Exibidor

Publicidade

Artigo / Tendências & Mercado

26 Novembro 2025

O circuito de festivais e a sua importância para o cinema universitário contemporâneo

Os festivais de cinema ocupam um papel fundamental na dinâmica cultural e na cadeia produtiva do audiovisual como espaços de exibição, difusão e de formação

Compartilhe:

Eduardo Valente afirma em seu texto “Festivais de cinema: o verdadeiro circuito alternativo” (2016): “Se, na sua origem, os festivais buscavam criar um espaço de celebração (não por acaso remetendo à ideia de festa, de festividades) da arte cinematográfica, ampliando a visibilidade e divulgação dos filmes, hoje os festivais de cinema se tornaram praticamente um circuito alternativo de circulação de filmes pelo mundo”.

Publicidade fechar X

Essa afirmação é especialmente verdadeira no circuito universitário, já que os filmes produzidos em cursos de graduação em Cinema e Audiovisual, cursos técnicos em audiovisual e cursos adjacentes ao cinema ainda enfrentam grandes dificuldades para serem distribuídos e exibidos, mesmo dentro do próprio nicho acadêmico. Festivais como o FBCU (Festival Brasileiro de Cinema Universitário), criado em 1995 por estudantes de cinema da Universidade Federal Fluminense, foram e seguem sendo espaços formativos para gerações de estudantes de cinema e realizadores iniciantes.

A relevância de um festival está ligada ao seu escopo, aos objetivos de alcance de público e à repercussão. Assim, festivais que exibem filmes realizados exclusivamente em instituições de ensino por estudantes universitários têm como propósito fazer circular uma produção que, em geral, não encontra seu público, não tem acesso às salas de exibição e raramente encontra espaço em outros circuitos.

Além de espaços de exibição, os festivais funcionam ainda como pontos de encontro entre realizadores, obras e públicos, promovendo trocas que fortalecem a identidade do cinema nacional e ampliam a sua circulação. Esses eventos contribuem para a formação de plateias, para a valorização de novas narrativas e para a criação de redes entre profissionais e estudantes, especialmente em contextos nos quais a distribuição comercial é limitada. No caso do cinema universitário e curta-metragista, os festivais têm ainda a função de criar espaços de visibilidade às produções que revelam sensibilidades e urgências de uma nova geração de cineastas, ao mesmo tempo que fomentam debates e reflexões sobre o futuro do audiovisual no país.

Tetê Mattos, em seu artigo “Festivais para quê? Um estudo crítico sobre festivais audiovisuais brasileiros” (2013), destaca que “(...) se a exibição, difusão e promoção são praticamente características comuns ao segmento, identificamos algumas outras não menos importantes atuações de alguns festivais. Do ponto de vista de formação, muitos dos festivais realizam oficinas e cursos na área do audiovisual contribuindo para a qualificação do público local.” Considerando a função formativa intrínseca identificada nesses eventos, os festivais de cinema universitário se articulam para serem eventos que promovem oficinas, palestras, mesas-redondas, rodas de debate, desejando alcançar não apenas o público especializado, como também a população em geral que frequenta as atividades do festival.

O Festival Beta, que está em sua sexta edição, é um exemplo da importância dos espaços de circulação do cinema universitário e independente. Idealizado e produzido por estudantes do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM-Rio, com auxílio de estudantes de outros cursos da mesma instituição, o festival tem como principal objetivo promover uma maior visibilidade para produções universitárias em âmbito nacional e, com isso, fortalecer redes entre os novos realizadores do cinema brasileiro.

Neste ano, o VI Festival Beta contou com a inscrição de mais de 200 filmes de todo o Brasil, sendo 115 deles selecionados pela equipe de curadoria para três dias de exibição no Estação NET Botafogo, divididos entre Mostra Competitiva e Não Competitiva. O público das exibições variava entre estudantes de cinema, realizadores e seus conhecidos e o público habitual de sala de cinema que se interessou pelas mostras. Enquanto espaço de formação, o Beta promoveu um ciclo de oficinas e mesas redondas, com a presença de pesquisadores, realizadores e críticos de cinema.

Nos intervalos das sessões, pessoas interessadas em cinema conversam, criam laços, compartilham experiências espectatoriais e constroem redes. Esses espaços são fundamentais para trocas e para a construção de parcerias que fortalecem o setor audiovisual, contribuindo para a circulação de ideias e para o surgimento de novas propostas estéticas e narrativas.

O Festival Beta se estabelece como um festival de cinema universitário de âmbito nacional cada vez mais forte, reunindo em seu catálogo desta edição realizadores curtametragistas de mais de 50 instituições de ensino, espalhadas pelo Distrito Federal e outros 22 estados das cinco regiões do país. O cinema que é possível encontrar no Festival Beta tem muito a nos ensinar sobre as sensibilidades, os olhares e as urgências de uma nova geração de cineastas do Brasil.

A importância do Festival Beta e de festivais de cinema universitário, portanto, se dá justamente nas histórias encontradas em seus filmes e nas trajetórias de seus realizadores, que desvelam realidades ao mesmo tempo que promovem um olhar para o futuro do cinema e do país. Ao se estabelecerem como espaços de formação, ampliação e transformação, os festivais contribuem para a diversidade e a renovação do audiovisual brasileiro, abrindo portas para narrativas e perspectivas alcançarem o seu público e, assim, fomentar novas ideias.

Fontes:

IKEDA, Marcelo Gil. Festivais de cinema e curadoria: uma abordagem contemporânea. Rebeca-Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, v. 11, n. 1, p. 181-202, 2022.

MATTOS, Tetê. Festivais pra quê? Um estudo crítico sobre festivais audiovisuais brasileiros. A Recepção Cinematográfica, 2013.

VALENTE, Eduardo. Festivais de cinema: o verdadeiro circuito alternativo. Catálogo da mostra Do Brasil para o mundo, CCBB, 2016, p. 30 – 37.

Marcela Soalheiro 
Marcela Soalheiro  | m.soalheirocruz@gmail.com

Doutora em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2022). É professora na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-Rio), no curso de Cinema e Audiovisual, onde coordena a produtora júnior Cinestesia. É membra do conselho da Socine na gestão 2023-2025. Tem experiência profissional em produção audiovisual e produção executiva. Atua com os seguintes temas da pesquisa: cinema e audiovisual; literatura; memória; intertextualidades; intermidialidades e produção audiovisual.

Compartilhe: