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18 Fevereiro 2021 | Renata Vomero

CEO da H2O Films vê na unificação do mercado segredo para sucesso da indústria

Sandro Rodrigues falou com o Portal Exibidor sobre o futuro do setor cinematográfico

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(Foto: Exibidor)

Era março de 2020 quando a OMS decretou que o mundo estava vivendo uma pandemia, em seguida foi decretada quarentena no Brasil, com as principais atividades econômicas ficando paralisadas, entre elas, todos sabemos, os cinemas.

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A H2O Films estava com tudo pronto para lançar De Perto Ela Não é Normal e Não Vamos Pagar Nada e foi pega de surpresa com a notícia dos fechamentos das salas. “Tivemos que fazer diferentes caminhos para fazer esses produtos sobreviverem, com lançamento pequeno e direto para o streaming”, explica o CEO da distribuidora, Sandro Rodrigues.

O susto foi grande e movimentou a empresa, que teve que reestruturar todo o calendário e modelos de lançamentos para se adequar, ou sobreviver, na nova realidade, em modo gestão de crise, como se fosse uma “terceira guerra mundial”, como diz o próprio executivo.

Com o passar dos meses o mercado foi entendendo o cenário e aos poucos a retomada gradual, que acompanha a vacina, vai dando confiança para colocar os produtos no cinema, que precisam de fortes títulos. E essa é a aposta da H2O. Já em janeiro a distribuidora antecipou o lançamento de Um Tio Quase Perfeito 2, comédia nacional de sucesso, para movimentar as salas, e planeja mais lançamentos a partir do meio do ano, quando espera que a situação esteja mais normalizada.

“Agora é o momento de prepararmos nossos lançamentos de acordo com o crescimento, temos um line-up de oito a dez filmes prontos. Nossa ideia é ir com calma, analisando, acompanhar o mercado, vamos posicionar um filme para o meio do ano e uns três títulos para o segundo semestre. Estamos nos preparando com muita cautela, com calma, não vamos parar, vamos lançar, estamos negociando com as outras janelas de forma diferente”, ressalta Rodrigues.

Para ele, 2022 é o ano da retomada, em que os cinemas vão voltar ao que era antes da pandemia. No entanto, algumas coisas estarão diferentes, como as janelas encurtadas e o streaming com mais força.

Este novo cenário deverá pedir maior inteligência das distribuidoras para lançar os produtos, além de mais participação ativa desde o início do processo de produção. Com isso, a ideia deve servir de ponte entre produtores e exibidores para juntos trabalharem cada um dos filmes para conseguirem ter sucesso nas telonas.

“Quanto mais difícil o mercado, mais envolvimento de todas as partes precisa existir. Essa união vai inclusive gerar um movimento do distribuidor trazer o exibidor para esse processo, entender com ele que tipo de filme está dando certo, porque começa hoje e vai lançar daqui dois anos. É um projeto, quanto maior o número de informação é melhor”.

A conversa com Sandro Rodrigues faz parte de uma série especial do Portal Exibidor com as Perspectivas 2021 de renomados profissionais do mercado das áreas de exibição, distribuição e produção, como os diretores da Vitrine Filmes, Patricia Cotta, Iafa Britz e Paulo Lui.

Confira a entrevista na íntegra:

 

Quais são as expectativas para o mercado de cinema em 2021?

Na minha opinião, óbvio que nesse mundo de pandemia ainda existem dúvidas sobre o que vai ser, mas estou com muita esperança na vacina.  Com esse passo, o mundo começa a voltar um pouquinho ao normal, acho que existe a pandemia, mas um medo muito grande e o pavor faz com que as pessoas não consigam ter tanta razão. Digo razão porque o cinema obedece a tudo, até hoje não foi evidenciado nenhuma superlotação, todo mundo respeitando, diferente dos bares e restaurantes. Seguindo rigorosamente o protocolo você está seguro, mas o medo faz com que as pessoas não vão, o que gera um resultado baixo. 2021 vai ser difícil na minha opinião, não vai ser um ano fácil, vai ser aos poucos, gradual, assim como a vacinação, que está sendo gradual. Acho que o cinema vai acompanhar esse processo. É um ano duro, difícil, mas é um ano que tem que ser trabalhado, o mercado precisa de produtos para fortalecer e trazer um público. Um ano que todo mundo tem que ter precaução e deixar passar.

Na minha opinião a retomada é 2022. Tomara que acelere o processo, mas estamos falando mais com mais expectativa sobre o segundo semestre deste ano, depois da vacinação o pessoal vai estar mais confiante. Acho que começa a crescer a partir de julho, segundo semestre vai ser melhor e 2022 vai ser mais normal, como os números que vimos antes. Acho que as pessoas vão querer voltar com tudo, quando passar o medo, quando retomar, todo mundo vai querer ir no cinema, porque é um programa.

2020 foi um ano que pegou todo o mercado de surpresa, como vocês se prepararam e estão se preparando para este ano?

