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Artigo / Técnica

23 Janeiro 2020

Um negócio pode ser bom para todos

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Quando uma sala é construída ou reformada com inclusão de novos equipamentos, a fase final do trabalho é o alinhamento da imagem e do som. Isto acontece frequentemente quando ainda está presente na sala o cheiro de tinta e cola de carpete. Existe um padrão adotado em forma universal de como deve ser regulado o som e a imagem nos cinemas, e essa regulagem é feita com auxílio de instrumentos.



Esse mesmo padrão é utilizado nos estúdios durante a criação do conteúdo, para que tanto o diretor, o diretor de fotografia, o desenhador do som, o mixador e outros profissionais tenham controle preciso do que estão fazendo. E eles querem que seja esse o conteúdo que chegue ao espectador em forma íntegra. Se a sala estiver desregulada, o trabalho deles será deturpado. Um exemplo fácil de entender seria o caso de um artista plástico ter a sua pintura ou escultura exposta numa galeria com iluminação deficiente. Deturpar uma obra é arruinar a mensagem, frustrar o artista e o espectador. Cinema é a soma de muitas artes, e vale a mesma afirmação para cada uma delas. E esta é uma responsabilidade do exibidor, a de manter a mensagem original, para que assim chegue ao espectador.

Muitos aspectos devem ser cuidados, inclusive desde o projeto da sala. A acústica desta deve evitar ter tempos de reverberação alta, ou reflexões de som múltiplas como era habitual nos antigos cinemas de rua. Os equipamentos, tanto de projeção quanto de som, devem ser corretamente dimensionados para o tamanho da sala. Da mesma maneira, a qualidade deles não pode ser comprometida. A sua instalação e regulagem devem ser feitas por profissionais competentes utilizando instrumentos adequados e corretamente aferidos.

Uma vez a sala em funcionamento, o tempo é um outro fator que deve ser considerado. É necessário manter as coisas arrumadas.  Equipamentos lentamente se desgastam, ajustes saem do lugar, peças falham. Não se deve esperar pelas falhas, sejam estas catastróficas, que significam a sala parada com perda de faturamento e cliente irritado, ou pelas pequenas, que comprometem a qualidade do espetáculo. Monitoramento remoto das condições dos equipamentos é importante. Manutenção preventiva é uma prática que a longo prazo resulta lucrativa.

O ambiente das cabines de projeção se contamina permanentemente com os óleos de frituras da praça de alimentação, das pipoqueiras, etc. E estes vapores causam estragos importantes nos sistemas internos dos projetores, que são extremamente delicados.  Por isso os filtros de ar dos projetores devem ser trocados periodicamente, sendo tão necessário como são as trocas de lâmpadas.

Mas o monitoramento remoto não inclui muitas outras coisas que não podem ser eletronicamente verificadas a distância.  Por exemplo, alto falantes. Periodicamente é necessário fazer testes e verificar se todas as caixas de som estão funcionando, e se estas ainda estão no lugar! Às vezes a parte de alta frequência falha, e o som fica abafado. Existem DCPs de testes subjetivos chamados “Jiffy test”, que contém sequências de testes de som e de imagem fáceis de utilizar, pois basta projetar e caminhar pela sala observando e ouvindo com cuidado, e em poucos minutos se tem uma avaliação primária da situação.  Defeitos severos, como a falta de um canal de som, drivers de cornetas estourados, falta de sincronismo entre som e imagem e imagem com defeitos, podem ser rapidamente identificados.

A manutenção preventiva deve ser feita de forma periódica. O tempo entre uma e outra varia com os equipamentos, mas uma vez ao ano seria recomendável. Esta deveria incluir aferição do “ponto branco”

da imagem, que garante a correta reprodução das cores, e o nível de luminância. No som, deve ser verificada a equalização e os níveis de pressão acústica por canal. Nas salas com imagem 3D, e dependendo do sistema, pode ser necessário verificar se tudo está no sincronismo correto.

A apresentação de qualidade do espetáculo cinematográfico e a sua consistência é um fator que a audiência aprendeu a valorizar. Existe um conteúdo muito rico do qual vale a pena extrair o máximo. Agora a audiência tem ciência disto, e não esqueça que em casa ela dispõe facilmente de telas HD e 4K, e sistemas home theatre com som espetacular. Cuide do seu espectador e da sua fidelidade oferecendo o melhor que a sua imersão consegue fazer. Quando é assim, ganhamos todos, o diretor e todos os profissionais que criam o conteúdo, a produtora, o distribuidor, o exibidor e é claro, o espectador.

Carlos Klachquin
Carlos Klachquin | CBK@dolby.com

Carlos Klachquin é gerente da DBM Cinema Ltda, empresa de serviços, projetos e consultoria na área de produção e exibição cinematográfica. Formado como engenheiro eletrônico fornece suporte de engenharia em tecnologias de áudio, entre outras empresas, para Dolby Laboratories Inc, sendo responsável também pela administração de operações vinculadas à produção Dolby de cinema e ao licenciamento das mesmas na América Latina. Desde 2013, trabalha na implementação do programa Dolby Atmos na América Latina, incluindo a supervisão da instalação e a regulagem dos sistemas em cinemas e estúdios e da produção de som Atmos no Brasil.

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