"O Auto da Compadecida 2" faz 3ª maior bilheteria de um longa nacional desde 2020 e H2O Films projeta crescimento: "Ainda mais fortes em 2026"
CEO da H2O Films, Sandro Rodrigues concedeu entrevista exclusiva ao Portal Exibidor
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(Foto: Portal Exibidor)
O ano de 2025, sem dúvidas, será lembrado por bastante tempo pela equipe da H2O Films. Responsável pela maior bilheteria do ano para um filme nacional com o fenômeno O Auto da Compadecida 2, a distribuidora vive um momento especial e mira voos ainda mais altos em 2026. O longa que acompanha as hilárias aventuras de João Grilo e Chicó levou 2,92 milhões de espectadores aos cinemas neste ano e superou um outro fenômeno: Ainda Estou Aqui (Sony), que inclusive foi responsável por trazer o primeiro Oscar para o Brasil e vendeu 2,74 milhões de ingressos no mesmo período.
Os feitos de O Auto da Compadecida 2, entretanto, não param por aí. Levando-se em consideração o desempenho do longa, que estreou em 25 de dezembro do último ano apenas em 2025, essa foi a terceira maior bilheteria de um filme nacional em um único ano desde 2020. A produção que vendeu 2,92 milhões de ingressos apenas em 2025 e 4,29 milhões no total, é superada apenas por Ainda Estou Aqui, que vendeu 2,97 milhões de ingressos em 2024 (5,71 milhões no total), e Minha Mãe é Uma Peça 3 (Downtown/Paris), que vendeu 8,81 milhões de ingressos em 2020 (11,37 milhões no total).
"Foi muito importante para nós todo o envolvimento do exibidor. Não estou falando apenas da programação, que foram nota dez. Tiveram um envolvimento e realmente o projeto não era só nosso, era deles também. Eles realmente vestiram essa camisa e todos os materiais que colocamos, e colocamos muitos materiais com muita antecedência, contamos com a ajuda de todos eles para ajudar a divulgar esses materiais. Eles abraçaram esse planejamento e fizemos um trabalho desde o início apresentando qual seria a estratégia e foi unânime, foi 100% o apoio de todos os exibidores. Então na minha opinião é um conjunto. Entendemos que o mercado está passando por mudanças muito grandes, e nós aqui da H2O estamos estudando cada vez mais e acompanhando as mudanças de comunicação, as mudanças de como fazer a mídia, as mudanças de conseguir ter uma comunicação impactante que realmente tenha um engajamento. Não adianta só comunicar, tem que engajar e despertar esse desejo. Acho que foi esse conjunto, que graças a Deus, fez atingirmos esse resultado", destacou Sandro Rodrigues, CEO da H2O Films, em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor e que poderá ser lida na íntegra ao final do texto.
Mas, além de contar com o apoio e empenho dos exibidores, a H2O também credita o sucesso do filme a uma campanha de marketing que teve início quase dois anos antes da estreia do filme. A distribuidora executou um trabalho para resgatar toda a emoção da franquia, que teve o primeiro lançado 25 anos antes, mas também despertar o interesse e curiosidade de um novo público, que ainda não havia tido contato com a produção lançada no ano 2000.
"Fomos explicando o que é o 'mundo Auto da Compadecida' e começamos a despertar principalmente em um consumidor novo que projeto é esse e qual é a proposta. (...) Tínhamos um desafio muito grande porque, por ser um projeto de mais de 20 anos, o público que está hoje nos cinemas, não necessariamente estava com essa franquia na cabeça. Tinha o lado emocional para um público mais velho, óbvio, mas também um público mais jovem que tivemos um cuidado para envolvê-los nessa franquia", explicou Sandro sobre o trabalho de trazer o público jovem para os cinemas.
O trabalho de conquistar o público jovem, inclusive, se tornou uma tarefa ainda mais árdua pela data escolhida pela distribuidora para a estreia: 25 de dezembro. O Auto da Compadecida 2 disputou a preferência desse público com dois grandes blockbusters, Sonic 3: O Filme (Paramount) e Mufasa: O Rei Leão (Disney). Para o executivo da H2O, todo o trabalho da equipe, além do DNA da própria empresa, também foram essenciais para o sucesso e consolidação de O Auto da Compadecida 2 como um dos maiores fenômenos do cinema brasileiro nos últimos cinco anos.
