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13 Maio 2025 | Redação

Destaque para o Brasil, tarifas de Trump, e "Brasil feminino": 78º Festival de Cannes começa cercado de expectativa

Brasil se consolida cada vez mais como um dos polos do cinema mundial e domina mais variadas atividades em Cannes

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(Foto: Divulgação)

A 78ª edição do Festival de Cannes, um dos mais importantes eventos do cinema mundial, começou hoje (13) cercada de expectativas. Entre um destaque jamais visto para o cinema brasileiro, grandes nomes, e incertezas acerca da intenção do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, taxar em 100% filmes feitos fora dos EUA, foi dada a largada ao evento em que diversos filmes passam pelo crivo de profissionais do mundo inteiro e assim ganham a chance de ser distribuídos para diversos países, não apenas àqueles de suas origens. As informações são dos portais Indie Wire, The Hollywood Reporter, Deadline, Folha de S. Paulo, e Tela Viva.

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O evento vai até o dia 24 de maio e, pela segunda vez consecutiva, o Brasil irá disputar a Palma de Ouro. No último ano, o diretor cearense Karim Aïnouz levou Motel Destino (Pandora Filmes), seu oitavo longa de ficção, para a competição. Neste ano, Kleber Mendonça retorna ao festival com O Agente Secreto (Vitrine Filmes), um thriller de suspense ambientado entre o Recife e São Paulo dos anos 1970. O filme também marca o retorno de Wagner Moura a filmagens no Brasil depois de 10 anos, desta vez interpretando Marcelo, um especialista em tecnologia que chega no Recife em 1977 à procura de um pouco de paz, mas logo se torna um agente do caos na cidade.

A disputa, entretanto, não será fácil, uma vez que a produção brasileira terá concorrentes de peso na competição como Wes Anderson que participa com O Esquema Fenício (Universal); Richard Linklater, com Nouvelle Vague; Jochim Trier, com Sentimental Value; e Julia Ducournau, com Alpha.

Mas, apesar de todo o protagonismo brasileiro no festival, o assunto que está tomando conta de Cannes, e da indústria do cinema em todo o mundo, é a possível taxação de 100% dos Estados Unidos para obras filmadas fora do país. Durante a coletiva de imprensa realizada ontem (12), Thierry Frémaux, chefe do Festival de Cannes, foi questionado várias vezes sobre a taxação e seu potencial impacto não apenas nas sessões de Cannes, mas em seu Marchè Du Film, área de negócios que banca boa parte do evento.

"Nações se fortalecem por meio de sua cultura, da convicção de seu povo. Deixar que filmes estrangeiros entrem num território como os Estados Unidos é uma forma de nutrir o imaginário dos artistas, de inspirar a cultura que se faz ali. Mas nós sabemos que ele [Donald Trump] diz uma coisa, depois se contradiz, volta atrás, muda o discurso. Então não sei bem o que dizer sobre esse assunto no momento, apenas que o cinema sempre acha uma maneira de existir, de se reinventar. Mas não tenho conhecimento econômico suficiente para avaliar essa proposta", disse Thierry Frémaux.

As perguntas sobre o assunto do momento para a indústria também foram feitas insistentemente para membros do júri e Juliette Binoche, presidente do júri de Cannes, adotou um tom mais político ao dizer que Trump está tentando salvar a América.

"Para nós, temos uma forte comunidade cinematográfica no nosso continente, na Europa. Não sei o que dizer — consigo ver que ele está lutando para salvar a América e para salvar a própria pele", disse a atriz francesa.

Outro assunto abordado por Frémaux durante a coletiva, assim como aconteceu no ano passado, foi o atual momento do cinema argentino. Em meio aos cortes de verba feitos pelo presidente argentino, Javier Milei, o país está novamente fora do festival. Em 2024 o chefe de Cannes havia criticado Milei e destacado que o Brasil ia na direção contrária, e neste ano, apesar de alfinetar o presidente, disse que Milei foi eleito democraticamente e, portanto, não cabe a ele contestar sua agenda política. "É um presidente ultraliberal e ultranacionalista, mas ser nacionalista deveria significar, também, ver no cinema uma forma de valorizar a história e a força de um país", se limitou a dizer.

Mas, apesar das polêmicas que permearam a coletiva de imprensa, vale destacar essa edição de Cannes estará entre as mais estreladas dos últimos anos com nomes como Tom Cruise, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Joaquim Phoenix, Emma Stone, Pedro Pascal, Paul Mescal, entre outros.

