11 Novembro 2025 | Yuri Cavichioli
"Não vejo o cinema cristão como nicho, o Brasil é majoritariamente cristão", diz CEO da Heaven Content sobre "Ignição da Alma"
Produção marca nova fase do cinema cristão no Brasil, com foco em profissionalização e expansão internacional
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O cinema voltado ao público cristão tem ampliado seu alcance global. Um dos principais exemplos disso é Ignição da Alma (Heaven Content), remake de A Virada — primeiro longa dos Irmãos Kendrick, lançado há mais de 20 anos e considerado um marco do gênero. A nova versão resgata a essência da mensagem original, mas transporta o enredo para o contexto contemporâneo, com o Rio de Janeiro como cenário e elementos culturais que refletem a vivência brasileira.
E foi sobre esse momento que vive o cinema cristão e o lançamento de Ignição da Alma — que está marcado para 2026 — que o Portal Exibidor conversou com Ygor Siqueira, CEO da 360 WayUp e da distribuidora Heaven Content.
Com produção da 360 WayUp e distribuição da Heaven Content, a obra também simboliza o fortalecimento do cinema cristão no país, tanto pela estrutura envolvida quanto pela proposta de formação de toda uma cadeia profissional de longo prazo.
“O Brasil conta com muitos profissionais talentosos e de fé genuína. O próximo passo é potencializar as produções nacionais, fortalecendo estruturas locais e investindo em formação técnica e artística. Entendo que o cinema cristão brasileiro vive hoje a ‘terceira onda’: a primeira foi quando poucos acreditavam nessas produções; a segunda, nos últimos dez anos, consolidou o gênero; e agora, vivemos um momento de profissionalização e expansão internacional”, afirma Siqueira. Ele reforça que o essencial é que os profissionais “acreditem verdadeiramente na mensagem que estão transmitindo”.
Essa “terceira onda” aponta para um amadurecimento do setor. As produções passam a buscar competitividade em padrões técnicos e narrativos, mantendo a identidade espiritual que sustenta o gênero. Para o CEO, a profissionalização é o elo entre propósito e sustentabilidade de mercado, criando um caminho para que o cinema cristão dialogue com públicos mais amplos sem perder sua essência.
A parceria entre os Kendrick Brothers e a 360 WayUp, que resultou em Ignição da Alma, é fruto de um relacionamento de anos baseado em propósito compartilhado. “Temos a mesma visão: levar a mensagem de Cristo às nações por meio do cinema, uma linguagem que rompe barreiras culturais, institucionais e religiosas. Não se trata de religião, mas de transmitir o poder transformador da mensagem de Cristo. Por isso, buscamos parceiros que desejem honrar a Deus com seus talentos, unindo excelência técnica e propósito espiritual. Essa é a base de toda coprodução que fazemos”, explica o Siqueira.
A vinda da equipe ao Brasil também foi estratégica para a imersão cultural e criativa do filme. O contato direto com igrejas e lideranças locais ajudou a equipe a compreender como o público cristão brasileiro se comunica e expressa sua fé, garantindo maior autenticidade à narrativa. Esse envolvimento comunitário gerou, segundo os realizadores, um senso de pertencimento que vai além da tela, conectando as pessoas ao processo de desenvolvimento e à futura estreia.
Ao analisar o cenário nacional, Siqueira é categórico ao rejeitar a ideia de “nicho”: “Não vejo o cinema cristão como um nicho, porque o Brasil é majoritariamente cristão — cerca de 80% da população. Acredito que, à medida que produzirmos filmes que reflitam aos princípios da fé, com qualidade técnica e histórias envolventes, o público naturalmente responderá, e os canais de exibição, como cinemas, plataformas [de streaming] e TV, acompanharão esse movimento”.
A produção de Ignição da Alma também ilustra como o setor tem se organizado para elevar o padrão técnico das obras e atrair coproduções internacionais. Com suporte da Heaven Content na distribuição, o longa reforça a visão de que é possível conciliar conteúdo de fé com profissionalismo e escala de mercado. A meta, segundo o mandatário da 360 WayUp e Heaven Content, é consolidar o Brasil como um polo de produções cristãs, exportando não apenas filmes, mas também mão de obra qualificada.
O movimento do cinema cristão brasileiro, portanto, já não se resume a eventos pontuais ou bilheterias isoladas. Trata-se de um esforço articulado de consolidação industrial — com profissionais formados, estruturas fortalecidas e produções com apelo internacional. Ignição da Alma representa esse novo capítulo, em que fé e técnica se unem para transformar o cinema religioso em um campo estratégico do audiovisual brasileiro.
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