08 Agosto 2025 | Yuri Cavichioli
Sony, Disney e Warner mostram números animadores em balanço trimestral
Análises apontam que reestruturações dão resultado, mas é preciso continuar trabalhando com produções autorais, diversificadas e estratégias inovadoras
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O ano fiscal de 2025 ainda não terminou, mas seus capítulos mais recentes já ajudam a contar uma história interessante no mercado de entretenimento global. Com resultados divulgados referentes ao trimestre encerrado em junho, Sony, Disney e Warner revelam trajetórias diferentes, mas igualmente marcadas pela busca de estabilidade em meio às transformações da indústria audiovisual, após uma pandemia que estremeceu o setor.
Entre recuos pontuais, novas apostas e reestruturações em andamento, as três gigantes parecem ter uma lição em comum: o sucesso está cada vez mais ligado à capacidade de equilibrar o seu passado com a inovação, com movimentos estratégicos que caminham muito por três mídias: streaming, televisão e cinema.
SONY TEM RESULTADO FORTE NA TV E STREAMING
Começando pela Sony, que apresentou o crescimento percentual mais expressivo entre as três. A Sony Pictures Entertainment viu seu lucro operacional saltar 76%, chegando a US$ 129 milhões no primeiro trimestre fiscal (abril a junho). O resultado foi impulsionado por uma recuperação na divisão de televisão, que viu a receita crescer 39%, puxada por entregas de séries para Amazon, HBO e Netflix, como The Last of Us, A Roda do Tempo e Department Q.
The Last of Us é um jogo da Sony e foi adaptado para série, que foi produzida pela Warner. Já Department Q, é uma série que foi lançada diretamente na Netflix, tendo um bom desempenho, destacando-se entre as mais vistas. A Roda do Tempo não é novidade, mas com o bom desempenho da primeira temporada projetaram e garantiram mais duas, consolidando esse seriado.
A divisão de cinema, porém, não empolgou, com um recuo de 13% na receita, possivelmente sendo um reflexo de lançamentos, que apesar de terem sido estreias promissoras como Extermínio 3: A Evolução, com a bilheteria de US$ 150 milhões e Karate Kid: Lendas, com US$ 106 milhões, os títulos ainda não atingiram o mesmo patamar de desempenho de sucessos recentes, como Bad Boys: Até o Fim (2024), que fez US$ 404 milhões. A expectativa do estúdio agora recai sobre os próximos lançamentos do segundo semestre, que podem ajudar a equilibrar os resultados do segmento até o fim do ano fiscal.
“Nossos ativos de entretenimento são resilientes e continuam crescendo mesmo em cenários econômicos adversos. Acreditamos que a Sony Pictures é o centro nervoso da colaboração entre nossas divisões”, afirmou o presidente e CEO Hiroki Totoki, durante a apresentação de resultados.
O destaque estrutural vem do braço de animação japonesa, com a Crunchyroll (17 milhões de assinantes pagos) consolidando-se como joia do portfólio, e produções como Dragonball: Daima, Demon Slayer: Infinity Castle e K-Pop: Demon Hunters mostrando o apelo global do anime.
“Vemos a Crunchyroll como um ativo estratégico que reforça nossa conexão com as gerações mais jovens e fãs apaixonados. Nossa estratégia de diversificação geográfica e editorial está próxima de ser concluída, o que nos deixa bem posicionados para o segundo semestre”, afirma o CFO, Lin Tao ao falar sobre o impacto desse crescimento no contexto macro da empresa.
DISNEY EM UM EQUILÍBRIO QUE ATÉ O THANOS ELOGIARIA
É verdade que a expectativa do mercado sobre a Walt Disney Company era um pouco superior, mas o balanço divulgado no terceiro trimestre fiscal (de abril a junho de 2025) é o melhor desde a reestruturação liderada pelo CEO, Bob Iger, com lucro líquido de US$ 5,26 bilhões, acima do dobro registrado no mesmo período do ano anterior. A retomada do crescimento passa por dois pilares: os parques e o audiovisual, que sustentaram os ganhos e ajudaram a estabilizar setores ainda em queda.
No campo cinematográfico, a Disney teve uma reposta aberta. O live-action Lilo & Stitch, que arrecadou US$ 1,025 bilhão globalmente e se firmou como a segunda maior bilheteria do ano até aqui. A aposta na nostalgia, somada ao apelo familiar da marca, rendeu frutos mesmo em um mercado cheio de remakes e reboots. O sucesso deu um alívio financeiro e criativo ao estúdio, em um momento em que os lançamentos da Marvel e da Pixar vêm enfrentando dificuldades.
Entre os títulos menos bem-sucedidos, Elio, aposta da Pixar, ficou longe de empolgar, com US$ 144 milhões em bilheteria. O desempenho foi insuficiente até para cobrir os custos de produção e divulgação. Já Thunderbolts (US$ 382 milhões) e Capitão América: Admirável Mundo Novo (US$ 415 milhões) mostraram que há um desgaste do universo cinematográfico da Marvel — pelo menos nessa fase.