Ao fim do evento, conheceremos os filmes do festival que receberão prêmios individuais e os 22 filmes que estão concorrendo à Palma de Ouro, maior honraria entre as mostras competitivas são: O Esquema Fenício (Wes Anderson); Eddington (Ari Aster); Young Mother (Jena-Pierre Dardenne e Luc Dardenne); Alpha (Julia Ducournau); Renoir (Hayakawa Chie); The History of Sound (Oliver Hermanus); La Petite Dernière (Hafsia Herzi); Sirat (Oliver Laxe); New Wave (Richard Linklater); Two Prosecutors (Sergei Loznitsa); Fuori (Mario Martone); O Agente Secreto (Kleber Mendonça Filho); Dossier 137 (Dominik Moll); It Was Just an Accident (Jafar Panahi); The Mastermind (Kelly Reichardt); Aigles of the Republic (Tarik Saleh); Sound of Falling (Mascha Schilinkski); Romería (Carla Simón); e Sentimental Value (Joachim Trier).

Você pode conferir a seleção completa de filmes e o cronograma no site oficial do Festival Cannes.

Brasil em Cannes

Como destacado anteriormente pelo Portal Exibidor, o Brasil é um dos principais destaques da 78ª edição do Festival de Cannes como país de honra no Marché Du Film, além de estar representado em premiações paralelas do festival, como Olho de Ouro, Semana Crítica, e Un Certain Regard, e a importante homenagem a diretora Marianna Brennand no Women In Motion Emerging Talent Award 2025. As novidades, entretanto, não param por aí e o Brasil segue como um dos principais focos de atenção.

O HBF+ Brasil, por exemplo, é uma iniciativa conjunta de apoio ao desenvolvimento, voltado ao desenvolvimento de longas-metragens de quatro cineastas de São Paulo, quatro do Rio de Janeiro e um de outro estado, que será lançado durante o Marché Du Film pelo Hubert Bals Fund (ligado ao Festival de Roterdã), a Spcine, a RioFilme e o Projeto Paradiso. O acordo será assinado durante o Marché du Film, onde o Brasil será o país homenageado, no dia 15 de maio, às 16h. A ideia é apoiar até nove projetos nesta edição piloto, com aportes de 10 mil euros cada. As inscrições abrem no segundo semestre de 2025, no site do Festival de Roterdã (IFFR.com).

A Spcine, aliás, também marcará presença lançando um edital inédito de coprodução internacional com a África do Sul, em parceria com a National Film and Video Foundation (NFVF), no dia 19 de maio. A iniciativa visa apoiar projetos em fase de desenvolvimento que fortaleçam narrativas da diáspora e promovam conexões entre países do Sul Global e, antes do lançamento, será realizado um bate-papo sobre a colaboração entre Brasil e África do Sul no cinema documental, com um estudo de caso apresentado por Juliana Vicente, da Preta Portê Filmes, e Neil Brandt, produtor sul-africano.

Além disso, a Spcine, que apoia a participação de 10 empresas do setor audiovisual da cidade de São Paulo no Marché Du Film, também irá marcar presença em painéis e conferências durante o festival. As atividades começam amanhã (14) com a mesa “Brazilian Cinema into the World: Internationalization Strategies”, que contará com a presença de Ary Scapin, diretor de Desenvolvimento Econômico e Parcerias Estratégicas da Spcine, ao lado de representantes do Cinema do Brasil, APEX, Ancine e da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

Na quinta-feira (15), Lyara Oliveira, presidente da Spcine, participa da conferência “O Ecossistema Audiovisual Brasileiro e suas Instituições”, promovida pelo Ministério da Cultura, no palco principal do evento. Ela estará ao lado de Margareth Menezes (ministra da Cultura), Ricardo Neiva Tavares (embaixador do Brasil na França), Joelma Gonzaga (secretária do Audiovisual), José Luis Gordon (diretor do BNDES), Daniel Tonacci (ANCINE), Luisa Cela (secretária de Cultura do Ceará), Eliane Parreiras (secretária de Cultura de Belo Horizonte) e Leonardo Edde (presidente da RioFilme).

Lyara ainda irá participar do do painel “O ecossistema imersivo na América do Sul (LATAM): um potencial inesperado”, que ocorre no dia 19 de maio, promovido pelo Immersive Cannes e tendo a Spcine como a única participação brasileira no evento. 

A ministra Margareth Menezes, aliás, terá um encontro com a delegação brasileira composta por 65 agentes do setor audiovisual apoiados pelo MinC, como cineastas, produtores e talentos da indústria brasileira, que estarão em vários dos principais programas do Marché du Film também na quinta-feira.

O protagonismo feminino também será um dos destaques do Brasil em Cannes, muitos graças a atuação da Barry Company. Juliana Funaro, sócia e diretora executiva do departamento de entretenimento da Barry, que também atua como diretora internacional do Instituto +Mulheres do Audiovisual Brasileiro, comandará e medirá o painel “Brésil et France Les femmes aux postes de direction”, promovido pelo Institut Français e o Ministério da Cultura do Brasil, reunindo lideranças brasileiras e francesas em um debate sobre igualdade de gênero na indústria audiovisual, e também participará de um workshop sobre políticas de combate ao assédio no set, organizado pelo CNC francês em conjunto com o coletivo +Mulheres, com foco em boas práticas e formação de profissionais do setor.

