23 Outubro 2025 | Redação
Exibidores se posicionam sobre os Parâmetros da Cota de Tela para 2026
Documento propõe ajustes na regulamentação e reforça que o foco é ampliar a audiência do cinema brasileiro.
Compartilhe:
As principais entidades do setor de exibição cinematográfica - ABRAPLEX (Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex), ABRACINE (Associação Brasileira de Cinemas), FENEEC (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas) e sindicatos que representam a maioria das empresas do setor - divulgaram um posicionamento conjunto sobre os Parâmetros da Cota de Tela para 2026. O documento reconhece a importância de políticas públicas para o fortalecimento do audiovisual nacional, mas defende ajustes que assegurem equilíbrio entre o incentivo ao audiovisual e a sustentabilidade econômica das salas. O propósito, afirmam, não é reduzir o espaço das obras, mas encontrar caminhos que ampliem a audiência e fortaleçam toda a cadeia cinematográfica.
“Nosso objetivo é contribuir para a formulação de um decreto para 2026 que seja equilibrado, moderno e que promova a produção brasileira sem colocar em risco a viabilidade da atividade de exibição”, destaca o documento. O texto também reforça a importância de ampliar os investimentos em distribuição e promoção, aprimorar os instrumentos de fomento para priorizar títulos com maior potencial de público e implementar ações contínuas de formação de audiência, capazes de estreitar o vínculo do espectador com as produções locais.
De acordo com dados da Ancine, o Brasil encerrou agosto de 2025 com 3.534 salas em operação, número recorde e superior ao patamar de 2019. No entanto, a venda de ingressos (81,9 milhões) permanece 36,6% abaixo do período pré-pandemia, o que pressiona economicamente o parque exibidor. A discrepância entre o crescimento da estrutura e a retração do público reforça a necessidade de uma regulação mais aderente à realidade atual.
Em relação às produções, o posicionamento aponta que, embora o número de sessões tenha aumentado, a taxa média de ocupação segue inferior à dos títulos estrangeiros. Em 2025, o market share de público (11,2%) dos filmes brasileiros ficou abaixo do share de exibições (14,1%), indicando que a Cota de Tela tem garantido presença, mas não alcançado o objetivo de ampliar a audiência. Segundo as entidades, é preciso evoluir para uma política “mais realista e flexível”, baseada em dados, incentivos e estímulos de mercado.
Os exibidores ressaltam que, quando há títulos que despertam o interesse do público, o próprio circuito amplia espontaneamente a programação. No primeiro trimestre de 2025, as produções feitas no país ocuparam 27% das sessões, o dobro da média histórica, refletindo um share de público de 28%. “A questão central não é a cota, mas a ausência de políticas integradas para todos os elos da cadeia produtiva. Em 2025, foram lançados 132 títulos brasileiros, mas apenas cinco filmes concentraram 94% de toda a audiência do cinema nacional no ano. Isso mostra que precisamos de investimentos estratégicos em obras que mobilizem espectadores. A mera obrigatoriedade de sessões não promove formação de plateia, apenas transfere riscos e custos adicionais ao exibidor", afirma Marcos Barros, presidente da ABRAPLEX.
Entre as principais propostas estão:
- - A redução da cota-base em alinhamento com o cenário de recuperação do mercado;
- - A revisão da cota suplementar para permitir maior flexibilidade nas semanas iniciais dos lançamentos;
- - A rejeição à regra da dobra;
- - E a ampliação das bonificações para sessões em horário nobre.
As entidades também defendem que obras produzidas por iniciativa de produtoras brasileiras independentes para plataformas de streaming sejam reconhecidas para efeito de cumprimento da Cota.
O documento propõe, ainda, a retomada de políticas essenciais para a sustentabilidade do parque exibidor, passando pela ampliação e aperfeiçoamento do Regime Especial de Tributação para Desenvolvimento da Atividade de Exibição Cinematográfica (Recine), pela revisão regulatória dos FUNCINES, buscando ampliar a atratividade dos fundos e destravar capital privado de longo prazo para projetos de exibição, preservação e difusão e pela viabilização da utilização do financiamento de iniciativas de difusão, preservação, exibição e infraestrutura técnica estabelecidos no Art. 1º-A, §4º, da Lei 8.685/1993 (Lei do Audiovisual).
"A eficácia da Cota de Tela depende de um parque exibidor forte e modernizado. Sem instrumentos de fomento adequados, corremos o risco de ter uma política de obrigações sem as condições estruturais necessárias para sua execução", complementa Lúcio Otoni, presidente da FEENEC.
Outro ponto crítico é a falta de uma janela mínima entre a estreia nos cinemas e a disponibilização dos filmes nas plataformas de streaming, um dos fatores que mais contribuem para a queda de público nas salas. "Sem uma articulação real entre produção, distribuição e exibição, e sem políticas que equilibrem os interesses de todos os segmentos, dificilmente conseguiremos reverter o cenário atual", conclui Marcos Barros.
Assinam o documento: ABRAPLEX, Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex; ABRACINE, Associação Brasileira de Cinemas; FENEEC, Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas; SEECESP, Sindicato das Empresas Exibidoras do Estado de São Paulo; SEECERJ, Sindicato das Empresas Exibidoras do Estado do Rio de Janeiro; SEECINEMG, Sindicato das Empresas Exibidoras Cinematográficas de Minas Gerais; SEECERS, Sindicato das Empresas Exibidoras do Estado do Rio Grande do Sul; SEEMRJ, Sindicato das Empresas Exibidoras do Município do Rio de Janeiro.
Para conferir o manifesto na íntegra, acesse: Manifestação Conjunta das Entidades Representativas do Setor Exibidor.
Compartilhe:
- 0 medalha