2021 com Nomadland (Disney); Justine Triet e Julia Ducournau ganharam a Palma de Ouro em Cannes por Anatomia de Uma Queda (Diamond) e Titane, respectivamente; Audrey Diwan ganhou o Leão de Ouro de Veneza por Happening; e Carla Simón ganhou o Urso de Ouro em Berlim por Alcarràs.
A representação de diretoras nos cinco principais festivais de cinema, no entanto, ainda está abaixo de 30%, segundo o estudo, enquanto o reconhecimento em premiações importantes como o Oscar ainda é insuficiente. Coralie Fargeat, de A Substância (Imagem Filmes/MUBI), foi a única mulher indicada ao Oscar de melhor direção deste ano.
No final da apresentação, Smith afirmou que as recentes políticas dos Estados Unidos e Donald Trump contra iniciativas de diversidade podem inibir o avanço da representatividade feminina na indústria, mas também destacou que a demanda da chamada Geração Z (pessoas nascidas entre 1997 e 2012) por inclusão acabará levando as empresas a reconhecer a necessidade de representar o mundo com precisão para envolver esses públicos mais jovens.
"O público rejeitará (as decisões de Trump). 338 milhões de pessoas vivem nos Estados Unidos e apenas 77 milhões de pessoas votaram de uma maneira específica que não valoriza a inclusão. O público dita as escolhas dessas empresas e, portanto, para cortejá-las ainda mais, elas precisarão continuar a se inclinar para o que o público deseja. E, pela receita de bilheteria, fica claro que mulheres e pessoas de cor estão no topo da agenda", finalizou.
Sobre o programa Women in Motion, ele foi lançado em 2015 durante o Festival de Cannes como um ato de esforço para destacar as mulheres no cinema, tanto diante quanto atrás das câmeras, e neste ano, também em Cannes, irá celebrar seus 10 anos. Desde a sua criação, o programa defende e dá voz a talentos femininos, cineastas e executivas na frente e atrás das câmeras, já tendo prestado homenagens para Donna Langley, Michelle Yeoh, Salma Hayek, Jane Fonda e Viola Davis, entre outras. No evento de divulgação do novo estudo, inclusive, Iris Knobloch, presidente de Cannes, esteve presente.
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