Além disso, a Barry Company também leva ao mercado dois projetos do seu portfólio que integram o catálogo oficial do Cinema do Brasil: Capão Pecado, dirigido por René Sampaio e baseado no livro de Ferréz, e Oração do Pecador, longa de drama e suspense com direção de Homero Olivetto. Ambos serão apresentados em reuniões com potenciais coprodutores internacionais. 

Entre os destaques da Barry em Cannes, está ainda o thriller Minha Sombra Usa Maquiagem, dirigido por Fernanda Nizzato e escrito por Luiza Fazio. A obra acompanha uma modelo em seu último desfile, confrontando os fantasmas do passado e o peso da vaidade. Produzido pela Barry e dirigido e escrito por mulheres, o projeto se conecta diretamente aos temas discutidos nas mesas do +Mulheres, reforçando o compromisso da produtora com vozes femininas e com a equidade no audiovisual. 

Quem também irá representar o Brasil em Cannes é a produtora Casa de Criação Cinema, voltada para narrativas negras e autorais. A diretora, roteirista e produtora Luiza Botelho participará de um os mercados da indústria cinematográfica global, realizado paralelamente ao Festival de Cannes, e foi selecionada para a Producer's Network após receber o prêmio Producer Network Award no Cinélatino – Rencontres de Toulouse, na França. Botelho irá apresentar o longa Saudade, uma coprodução Brasil–Estados Unidos, buscando parceiros europeus.

A Casa de Criação Cinema levará ao Marché Du Film três projetos em busca de coprodução e distribuição internacional, todos centrados em experiências negras, com identidade autoral e estética. Além de Saudade, também estarão em Cannes o longa de ficção científica AI: Ancestral intelligence, ambientado na comunidade fictícia de Kaluanã, onde moradores planejam apagar sua cidade do mapa para impedir que empreiteiras destruam suas terras e expulsem comunidades indígenas e quilombolas, e Em Busca do Cinema Africano, novo documentário de Joel Zito Araújo que fala sobre encontros, afetos e reflexões do cineasta em mais de duas décadas de viagens pelo continente africano.

Buscando internacionalizar cada vez mais o audiovisual carioca, a Riofilme estará em Cannes representada por seu diretor-presidente, Leonardo Edde, e o coordenador da Rio Film Commission, Daniel Celli, com o objetivo de realizar encontros, reuniões, trocas e networking entre produtores cariocas e players internacionais.

Dentre as ações da RioFilme, está prevista a assinatura de um acordo de cooperação entre a Rio Film Commission e a Location Managers Guild (LMGI), associação que representa produtores internacionais de locação, e a divulgação do Cash Rebate oferecido pelo município, que permite que produtoras estrangeiras tenham um retorno de até 35% do valor investido nas filmagens na cidade. Também estão confirmadas reuniões da RioFilme com Film Commissions internacionais, como a British Film Commission e a Film London para troca de experiências e aproximação para realização de iniciativas conjuntas.

Outro ponto alto da participação brasileira nos próximos dias em Cannes será o lançamento da VDF Connection, uma nova consultoria brasileira que tem como missão o fortalecimento global do cinema independente, de gênero, de arte e documentário.

Fundada por Mónica Trigo e Javier Fernandez, a VDF Connection surge com a missão de impulsionar a presença de cineastas latino-americanos nos mercados, apoiando talentos por meio de oportunidades de financiamento, coprodução e distribuição. O objetivo é ampliar o alcance internacional de filmes independentes, oferecendo caminhos e consultoria para participação em festivais e eventos como Cannes, na França, Berlinale, na Alemanha, TIFF, no Canadá, Annecy, na França, Sitges, na Espanha, Ventana Sur, na Argentina e no Uruguai, Rio2C, no Brasil, BIFFF, na Bélgica, e Guadalajara, no México, entre outros.

Por fim, reforçando o protagonismo feminino da delegação brasileira em Cannes, o longa-metragem Love Kills, dirigido por Luiza Shelling Tubaldini, estará no line-up do Fantastic Pavilion/Blood Window. O programa, voltado ao cinema de horror, suspense e fantasia da América Latina e Espanha, em 2025, incluiu sete obras de novos e promissores talentos contemporâneos do gênero fantástico. Junto com o Brasil, há produções da Argentina, Colômbia, Equador, Espanha, Paraguai e Peru.

O filme é ambientado no centro de São Paulo, na cracolândia, e Tubaldini, que assina a direção e o roteiro, articula questões sociais com um estilo visual sensorial, atenta a novas linguagens trabalhadas em filmes desse universo fantástico.

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