28 Novembro 2025 | Yuri Codogno
Circuito Spcine é eleito como maior rede pública do mundo: "A experiência coletiva reacende o hábito de ir ao cinema"
Portal Exibidor conversou com Emiliano Zapata, diretor de inovação e políticas audiovisuais da Spcine
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Recentemente, o Circuito Spcine, rede exibidora da Spcine que busca democratizar o acesso aos cinemas na cidade de São Paulo, foi eleito como a maior rede pública de cinemas do mundo. O levantamento foi feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) e levou em consideração os 37 espaços da rede na capital paulista (33 totalmente gratuitos), todos equipados com tecnologia de ponta. Indo além, vale ressaltar que, muito graças às medidas da Spcine, a capital paulista foi reconhecida pela Unesco como Cidade Criativa na categoria de Cinema.
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O Portal Exibidor conversou com Emiliano Zapata, diretor de inovação e políticas audiovisuais da Spcine, sobre os feitos alcançados pela empresa. O especialista também vislumbrou um pouco sobre o futuro da atuação da Spcine.
“Ser o maior circuito gratuito de cinema do mundo é mais do que um título — é a prova de que a cultura pode ser política pública de impacto real. O sucesso do Circuito Spcine vem da combinação entre gestão pública eficiente e compromisso social. O que nos move é garantir que o cinema chegue onde antes não chegava, fortalecendo comunidades, gerando pertencimento e ampliando o acesso à sétima arte em todas as regiões da cidade”, destaca Emiliano.
O estudo da FIPE, aliás, apontou que a gratuidade e a proximidade dos equipamentos culturais com as comunidades são fatores decisivos para a adesão do público: 94% dos moradores das regiões atendidas consideram a iniciativa positiva, enquanto 99% dos frequentadores defendem sua manutenção. Além disso, mulheres representam 67,9% da audiência, assim como o público jovem é maioria, visto que quase metade dos espectadores têm menos de 18 anos.
Vale ressaltar, também, que no Circuito Spcine há forte presença de diversidade étnica, com metade do público se declarando parda ou preta, e de populações com renda 40% abaixo da média paulistana, especialmente nos Centros Educacionais Unificados (CEUs), locais que abrigam algumas das salas de cinema da Spcine.
Desta forma, é possível fazer uma conexão direta entre redes públicas e formação de público, como ressaltou Zapata: “O Circuito Spcine atua exatamente nesse ponto: formar público. Nossas salas gratuitas permitem que crianças, jovens e famílias redescubram o prazer de ver um filme na tela grande — muitas vezes pela primeira vez. É a experiência coletiva que reacende o hábito de ir ao cinema. Esse reencontro cria base para um futuro onde o público é mais diverso, consciente e presente também nas salas comerciais. Democratizar o acesso é plantar a semente de um novo ciclo de valorização do cinema”.
Outro ponto essencial é que o estudo do FIPE mostra, ainda, que o Circuito complementa, e não substitui, as salas comerciais. Em números: apenas 6,3% do público nunca foi a um cinema pago, e a maioria dos espectadores alterna entre os dois modelos. Desta forma, para quem prioriza os cinemas públicos, o custo zero e a acessibilidade são determinantes, mesmo sem vender alimentos e bebidas - sendo a implementação de pipoca a principal sugestão de melhoria.
Ou seja, tal movimento reforça ainda mais os circuitos gratuitos como formadores de público e auxiliam, de maneira direta, na manutenção das salas de cinema a longo prazo. Com o objetivo simultâneo de formar cinéfilos, os espectadores que hoje frequentam salas públicas têm grande potencial de ser aqueles que pagarão por ingressos quando a situação financeira permitir.
Em tempos em que a venda de ingressos está abaixo do ideal para que as salas consigam se manter, pensar no futuro é tão importante quanto trabalhar no agora. Além disso, vale lembrar que, diferente do circuito comercial, que vem enfrentando essa dificuldade para atrair o público pagante, o Circuito Spcine não tem encontrado grandes problemas na atração de público. Em parte, a gratuidade e a proximidade dos cinemas com as comunidades explica, mas não é apenas por essas razões.
“O que a Spcine ensina é que o público existe — basta chegar até ele. Quando há curadoria sensível, programação territorializada e presença constante nos bairros, as pessoas respondem. O cinema precisa dialogar com as realidades e os afetos das comunidades. As redes pagas podem aprender a olhar mais para o entorno, investir em diversidade de conteúdo e entender que cinema é também convivência e encontro, não apenas produto”, exemplifica Emiliano Zapata.
Em outras palavras, o especialista explica que é necessário pensar no cinema a partir de uma demanda de mercado do território em que o cinema está instalado. O que funciona em complexo X pode não funcionar em complexo Y, algo que as redes estão cientes. Indo além, investir na diversidade de conteúdo também pode ser uma peça-chave para que haja um fluxo de espectadores mais estável. Recentemente, a variedade de títulos em cartaz demonstrou a importância de ter uma ampla gama de filmes à disposição.
Nessa toada, quem tende a se beneficiar bastante é o cinema nacional, que aumenta suas chances de encontrar seu verdadeiro público. “Os circuitos públicos são laboratórios de formação de público e de visibilidade para o cinema brasileiro. São espaços onde nossos filmes encontram espectadores reais, fora dos grandes centros de consumo. Valorizar os circuitos públicos é fortalecer a cadeia produtiva nacional — do realizador independente ao distribuidor — e ampliar o reconhecimento da produção brasileira como espelho do nosso povo e da nossa diversidade”, conta Zapata.
O Circuito Spcine e seus programas
Para alcançar o status atual, porém, não foi da noite para o dia. Foram necessários anos de trabalho e de inovação, atuando em diferentes frentes e investindo em modelos diferentes de exibição, buscando sempre chegar a um maior número de espectadores.
“Temos ações pensadas para toda a cidade. A Sessão Novelo, por exemplo, é uma iniciativa que convida os clubes de crochê e tricô dos CEUs a realizarem suas atividades manuais enquanto assistem aos filmes — transformando a sala de cinema em um espaço de convivência, troca e afeto. Já a Sessão Melhor Idade é dedicada ao público sênior e promove experiências afetivas e geracionais. Além disso, realizamos sessões inclusivas, cineclubes comunitários e parcerias com escolas públicas. O Circuito Spcine é uma rede viva, que se adapta às demandas de cada território e faz da tela um ponto de encontro entre diferentes públicos”, conta Zapata.
Existem planos, aliás, de expansão, tanto em número de salas quanto em ações formativas e de capacitação. Isso porque o foco é consolidar o audiovisual como direito cultural, com mais pessoas não apenas assistindo filmes, como também fazendo parte da cadeia produtiva — dirigindo, roteirizando, exibindo e produzindo.
E foram essas medidas que ajudaram a alçar a capital paulista como uma Cidade Criativa, na categoria de Cinema, pela Unesco. Segundo a própria Spcine, o Circuito Spcine é um dos pilares dessa conquista, visto que nesses dez anos de atuação ajudou a democratizar o acesso ao audiovisual, descentralizando a cultura e garantindo que o cinema faça parte do cotidiano da população, ações que transformam São Paulo em referência mundial.
“É o reconhecimento internacional de que São Paulo é uma potência criativa. Para a Spcine, é a validação de um trabalho coletivo que une governo, artistas, produtores e público em torno da ideia de que o cinema é ferramenta de cidadania. Ser Cidade Criativa da Unesco significa assumir a responsabilidade de continuar expandindo o acesso, a produção e o impacto do audiovisual paulistano no mundo”, finaliza Zapata.
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