"A H2O sempre vai ter o DNA de lançamento de cinema. É um mercado que tem muitos desafios ainda e temos um trabalho de posicionar cada vez mais os filmes diante da concorrência e ser relevante, não somente lançar os filmes. Temos uma premissa de potencializar ao máximo cada filme que lançamos, então mesmo que seja um filme menor, queremos ter relevância e essa meta de estar sempre com nossos filmes entre o top 20. Essa é uma premissa e queremos ter uma representatividade no share e no mercado como um todo", destacou Rodrigues.
Mas vale também destacar que o sucesso da H2O não fica restrito às aventuras de João Grilo e Chicó. Durante a entrevista, Rodrigues afirmou que a distribuidora tem como meta sempre colocar pelo menos cinco filmes entre as 20 maiores bilheterias nacionais de cada ano, e em 2025 Uma Mulher Sem Filtro e Eu e Meu Avô Nihonjin também alcançaram essa meta ao venderem 64,96 mil e 40,61 mil ingressos, respectivamente. Para o executivo, a meta é que esses filmes "intermediários" possam contribuir com aproximadamente 150 mil ingressos no market share, mas a projeção é que 2026 seja um ano ainda melhor para a H2O e que a meta esteja cada vez mais próxima de ser alcançada.
"Em 2024 também ficamos com três ou quatro filmes entre as 20 maiores bilheterias nacionais e em 2023 foi a mesma coisa. Estamos alimentando essa cadeia de ter filmes relevantes perante o mercado e a intenção é aumentar nos próximos anos. Esse foi um ano de colocar muitos projetos para dentro, então entendemos que em 2026 vamos vir ainda mais fortes e a cada ano queremos ter mais projetos brigando com números maiores", concluiu Rodrigues.
CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA, REALIZADA NO DIA 17 DE DEZEMBRO:
"O Auto da Compadecida 2" se tornou um fenômeno e foi a melhor renda e público de um filme brasileiro em 2025, e também passou a maior parte do ano entre os dez maiores públicos gerais. Ao que você atribui esse resultado e como você avalia a atuação da H2O em torno do lançamento do filme?
Obviamente estamos muito felizes com esse resultado e, na minha leitura, “O Auto da Compadecida 2” foi um projeto em que montamos um planejamento com muita antecedência. Essa antecedência e esse planejamento trouxeram dois grandes resultados. O primeiro é que foi muito pensado e discutido sobre o projeto do filme e a área criativa. Foi um trabalho incrível dos produtores e fico muito feliz de a H2O também ter participado como uma das produtoras junto com a Conspiração e o Guel Arraes. A direção do Guel foi um trabalho sensacional como idealização, direção e toda a concepção. Essa parte criativa ficou muito entre o Guel e o Edson Pimentel, que fizeram realmente um trabalho incrível.
Obviamente depois, com toda a qualidade e todo o trabalho fantástico, sempre com a entrega da Conspiração que trouxe toda essa qualidade de projeto. Outro pilar que para mim foi muito importante é que dentro desse planejamento com muita antecedência, foi um filme que começamos com mais de um ano e meio de campanha, criamos várias ondas de comunicação. Chamamos aqui internamente de despertar o desejo de querer assistir o filme. Criamos ondas de 'vem aí' bem no roteiro, fizemos uma campanha muito forte e ali já vimos o potencial do que poderia ser, mas trabalhando uma campanha com vídeo junto com o Selton e o Matheus falando “vem aí ‘O Auto da Compadecida 2’”, então fomos explicando o que é o “mundo Auto da Compadecida” e começamos a despertar principalmente em um consumidor novo que projeto é esse e qual é a proposta. Então conseguimos construir um desejo com muita antecedência.
Para se ter uma ideia, participamos sempre levando materiais diferenciados em duas CCXP e duas Expocine. Fomos criando campanhas de materiais digitais com várias ondas no mundo digital, criando clipes com cenas inéditas e sempre soltando alguma informação nova e deixando sempre o público acompanhando e absorvendo esse desejo de querer ver o filme.
