03 Outubro 2025 | Gabryella Garcia
Salas de cinema do Brasil possuem ferramentas de acessibilidade, mas informação não chega de forma eficiente no público
Brasil apresenta avanços nas questões de acessibilidade para que um novo público cinéfilo seja formado
Compartilhe:

O último dia da EXPOCINE 25 começou debatendo um tema de extrema importância não só nos cinemas, mas em toda a sociedade. O painel "Tela Sem Barreiras: Audiovisual com Acessibilidade de Verdade" discutiu os caminhos para que o audiovisual se transforme em uma ferramenta de inclusão real, capaz de empoderar pessoas com deficiência e ampliar os sentidos da experiência cultural. A mediação foi feita pelo consultor de audiodescrição, Edgar Jacques, e contou com a participação de Leandro Mendes, secretário de regulação da Ancine, Tiago Mafra, novo diretor da ABRAPLEX, e Marcella Fazzio, diretora da MAV.
Publicidade fechar X

Vale destacar que todos os painéis da Expocine contam com acessibilidade de conteúdo, através da empresa MAV, que faz a legendagem em tempo real em português, inglês e espanhol, além de contar com Libras.
Para colocar a questão da acessibilidade em prática, todos os participantes do painel fizeram sua auto-audiodescrição antes do início do debate. Na sequência, Leandro Mendes destacou que, de acordo com a regulação da Ancine para o tema, 100% das salas de cinema do Brasil são acessíveis com ferramentas disponibilizadas pelos exibidores. Ele ainda pontuou que é um tema de extrema importância não só para os cinemas, mas para toda a sociedade, e que é importante que a indústria cinematográfica, como um todo, ouvir esse público para saber como melhorar ainda mais as ferramentas de acessibilidade que são disponibilizadas.
Na sequência, Fazzio corroborou com uma acessibilidade plena dentro da instrução normativa da Ancine, mas chamou a atenção para a acessibilidade para além das salas de cinema.
"Para falar que o cinema é acessível, temos um caminho ainda para ser percorrido. Temos a compra de bilhetes, os totens, a bilheteria, equipe, staff e divulgação, das próprias ferramentas de acessibilidade, que não são plenamente acessíveis, então ainda estamos caminhando para isso", disse.
Mafra concordou com a colocação e disse acreditar que a adequação dos cinemas às normativas da Ancine é a primeira parte do processo. Apesar disso, ressaltou que agora é necessário começar um movimento de pertencimento junto ao público que possui algum tipo de deficiência para que o cinema possa estar dentro da rotina desse público e ele possa formar o hábito de estar presente nos cinemas para aprimorar outras questões de acessibilidade.
"Precisamos naturalizar a presença de pessoas com deficiência nas salas de cinema, mas também na tela e atrás das delas, para que saibam que temos esse direito de estar no cinema e que as pessoas sem deficiência também estejam acostumadas com recursos de acessibilidade. Tem que ser algo natural para todas as pessoas", completou Edgar.
O executivo da Ancine ainda destacou que há uma dificuldade de fazer todas as adequações necessárias pelo fato de pessoas com deficiência não terem ocupado as salas de cinema anteriormente. É uma movimentação que ainda está começando a acontecer e, por isso, as melhorias também estão em evolução.
"A Ancine tem buscado criar programas com sessões acessíveis em parcerias com institutos. Temos que espalhar a informação e fazer chegar aos pais também. A Ancine tem feito isso e quando o próprio público tem uma experiência positiva dentro dessa experiência coletiva que é o cinema, vem esse sentimento de pertencimento e vamos conseguindo mostrar que as ferramentas existem. As pessoas com deficiência precisam ocupar esse espaço para conhecerem e precisamos escutar esse público para aprimorar a própria norma e as ferramentas para deixar a experiência cada vez mais acessível e confortável", destacou.
Marcella Fazzio ainda completou dizendo que essas pessoas nunca ocuparam esse espaço antes, mas inserir os recursos de acessibilidade é uma espécie de convite para que ocupem os cinemas e saibam que é um lugar para todas as pessoas.
"Só, a tecnologia não resolve. Precisamos de empatia e entendimento que somos seres diversos e há necessidades de ambientes e tratativas diferentes. Precisamos refletir sobre nosso papel de interação também e é papel do produtor e do exibidor trabalhar na comunicação da acessibilidade. Precisamos trabalhar no chamamento desse público para formar esse público", afirmou.
No encerramento do painel, Mafra concordou que a responsabilidade é de todos os elos da cadeia audiovisual e chamou a atenção para problemas de mobilidade e deslocamento que esse público enfrenta fora das salas de cinema, dificultando de alguma forma a ocupação desse espaço.
"Vivemos um déficit civilizatório no mundo, mas no cinema, da porta para dentro, estamos com meio caminho andado para nos tornarmos plenamente acessíveis. Há outras situações como mobilidade e deslocamento que também devem ser enfrentados pelo poder público", concluiu.
Confira como foi o quarto e último dia da Expocine 25.
Compartilhe:
- 0 medalha