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Artigo / Tendências & Mercado

10 Dezembro 2025

A Cota de Tela dos Cineastas

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Associação Paulista de Cineastas - APACI e Associação Brasileira de Cineastas – ABRACI/RJ, as duas maiores associações de realizadores do país, enviaram à ANCINE representação conjunta defendendo mudanças na maneira como a agência regula a Cota de Tela.

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As associações propõem que a Cota de Tela – extinta no governo Bolsonaro e reinstituída pela Lei no 14.814/24 – passe a funcionar no Regime de Metas. Assim, a Cota de Tela Média atual, de 14,3%, deve ter aumento mínimo de dez por cento no ano que vem, 15,7%. Esse crescimento progressivo deve continuar nos próximos dez anos, até que os filmes brasileiros ocupem mais de 35% das sessões nas salas de exibição, para que nossa produção independente se torne economicamente sustentável, como já foi no passado.

Assim como em outros países, a Cota de Tela é ferramenta fundamental para a conquista de nosso próprio mercado cinematográfico. Uma presença vigorosa de nosso audiovisual na formação da identidade do público é essencial para o desenvolvimento de nosso país, cultura e sociedade. Entretanto, desde a fundação da ANCINE, a Cota de Tela teve sua aplicação desvirtuada por uma flutuação conjuntural, em prejuízo de sua função maior – a de “promover a auto-sustentabilidade da indústria cinematográfica nacional”.

Da mesma forma, é imprescindível que o cumprimento da Cota de Tela seja o mesmo para todas sessões e horários – pois a qualidade do cumprimento da Cota afeta seu resultado. A leniência a esse respeito leva muitos cinemas, submissos a grandes distribuidoras estrangeiras, a programarem os filmes nacionais em dias e horários de menor frequência de público, diminuindo sua rentabilidade. Não é admissível que a Cota seja uma às três da tarde e outra às sete da noite, ou diferente, nos dias comuns, dos feriados e fins de semana.

Com a pressão desproporcional dos lançamentos internacionais, filmes brasileiros são “canibalizados” no circuito comercial e é frequente sua retirada de cartaz antes que atinjam seu pleno potencial de público. Por isso também é urgente a regulação da Regra da Dobra, para manter em cartaz filmes nacionais que apresentem público igual ou superior à média da sessão na sala. Cota e Dobra são mecanismos que se completam, historicamente foi sua combinação que propiciou um ciclo virtuoso de aumento de nossa participação no mercado – uma garantindo espaço e a outra a permanência em cartaz.

Junto a esses pontos principais, os cineastas propuseram medidas complementares, para o aumento de nossa participação no mercado. Com um parque exibidor que, embora ainda insuficiente para as dimensões de nosso território e população, está entre os maiores do mundo, não podemos repetir a fracassada receita de primeiro deixar crescer o bolo para depois reparti-lo. Nosso cinema não pode continuar sendo tratado como estrangeiro dentro de nosso próprio país, ou seremos colonizados eternamente. O aumento da participação dos filmes brasileiros no nosso circuito de salas, além de economicamente fundamental para a sustentabilidade de nossa indústria audiovisual, é uma questão cultural estratégica. Faz parte da construção e desenvolvimento de nosso imaginário e identidade nacional.

**As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem necessariamente a posição deste veículo.**

Francisco (Kiko) C. Martins
Francisco (Kiko) C. Martins

Francisco C. Martins (1954) iniciou sua carreira no “novo cinema paulista” escrevendo e dirigindo, com José Antonio Garcia, "O Olho Mágico do Amor" (1982), "Onda Nova" (1983) e "Estrela Nua" (1984), conquistando vários prêmios, como APCA e Gov. do Estado de SP. Colaborou nos roteiros da renomada série da TV Cultura, “Castelo Rá-Tim-Bum”, e foi roteirista de "Tempo de Resistência" (2003), de André Ristum. Dirigiu, junto com Helena Ignez, "Luz nas Trevas – A volta do Bandido da Luz Vermelha", exibido no 63º Festival de Locarno. Diretor e co-roteirista de "Maria: Não Esqueça que Eu Venho Dos Trópicos", selecionado para o É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários (2017).

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