Acho que o mercado está cada vez mais competitivo e está muito difícil despertar esse tempo que as pessoas têm hoje muito cercada de várias atrações somente com o crescimento das redes sociais, então você tem que realmente despertar o desejo desse consumidor de querer consumir na hora que você oferece o produto. Primeiro criamos o caminho que era despertar o desejo e depois com uns seis meses de antecedência entramos na onda que foi o desejo de consumir, então primeiro saber para depois consumir. Acho que essa campanha teve um resultado incrível e, além dessa campanha como estratégia de comunicação, tivemos a felicidade de várias marcas que também acreditaram no projeto. Tivemos marcas como Brahma, Santa Helena, TikTok fazendo campanhas, e eles fizeram o merchan e souberam potencializar junto com a gente o merchan que eles fizeram com campanhas em paralelo, então somamos a campanha tanto das marcas, quanto a campanha do filme. Tivemos vários parceiros que entraram no projeto e, junto com nós, fizeram o filme ter ainda mais divulgação e mais visibilidade.
Um outro ponto que foi muito importante para nós foi todo o envolvimento do exibidor. Não estou falando apenas da programação, que foram nota dez. Tiveram um envolvimento e realmente o projeto não era só nosso, era deles também. Eles realmente vestiram essa camisa, mas desde essas ondas, todos os materiais que colocamos, e colocamos muitos materiais com muita antecedência, e todos eles participaram ajudando a divulgar esses materiais. Eles abraçaram esse planejamento e fizemos um trabalho desde o início apresentando qual seria a estratégia e foi unânime, foi 100% o apoio de todos os exibidores. Então, na minha opinião, é um conjunto. É um filme de alta qualidade, um filme que teve todo esse apreço e carinho de entregar o melhor filme possível, e tinha muita responsabilidade de pegar uma franquia tão grande quanto essa. Ao mesmo tempo, toda a estratégia de campanha. Entendemos que o mercado está passando por mudanças muito grandes, e nós aqui da H2O estamos estudando cada vez mais e acompanhando as mudanças de comunicação, as mudanças de como fazer a mídia, as mudanças de conseguir ter uma comunicação impactante que realmente tenha um engajamento. Não adianta só comunicar, tem que engajar e despertar esse desejo. Acho que foi esse conjunto, que graças a Deus, fez atingirmos esse resultado.
Na resposta anterior, você falou do tamanho da franquia. O primeiro filme já havia se tornado um dos maiores clássicos do cinema brasileiro e a continuação veio depois de 25 anos. O quanto o sucesso do primeiro filme ajudou no sucesso da sequência, e o quanto exigiu um cuidado também para cumprir as expectativas que certamente seriam muito altas?
O primeiro filme vendeu 2,2 milhões de ingressos e foi um número muito forte. “O Auto da Compadecida” sempre foi um projeto com um resultado muito vitorioso em outras janelas, como TV aberta e mesmo no streaming quando surgiu. Não só o filme, mas também a série. Tínhamos um desafio muito grande porque por ser um projeto de mais de 20 anos atrás, o público que está hoje nos cinemas, não necessariamente estava com essa franquia na cabeça. Nós teoricamente tivemos que trazer e explicar o que era essa franquia. Tinha o lado emocional para um público mais velho, óbvio, mas também um público mais jovem que tivemos um cuidado para envolvê-los nessa franquia.
Então, ao mesmo tempo, óbvio que toda franquia tem uma qualidade pelo fato de já ser uma marca conhecida, mas ser conhecida e ter o desejo de ver são obstáculos bem diferentes. Tivemos a responsabilidade e um trabalho de envolver esse consumidor novo para entender, despertar esse desejo e querer consumir. Virar um objeto de desejo na data que estipulamos para o lançamento.
Entramos em uma data que normalmente é muito concorrida, uma data como 25 de dezembro. É uma data que tem toda a comunicação do Natal e normalmente conta com a entrada de grandes blockbusters. Entramos com duas grandes apostas e dois filmes que concorreram com a gente no top 10 que foram “Mufasa” e “Sonic”. Eram dois filmes gigantes entrando na mesma data e nós lançamos com eles também fazendo a comunicação deles, e foi um filme que tivemos que despertar o interesse desse público jovem e conseguimos. Acho que essa foi nossa grande vitória. Óbvio que a franquia ajudou muito, mas houve um desafio desse público novo que tomamos muito cuidado, por isso acho que a antecedência desse trabalho fez a gente conseguir suprir essa diferença de 20 anos da primeira para a segunda franquia.
E agora expandindo um pouco mais para o ano da H2O como um todo, vocês também tiveram filmes com bons resultados nesse ano como "Uma Mulher Sem Filtro" e "Eu e Meu Avô Nihonjin", que também estão entre as 20 maiores bilheterias brasileiras. O que esses resultados representam para a H2O e para o ano de 2025 em geral?
A H2O sempre vai ter o DNA de lançamento de cinema. Foi um período de pós-pandemia de volta para todas as empresas, e a H2O investiu muito forte na estrutura dela, na equipe. Hoje estamos com praticamente 35 colaboradores diretos, fora os indiretos, e temos muitas empresas e agências que trabalham diretamente com nós. Temos um foco de sempre ter uma constância. Se você pegar pós-pandemia, todos os anos nós temos no mínimo dois ou três filmes no top 20 das bilheterias nacionais, e nossa meta é ter no mínimo cinco filmes no top 20 entregando para os exibidores.
É um mercado que tem muitos desafios ainda e temos um trabalho de posicionar cada vez mais os filmes diante da concorrência e ser relevante, não somente lançar os filmes. Temos uma premissa de potencializar ao máximo cada filme que lançamos, então mesmo que seja um filme menor, queremos ter relevância e essa meta de estar sempre com nossos filmes entre o top 20. Essa é uma premissa e queremos ter uma representatividade no share e no mercado como um todo.
Em 2024 também ficamos com três ou quatro filmes entre as 20 maiores bilheterias nacionais e em 2023 foi a mesma coisa. Estamos alimentando essa cadeia de ter filmes relevantes perante o mercado e a intenção é aumentar nos próximos anos. Esse foi um ano de colocar muitos projetos para dentro, então entendemos que em 2026 vamos vir ainda mais fortes e a cada ano queremos ter mais projetos brigando com números maiores.
E você falou em um mercado com muitos desafios. Como você avalia o mercado nesse ano de 2025 e qual é o cenário que você enxerga despontando para o ano de 2026? Vê a situação com otimismo?
O mercado foi realmente muito desafiador, mas se a gente comparar, tivemos um crescimento no público de filmes nacionais de 2024 para 2025. Conseguimos crescer de um ano para o outro, obviamente motivado pelos três ou quatro filmes de maior bilheteria. O mercado ainda é muito concentrado em alguns títulos para ter uma relevância muito acima, mas precisamos ter uma prática de um volume grande de projetos competitivos. Não adianta ser apenas um projeto que não tem um propósito. Sempre coloco que independentemente do tamanho do projeto, ele precisa ter um propósito e tem que ter um público que consigamos enxergar que quer ver o filme. Temos que entender que fazemos filmes para o público assistir, então temos que fazer esse desenho.
Quando colocamos esse propósito nos projetos e conseguimos ter um volume de projetos que traga esse propósito, vamos aumentar cada vez mais a chance de ter projetos cada vez mais relevantes. Estamos vindo de uma fase de dois filmes passando da casa dos 4 milhões de ingressos e olho com otimismo a possibilidade de termos mais projetos assim no futuro. Mas também precisamos ter mais projetos e criar o hábito de o nosso público final estar assistindo filmes brasileiros de qualidade e querendo assistir mais porque um impulsiona o outro. Acredito muito na cadeia e queremos fazer isso no próximo ano. No segundo semestre de 2025 foi abaixo do primeiro semestre para o resultado de filmes brasileiros, e penso que 2026 é um ano que teremos mais entregas e mais filmes tentando entregar uma média de público alta.
Acho que ainda temos um caminho para melhorar a performance, porque se hoje você pegar o 20º filme, vamos falar de um filme de 30 mil a 40 mil ingressos, mas temos que falar de um vigésimo filme com 100 mil ou 150 mil ingressos. Assim vamos conseguindo aumentar o patamar e nosso market share vai aumentando como um todo, e passamos a não depender tanto do top 1 ou do top 2. Acho que a média deve crescer até o final de 2025 e torço para que tenhamos mais projetos que cheguem na casa de 1 milhão ou 1,5 milhão. Precisamos muito de filmes que vendam 500 mil ingressos, que não estamos tendo, então devemos com a prática aumentar essa base, e com isso vamos estar sempre em busca desses grandes filmes como foi o caso de “O Auto da Compadecida 2” e “Ainda Estou Aqui”.