Já o streaming dá sinais claros de consolidação, com o Disney+ adicionando 1,8 milhão de assinantes no trimestre e alcançou 128 milhões de usuários no total, revertendo parte das perdas registradas no início do ano. O setor cresceu 6% em receita, e gerou US$ 346 milhões em lucro. Com esse ritmo, a empresa revisou para cima sua expectativa de ganhos com a plataforma, projetando agora US$ 1,3 bilhão até o fim do ano fiscal (em setembro).
Por outro lado, a TV tradicional segue em queda: receita recuou 15%, para US$ 2,27 bilhões, impactada pela migração acelerada do público para plataformas digitais. Ainda assim, a Disney mantém canais e sinais abertos como uma vitrine institucional.
A Hulu segue o caminho da sua irmã, Star+, e será incorporado ao Disney+. A Hulu continua existindo, mas integrará o Disney+, que unificará os conteúdos na mesma plataforma. A The Walt Disney Company deixará de divulgar trimestralmente os números de assinantes e a receita média por usuário (ARPU) de suas plataformas de streaming Disney+, Hulu e ESPN+, à medida que passa a focar mais na lucratividade dessas operações.
“Acreditamos que atualizações trimestrais sobre o número de assinantes pagos e ARPU se tornaram menos relevantes para avaliar o desempenho de nossos negócios, e deixaremos de divulgar essas métricas a partir do primeiro trimestre do ano fiscal de 2026 para o Disney+ e o Hulu, e do quarto trimestre do ano fiscal de 2025 para o ESPN+. Embora não divulguemos mais assinantes e ARPU, forneceremos informações sobre a lucratividade do segmento de Entretenimento Direto ao Consumidor”, disseram os executivos da Disney, Bob Iger (CEO), e do Hugh Johnston (CFO).
Outra informação importante é que agora, inclusive no mercado internacional — incluindo o Brasil —, a marca Hulu substituirá o nome Star+ dentro do streaming Disney+.
WARNER SURPREENDE E NÚMEROS BONS DE MINECRAFT E HBO MAX FICAM ACIMA DA EXPECTATIVA
A Warner Bros. Discovery surpreendeu o mercado com os resultados do segundo trimestre de 2025. A empresa ficou acima do que se esperava em relação aos assinantes e apresentou um lucro de US$ 1,95 bilhão, mesmo em meio a um cenário de reestruturação profunda. A companhia, que se prepara para se dividir em duas entidades negociadas separadamente, também bateu a projeção de assinaturas, alcançando 125,7 milhões, acima dos 124,91 milhões estimados pelos analistas. O bom desempenho da HBO Max, com o sucesso como The Last of Us, e o bom desempenho de Minecraft (US$ 955 milhões em bilheteria) compuseram uma série de bons resultados que apontaram para esse avanço.
Anunciada em junho, a cisão estratégica separará os estúdios e operações de streaming das redes de TV a cabo, que vêm sofrendo com a perda de audiência e receita. A Warner acredita que a divisão tornará suas operações mais eficientes e competitivas, especialmente em um mercado onde o consumo de conteúdo migra rapidamente para plataformas sob demanda. “Esperamos incorrer em custos únicos de transação e reestruturação que impactarão os fluxos de caixa livres até o fechamento da separação”, afirmou a empresa em carta aos acionistas.
O processo de separação, segundo a Warner, está “bem encaminhado” e já atingiu “vários marcos” nos últimos dois meses. No entanto, o caminho tem gerado custos relevantes. Só no segundo trimestre, a operação consumiu cerca de US$ 250 milhões, valor que é atribuído principalmente ao aumento nas despesas com juros, que subiram após a contratação de um empréstimo-ponte com taxa elevada. Esse movimento levou os pagamentos trimestrais de juros a ultrapassarem a marca de US$ 500 milhões.
Como reflexo dessas despesas, o fluxo de caixa livre da companhia caiu 28% na comparação anual, fechando em US$ 702 milhões. E os custos devem crescer ainda mais no segundo semestre: a Warner planeja emitir um pagamento de imposto em dinheiro de US$ 725 milhões, atrelado a uma dívida de US$ 3,2 bilhões usada para financiar a cisão. Apesar disso, a empresa não deu sinais de recuo na estratégia.
Mesmo diante das pressões financeiras, a Warner reforçou sua convicção de que o segmento de estúdios e streaming sairá fortalecido após a separação. A nova empresa será, segundo o grupo, “uma entidade ágil, focada e independente”, mais preparada para competir no mercado global de conteúdo digital. Esse movimento também poderá facilitar alianças estratégicas e tornar a empresa mais atrativa para investidores interessados em ativos específicos.
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