2020 foi o pior ano da história da indústria, ninguém nunca sonhava que ia viver algo parecido, todo mundo teve que administrar um turbilhão, foi um momento atípico. A gente antes da pandemia estava com dois filmes, com tudo na rua, que era o De Perto Ela Não é Normal e Não Vamos Pagar Nada. Tivemos que fazer diferentes caminhos para fazer esses produtos sobreviverem, com lançamento pequeno e direto para o streaming. Agora no começo do ano decidimos lançar Um Tio Quase Perfeito 2, era a chance de lançar e fazer a máquina girar.

Agora é o momento de prepararmos nossos lançamentos de acordo com o crescimento, temos um line-up de oito a dez filmes prontos. Nossa ideia é ir com calma, analisando, acompanhar o mercado, vamos posicionar um filme para o meio do ano e uns três títulos para o segundo semestre. Estamos nos preparando com muita cautela, com calma, não vamos parar, vamos lançar, estamos negociando com as outras janelas de forma diferente. O ano de 2020 foi um ano de desespero, gestão de crise, de apagar incêndio, criamos um formato de gestão de crise, uma loucura, parece coisa de terceira guerra mundial. Agora é um ano de cautela, para voltar com calma.

Os três filmes ainda não fechamos com os produtores, ainda não conseguimos passar. A gente vai lançar um filme no Dia dos Namorados, Um Cúpido Muito Estúpido, que pega os jovens, tem essa abordagem romântica, de comédia romântica. E vamos posicionar os outros filmes em datar que façam sentido.

Quais mudanças vocês enxergam no mercado a partir deste momento crucial?

Acho que a grande mudança é que a gente vai ter que ter um trabalho grande na área de cinema, analisando cada produto, já que o produto é o grande chamariz frente aos exibidores. É um trabalho em conjunto, diferenciado, de fidelizar, se preocupar com esse público do cinema e dar uma importância ainda maior a ele. Está acontecendo uma mudança muito grande no mercado de conteúdo no que se refere às outras janelas, com negociações diferentes. Isso fortalece os filmes para irem mais forte para o cinema, as outras telas não impedem e não concorrem com o cinema. Pelo contrário, fortalece o filme que vai ter um lançamento mais tranquilo. Isso estimula o resultado de todas as outras janelas. Na minha opinião essas são as grandes mudanças, trabalho grande em cima do público, as distribuidoras vão ter que falar mais com ele, junto ao exibidor, para fidelizar cada vez mais. Além das mudanças nas negociações com as outras janelas, não vai ser mais como era antes.

Quais são seus palpites sobre como será o futuro do cinema e do mercado com relação ao streaming e à janela de exibição entre o cinema e o digital?

A janela do cinema será mantida, não acho que vai ter mudança, talvez entre um conteúdo ou outro. O mercado de cinema voltando ao normal, não vejo nenhuma ameaça contra a janela de cinema, acho que ela é e continuará sendo muito importante para qualquer conteúdo. Conteúdos menores vão buscar outros formatos. O mercado vai ter que abrir essa análise sobre esses conteúdos. As telonas continuam intactas e importantes, contribuindo muito para o fortalecimento nas outras janelas. Vão ter filmes que devem diminuir a janela, principalmente para o VOD, mas mantendo a janela de cinema.

E quais são seus palpites sobre como será o futuro do mercado de distribuição?

O mercado de distribuição vai ser um mercado mais competitivo, as distribuidoras participam cada vez mais na concepção do conteúdo, mais na inteligência antes de colocar em produção qualquer material, já pensando na hora de lançar o filme. Principalmente as distribuidoras brasileiras vão estar mais preocupadas com os conteúdos, não adianta fazer isso com o produto já pronto. Elas devem entrar mais forte na produção com parceria muito ativa com as produtoras, na inteligência dos conteúdos para ter potência de lançamento. Vai ser um mercado duro, competitivo, com filmes muito grandes. Para um filme conseguir um espaço, tem que ser um projeto e não só um filme, isso foi algo que se transformou dentro da distribuidora, isso começa antes do roteiro, elenco. O distribuidor vai ser um parceiro muito ativo na produção, já tinha um pouco isso antes, mas vai ser vital. Quanto mais difícil o mercado, mais envolvimento de todas as partes precisa existir. Essa união vai inclusive gerar um movimento do distribuidor trazer o exibidor para esse processo, entender com ele que tipo de filme está dando certo, porque começa hoje e vai lançar daqui dois anos. É um projeto, quanto maior o número de informação é melhor. Nosso mercado é muito carente de pesquisas. Acho que isso deveria ser disponibilizado juntos, para todos entendermos a mudança no nosso público, depois para entender como estará o nosso público. Não existe essa pesquisa grande e pesada, a gente fica muito no escuro, a união dá essa precaução. Vai ser esse o trabalho, a ideia é unificar.  

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