27 Agosto 2025 | Gabryella Garcia
"Deixe-me Viver" inicia filmagens com mensagem sobre tempo de qualidade; equipe pontua dificuldades de distribuição
Portal Exibidor esteve presente no primeiro dia de gravações e conversou com parte da equipe e elenco do longa
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O Portal Exibidor foi convidado para acompanhar, ontem (26), o primeiro dia de gravações no set de filmagens do longa Deixe-me Viver, na cidade de Campinas (SP). O filme propõe uma profunda reflexão sobre o tempo, o sentido da vida e a urgência de viver com qualidade ao lado de quem se ama. Conversamos com o diretor Walther Neto, o ator Humberto Martins, e as atrizes e produtoras Mônica Carvalho e Jeniffer Setti, que inclusive chamou atenção para o alto custo envolvido na distribuição de um filme.
O filme é uma produção da Yva Filmes e WN Filmes, e acompanha a jovem Julia (Cat Dantas), que, ao receber o diagnóstico de um câncer terminal, faz um pedido comovente à mãe, Andrea (Mônica Carvalho): interromper o tratamento e deixá-la sair do hospital para viver plenamente o tempo que lhe resta. Diante de um sistema rígido, do julgamento alheio e dos conflitos com o pai de Julia (Humberto Martins), Andrea embarca em uma jornada de coragem e amor incondicional - uma escolha que transformará para sempre a vida das duas.
Além da cidade de Campinas, o filme também será rodado em São Paulo, Presidente Prudente, e a maior parte em Trancoso, na Bahia. Em entrevista ao Portal Exibidor, Mônica Carvalho destacou que o filme é muito apropriado para o atual momento da nossa sociedade, e também falou sobre a importância de valorizar a presença física das pessoas que amamos e também a necessidade de ouvir e saber escutar.
"É um filme que vai levar muita emoção e muita reflexão sobre o tempo. É um filme que fala do tempo presente, que é importante e hoje as pessoas se perdem muito no tempo. As pessoas estão sempre pensando no futuro, ligadas no 220, e não se tem tempo nem para um café. As pessoas não querem sequer atender o telefone, então é um filme que vai fazer a pessoa fazer uma autoanálise do que é realmente importante nesse momento e voltar para esse lugar de simplicidade que deixamos no passado. Essa reflexão pega a Andrea de surpresa porque o tempo passou, passaram-se 14 anos e ela não se deu conta porque só pensava no futuro da filha e a melhor amiga dela, que é a madrinha da filha, ocupava esse lugar de mãe. A personagem tinha o mais importante, que era o presente, mas só pensava no futuro e no trabalho, e esse futuro não chegou. Começamos em São Paulo justamente para falar sobre esse tempo em uma cidade que nos atropela e depois vamos para um lugar que tem um outro tempo e uma beleza que também precisa ser vista dentro do cinema, que são as belezas do nosso Nordeste que precisam ser valorizadas", disse.
Jeniffer Setti, que além de atuar no longa também assina como coprodutora, reforçou a mensagem de "tempo de qualidade" do filme e fez uma reflexão sobre o que as pessoas acabam priorizando em suas vidas em um mundo de correria, marcado pela necessidade de sentir produtivo.
"É uma história importante principalmente por conta da vida que levamos. Não damos valor, principalmente para nossa família, pela correria do dia-a-dia. O conquistar cada vez mais coisas fica na frente do viver de verdade. A maior mensagem do filme, muito mais do que a doença em si, é uma coisa de família, quem está do nosso lado, quem a gente ama e poder olhar mais para nossos pais, nossos filhos, e ter esse tempo de qualidade com eles", destacou.
As filmagens de Deixe-me Viver vão até o dia 21 de setembro, e a partir daí tem início um longo processo de pós-produção e também um longo caminho de distribuição a ser percorrido. A equipe do filme, inclusive, destacou algumas dificuldades para a produção de filmes nacionais como a falta de incentivo privado e a falta de leis e editais específicos para a distribuição de obras brasileiras.
"Temos boas leis, bons incentivos e um Ministério que funciona, mas a questão para ter um mercado melhor é que as produções precisam ser mais diversificadas, ou seja, não precisamos de um único assunto no cinema. Precisa ter espaço para todos os gêneros e também roteiros bons, que é importante. Se você não tem uma boa história, não tem um bom filme. O nosso mercado precisa um pouco mais de incentivo, mas não no sentido de leis. Temos ótimas leis, que precisam ser melhoradas com ajustes normais, mas o empresariado, o antigo patrocinador, aquela pessoa que quer investir em arte é o que sinto mais falta. Por mais que existam boas leis de incentivo, ela não podem fazer tudo. Essas leis são uma alavanca e o outro lado, do investimento privado, precisa estar mais presente", disse o diretor Walther Neto.
