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Artigo / Debate

28 Janeiro 2020

Programando para um futuro sem VPF

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Recentemente em Los Angeles aconteceu o encontro anual da ICTA (International Cinema Technology Association) com a presença de diversos exibidores e empresas de tecnologia ligadas ao mercado do cinema.  É a oportunidade de poder conferir como a tecnologia continua sendo um dos pilares da evolução do cinema. Porém, um dos destaques do evento não se trata de qualquer novidade e, de certa maneira, é um dos últimos links entre o cinema comercial e as cópias 35mm: o VPF.

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Durante o discurso de abertura, John Fithian, Presidente da NATO (National Association of Theatre Owners), destacou o final do VPF (Virtual Print Fee) e como impactará na transição para um modelo econômico que exige renovação constante de equipamentos, mas agora sem a contribuição dos estúdios. A ideia de um VPF versão 2.0 foi apresentada aos executivos do mercado, mas é muito provável que ficará exclusivamente a cargo dos cinemas a responsabilidade de renovar seus equipamentos de projeção. E, sendo assim, para John Fithian cabe aos exibidores e à NATO liderar a discussão sobre as especificações dos equipamentos que chegam aos cinemas e, desta maneira, controlar seu próprio destino no que ser refere a novas tecnologias.

DCI (Digital Cinema Initiatives) continua sendo uma organização importante para o cinema e trabalhando diretamente com a NATO. Foi a partir de sua formação em 2002 que se pôde estabelecer as especificações relacionadas à digitalização do mercado exibidor, os processos de segurança antipirataria para conteúdo cinematográfico e a criação do VPF. Esse último sendo crucial para subsidiar a tarefa gigantesca de mudar um mercado totalmente analógico (cópias 35mm) ao digital em praticamente poucos anos, considerando que se trata de uma indústria centenária. Agora seu foco será provavelmente tecnologias como HDR+ ou LED que ainda vão levar um pouco mais de tempo para chegar de forma massiva aos cinemas, além da prioridade em proteger os filmes.  Já no caso das tecnologias de projeção amplamente utilizadas atualmente, NATO quer conduzir o processo que define as especificações de imagem dos equipamentos que chegam aos cinemas e para isso lançou o projeto Nível de Imagem para Cinema Digital (Digital Cinema Picture Level).

Com a participação de inúmeras empresas, NATO está pesquisando sobre os equipamentos atualmente em uso no mercado e como determinar os padrões e especificações de imagem. Irá também avaliar novos e futuros equipamentos com testes em laboratório e, com base nesse amplo estudo, provavelmente fará futuras recomendações ao SMPET (Society of Motion Picture and Television Engineers), associação profissional essencial para definir qualquer norma técnica ou padrão no mercado audiovisual.  

Se por um lado o fim do VPF abre caminho para exibidores determinarem padrões técnicos que eram na maioria definidos pelos estúdios via DCI, se ampliarmos essa discussão podemos ver uma nova disruptura chegando: a programação digital.  Não se trata de uma programação feita usando um programa específico ou publicada online, e sim uma programação desvencilhada de qualquer amarra com o modelo usado para cópias 35mm que de certa maneira continuam virtualmente nas programações de hoje, também por conta do VPF. Afinal, o ‘P’ de VPF continua sendo Print/cópia. 

Conversando com alguns exibidores no mercado doméstico, parece claro que a programação será cada vez mais dinâmica e com grande variedade de conteúdos alternativos, sejam filmes ou materiais hoje normalmente exibidos em outras mídias. Alamo Drafthouse, por exemplo, uma das redes que mais cresceu em 2019 no mercado americano, exibiu 2.083 filmes quando normalmente as demais redes exibiram uma média de 1.142 filmes. Eles também apresentaram em Los Angeles durante ICTA um dos seus novos cinemas com o conceito ‘Cinema Totalmente em Rede’ (Fully Networked Cinema) que facilita a exibição de qualquer conteúdo em qualquer uma de suas salas, em qualquer horário e qualquer dia. Sem amarras de exclusividade de um filme para uma sala.

Além disso, cada vez mais ingressos são adquiridos via online ou aplicativos, sendo uma realidade que só tende a crescer. E, apesar que toda negociação tenha o seu fator humano envolvido e não há como substitui-lo, creio que não estamos tão distantes do dia em que algoritmos definirão qual conteúdo será exibido em cada sala baseado em megadata e desempenho de ingressos online.

 Nesse provável futuro pós VPF no qual a tecnologia é guiada pelos exibidores, salas de cinemas totalmente integradas e uma programação digital que vai além dos resultados da semana anterior, falar em número de “cópias”, full time ou programação completa da semana pode ficar tão antigo quanto mencionar CarDex* numa discussão sobre marcação dos filmes.

 

*P.S.: Para saber o que é o CarDex, recomendo conversar com um Boomer do mercado. :-)

Ricardo Bollier
Ricardo Bollier

Profissional com mais de 15 anos de experiência na indústria do entretenimento, tendo passado por empresas globais como Fox Film, Warner Bros, Dolby e D-BOX. Atua nos mercados da América Latina e Estados Unidos, juntando conteúdo, experiências e tecnologia.

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