01 Outubro 2025 | Gabryella Garcia
Brasil está nos holofotes do audiovisual, mas integração com a América Latina ainda é desafio
Falta de políticas públicas comuns são barreiras para difusão de obras de países da América Latina para seus vizinhos
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O painel LABO apresenta: Circuitos Cruzados — Exibição e Distribuição no Brasil e na América Latina analisou os desafios e potencialidades no campo da exibição e distribuição na América Latina no segundo dia da EXPOCINE 25. Com mediação de Juan Zapata, da Zapata Filmes, também participaram do debate Carlos A. Gutiérrez, do Cinema Tropical; Ibirá Machado, da Descoloniza Filmes; Pablo Ossa, da GM Colômbia; e Paula Astorga, da Cineteca Nacional do México.
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No início da apresentação, Zapata destacou que a América Latina vive um dos seus melhores momentos no audiovisual, mas ao mesmo tempo também enfrenta grande dificuldade de circulação do próprio material nos países vizinhos: "O mercado está fortalecido e nos faz refletir sobre a necessária integração [dos países], porque devemos nos fortalecer".
Na sequência, Ossa afirmou que o Brasil está mais avançado que outros países da região em muitas questões, e também fez questão de destacar a Cota de Tela, que em sua visão traz efeitos muito positivos para a produção local. "A produção do Brasil é grande, é boa e produz um bom conteúdo que tem eco no povo brasileiro. A Cota de Tela também traz um efeito muito bom para produções locais, mas esses filmes precisam ser vistos fora do Brasil. É necessário fazer uma integração e nossa ideia é integrar mais o Brasil a países como México e Colômbia", refletiu.
Ibirá Machado, por sua vez, discordou da análise do bom momento do cinema brasileiro. O diretor da Descoloniza Filmes disse que o Brasil vive uma falsa ilusão de um bom momento por causa de grandes fenômenos pontuais como Ainda Estou Aqui (Sony), Os Farofeiros 2 (Downtown/Paris), Nosso Lar (Disney) e O Auto da Compadecida 2 (H2O Films), por exemplo. Ele ainda destacou que um ponto em comum entre o audiovisual brasileiro e de outros países da América Latina é que vivem a falência do público com seu próprio cinema, em uma análise um pouco menos otimista.
"O Brasil tem sucesso em casos pontuais entre quase 200 longas que são lançados por ano e quase ninguém assiste. Temos uma grande dificuldade de conseguir programar os filmes porque há uma dificuldade de atrair o público e fazer esse público saber que nosso cinema existe. Esses fenômenos são provas pontuais que conseguem gerar vontade para o público repercutir nosso próprio cinema, mas 95% dos nossos filmes não chegam até esse público. Nosso circuito é dominado pela distribuição comercial, imperialista e estadunidense", afirmou.
Gutiérrez reforçou a visão de que existe uma grande dificuldade na programação apesar de o cinema latino-americano produzir filmes maravilhosos. Ele ainda afirmou que parte dessa dificuldade se deve a uma falta de conexão com o público, uma vez que as produções não são exatamente pensadas para o público.
"Falta um trabalho de conexão do filme com o público. Os cineastas estão preocupados em navegar por festivais e acabam não pensando no público. Nossa estrutura é arcaica e não pensa no público. Estamos em um momento de mudanças geopolíticas muito grandes na América Latina e penso que é um bom momento para repensar alianças entre esses países e encontrar maneiras de circular nossos filmes entre nós", disse Gutierrez.
Para vencer esse desafio de falta de conexão com o público, na visão de Paula Astorga, é necessária a criação de políticas públicas regionais que integrem a América Latina e investir no intercâmbio de produções entre os países, além da criação de novos espaços e novas ferramentas. "Os tempos mudaram e queremos nos ver. Na América Latina há um desejo e necessidade de nos vermos. As pessoas querem ver seu cinema local porque sentem essa necessidade de se enxergarem", refletiu.
Sobre o fato de o Brasil atualmente estar nos holofotes do audiovisual, Ossa destacou que em 2024 os filmes nacionais foram responsáveis por 10% do market share do Brasil, enquanto a média dos outros países da América Latina varia entre apenas 3% e 4% para produções locais. Ibirá Machado, por sua vez, afirmou que a Cota de Tela tem uma influência positiva nesse número, mas voltou a afirmar que o patamar só é atingido por conta de quatro ou cinco grandes produções brasileiras anuais que ultrapassam a marca de um milhão de espectadores.
"Acho 10% de market share muito pouco se somos um país que está lançando 200 filmes por ano. Esse número deveria ser maior e deveríamos ter um crescimento de público que acompanhasse o crescimento do número de produções e do parque exibidor", afirmou o diretor da Descoloniza Filmes.
No final da apresentação, os painelistas apontaram uma falha na comunicação como um dos principais fatores que dificultam a integração de exibições e distribuição na América Latina. Paula Astorga destacou que o público não está sendo escutado pelo circuito comercial, enquanto Ibirá Machado afirmou que pelo fato de a América Latina ser muito semelhante socialmente, economicamente e politicamente, ações conjuntas deveriam garantir que as produções carregassem valores sociais comuns a todos os públicos da América Latina.
"Temos que parar de ver individualmente para conseguirmos nos apropriar e integrar o mercado. Precisamos de políticas públicas que incentivem essa integração. Hoje não temos problemas de distribuição, e sim de comunicação. Está cada vez mais difícil chegar nesse público. É importante estarmos perto das políticas públicas, do governo e das entidades que legislam para fazer modificações e ter um impacto maior de comunicação e marketing nos filmes. Se investe muito em produção e se esquecem da exibição e circulação", finalizou Juan Zapata.
Confira como foi o segundo dia da Expocine 2025.
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