Setti também destacou que muitas das produções brasileiras recentes só conseguem sair do papel à partir de um investimento privado, e pontuou que os editais costumam selecionar sempre as mesmas grandes produtoras, dificultando uma oxigenação do mercado. Além disso, como dito anteriormente, falou sobre o alto custo envolvido na distribuição de um filme, fazendo-se necessária a criação de leis de incentivo para esse elo da cadeia.
"A grande dificuldade das novas produtoras é a competitividade, que nem sempre é justa. Sempre as mesmas produtoras ganham os editais do governo, então deveria existir um equilíbrio entre os experientes e dar oportunidade para quem está chegando agora de também ser patrocinado. Temos feito muitos filmes de dinheiro privado, de empresas, empresários, e nosso sonho hoje é poder levar a cultura para o povo com um dinheiro que vai para quem tá há muitos anos ganhando. (...) Hoje em dia para conseguirmos encher uma sala de cinema precisamos primeiro de apoio, porque distribuir um filme não é barato, então precisamos de mais leis incentivadoras para a distribuição para que um filme como esse, tão bem feito e tão bom, seja visto por todo mundo nos cinemas. Torço muito para que o governo federal lance a própria plataforma de streaming para colocar filmes de produtores independentes sem essa competitividade que é insana e desigual. Um filme bom tem que estar em todos os lugares", disse.
Pensando na cadeia do audiovisual como um todo, aliás, Mônica Carvalho apontou a importância de produções brasileiras para movimentar outros setores da economia, como o turismo, por exemplo. Trancoso, por costumeiramente já ser um destino turístico, pode impulsionar mais ainda a economia a partir de um longa rodado no local, e a atriz e produtora destacou a importância dos apoios que recebeu para as filmagens de Deixe-me Viver.
"Trancoso é um lugar com uma beleza e natureza incríveis. A gente precisa mostrar isso para o mundo no nosso cinema. O audiovisual impacta muito no turismo e as pessoas devem ver e falar 'quero ir para lá, quero ir onde foi rodado aquele filme'. Não é fácil levantar uma produção cinematográfica porque é um sonho meu e tenho que fazer as pessoas sonharem junto comigo. Tudo é dinheiro e precisamos de dinheiro para produzir. Consegui bons parceiros e o prefeito de Porto Seguro, Jânio Natal, entendeu a mensagem diretamente na economia da cidade. Tive apoio de Trancoso inteiro, de vários hotéis, e consegui juntar parceiros que acreditaram na história e no potencial que tem para movimentar a cidade. O audiovisual dá um retorno e as pessoas precisam aprender a acreditar, valorizar e apoiar o cinema nacional. A série 'White Lotus', por exemplo, rodou a terceira temporada na Tailândia e o turismo subiu 300% lá. O cinema tem que aprender a trabalhar e dar esse retorno também para quem está investindo", disse.
Walther Neto também apontou a necessidade de boas produções nacionais para que o público seja atraído para as salas de cinema, além de maiores investimentos no marketing e divulgação dos filmes (inclusive investimento privado), enquanto o ator Humberto Martins destacou a necessidade de expansão do parque exibidor brasileiro para um maior aquecimento do mercado.
"É muito importante levar nossos filmes para a tela grande e para a tela grande de fora, de outros países também. É um mercado a ser muito explorado e está sendo bem explorado, mas acho importante que se tenha um pensamento de ter mais salas de cinema. O Brasil é muito grande e pode chegar mais ao público. Mais salas tornariam o mercado muito mais aquecido e com mais filmes sendo produzidos", disse Martins.
Um consenso de toda equipe, aliás, é que o público não pode perder a oportunidade de assistir Deixe-me Viver nos cinemas, sobretudo pela experiência que envolve a ida às salas escuras, e Mônica Carvalho encerrou afirmando que a produção do novo longa, inclusive, foi pensada para as telonas.
"É uma produção pensada para o cinema e vamos estrear nos cinemas. É importante o público começar a valorizar nosso cinema porque precisamos do público. Também temos que começar a criar mais obras internacionais, com uma linguagem mais universal, para que a obra não fique só no Brasil e atravesse fronteiras. Hoje temos oportunidade disso, várias plataformas e várias maneiras de chegar em outros lugares, mas precisamos que as histórias sejam universais para que o público se identifique de alguma forma. Não tem como não se identificar com uma história de mãe e filha porque todo mundo passa por essa situação", finalizou.
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