Iafa Britz, da Migdal Filmes, fala sobre momento da produtora e do cinema nacional: "Temos que aproveitar e dar continuidade"
Sócia fundadora da produtora concedeu entrevista exclusiva ao Portal Exibidor
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(Foto: Mauro Curupira)
Falar que o cinema brasileiro vive um dos melhores momentos de sua história, com reconhecimento internacional, é chover no molhado. Mas, apesar das muitas premiações em festivais internacionais, há uma falta de espaço para a distribuição de outras centenas de filmes nacionais. Em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor, Iafa Britz, sócia fundadora da Migdal Filmes, destacou a importância de dar continuidade ao bom momento, além de preencher algumas lacunas, e também falou sobre a situação atual de sua produtora e alguns dos próximos projetos que chegam às telonas.
As recentes premiações de Ainda Estou Aqui (Sony) no Oscar, O Último Azul (Vitrine Filmes) em Berlim, e O Agente Secreto (Vitrine Filmes) em Cannes, colocaram o Brasil nos holofotes do audiovisual. Britz, inclusive, destacou que o Brasil finalmente conquistou um lugar de reconhecimento internacional que vem sendo buscado há anos e que "o momento é muito importante para aproveitarmos e darmos continuidade". Entretanto, ponderou que ao mesmo tempo também é um momento crítico para o cinema brasileiro.
"Temos 'O Auto da Compadecida 2' e 'Homem Com H', por exemplo, junto com outros títulos que se sobressaíram, mas também temos uma quantidade de filmes muito grande sem espaço para distribuição, e temos a questão espasmódica, que é justamente o que não gostaríamos mais de viver esses espasmos, que filmes de mercado fossem trabalhados com uma certa constância. Espaço para quantidade de filmes realmente sem espaço para exibição é uma questão muito importante e grave que vai ter que ser resolvida pelo próprio mercado e pelo governo. Vivemos uma situação dúbia de autoestima, oportunidade e reconhecimento de qualidade, com ocupação de mercado fora do Brasil, mas com desafios enormes que não são de agora e vem em uma crescente há alguns anos", disse.
Mas, apesar disso, a produtora também se mostra otimista em relação ao futuro e vê com bons olhos o curto prazo do cinema nacional: "Vejo que agora temos uma série de filmes com boas oportunidades a partir do final do ano, indo para o ano que vem. Estamos vendo vários títulos de lugares diferentes, alguns mais populares e outros mais provocativos, mas que tem boas chances de encontrar seu público. Vejo uma oportunidade de encontro desse sentimento otimista para fora, com uma realidade melhor para dentro à partir do fim do ano e início de 2026. Temos que potencializar o bom momento e continuar tendo filmes", completou.
Esse bom momento que coloca o Brasil na "moda" do audiovisual, inclusive, abre as portas para que sejam realizadas coproduções internacionais. Assim, Britz afirma que essa possibilidade é fundamental para que o Brasil atravesse ainda mais fronteiras e conquiste novos mercados.
"Inegavelmente o momento é único. Isso abre portas para muitos produtores e realizadores e facilita o interesse em coproduções. Temos uma história de coproduções super interessante e temos produtores fazendo coproduções há anos e que passaram por momentos muito difíceis nos últimos anos, onde tivemos uma interrupção de linhas de financiamento para coproduções, desde a pandemia até políticas públicas. Agora vemos novamente com otimismo um lugar que terá espaço para essas coproduções que são fundamentais para colocarmos um pedaço do Brasil para fora, seja o Brasil majoritário ou minoritário. O fato de estarmos circulando no mundo e criando conteúdos diferentes, mas com um pedaço do nosso DNA, é fundamental", destacou.
Entrando um pouco mais na questão do equilíbrio entre filmes mais populares ou mais provocativos, citados por Britz no início da entrevista, vale destacar o trabalho da Migdal Filmes no documentário Nação Ubuntu, que finalizou as filmagens no início do ano e está em fase de pós-produção.
O filme, que teve um primeiro momento de filmagens pouco antes da pandemia de Covid-19 no Malawi, na África, mostra a vida de quatro protagonistas de uma iniciativa humanitária no campo dos refugiados Dzaleka. A produtora, inclusive, fez questão de ressaltar a importância do chamado "entretenimento com impacto social".
"É um documentário que vem de uma necessidade bem pessoal, mas também coletiva de olhar para lugares onde ninguém olha e as pessoas têm pouco interesse em falar sobre esses lugares. É um projeto que dá uma sensação de equilíbrio, um equilíbrio de mercado com alguns projetos que tem que ser feito independente de resultados, e acredito muito nesse equilíbrio. Toda vez que conseguimos juntar as duas coisas é um sonho. É um propósito e dá uma sensação de realização plena. Temos um cruzamento de planos, onde um plano é o comercial, porque queremos fazer filmes para o público ver, e um plano mais existencial de reflexão e identificação", explicou.
Indo além, Britz também falou de alguns dos próximos projetos da Migdal Filmes, que completou 15 anos de existência em 2024 e já levou mais de 30 milhões de pessoas aos cinemas com suas produções. Na última edição do Show de Inverno, no mês de junho, a produtora apresentou quatro novos projetos que começam a chegar aos cinemas nos próximos meses. Britz revelou que um longa de ficção sobre Cássia Eller, realizado em coprodução com a Diadorim Ideias e H2O Produções, deve estrear em 2027, mas também destacou algumas produções que chegarão antes às telonas.
Agentes Muito Especiais (Downtown Filmes) chega aos cinemas em 8 de janeiro e é uma comédia de ação baseada na ideia original de Paulo Gustavo e Marcus Majella, e uma das grandes apostas da produtora para ser sucesso de público no cinema brasileiro. O longa traz Marcus Majella, Pedroca Monteiro, Dira Paes, Chico Diaz, Dudu Azevedo, Bárbara Reis, Demétrio Nascimento e Malu Valle no elenco.
"'Agentes Muito Especiais' é uma comédia muito popular. É uma história que foi pensada por Paulo Gustavo e pelo Majella, e de repente tem a Migdal e A Fábrica que são as produtoras que trabalhavam com o Paulo, então é um projeto que sabemos o quanto ele queria fazer e acreditava. É uma certa reverência a ele e, ao mesmo tempo, uma continuidade das coisas com um jeito de fazer que quebra estereótipos e traz propostas muito originais. 'Agentes Muito Especiais' é um filme que acredito muito e vamos lançar em janeiro", disse.
Outra grande aposta é (Des)controle (Sony e Elo Studios), que chega aos cinemas no dia 5 de fevereiro. A produtora destacou que o longa traz a atriz Carolina Dieckmann em um de seus melhores momentos, e que tem enorme potencial de gerar identificação com o público.
"É um filme que vai gerar muita identificação, com a Carolina Dieckmann em um momento esplendoroso enquanto atriz, e trazendo muitas camadas em projetos diferenciados. '(Des)controle' é uma grande aposta nesse lugar de comunicação com o público, falando de pessoas e coisas que estão acontecendo, e ao mesmo tempo rindo de tudo isso. Podemos não nos levar tão a sério e dar nossas gargalhadas, mas falando de um assunto importante que está tocando muitas pessoas e muitas gerações. É uma aposta de encontro do público com uma vivência coletiva de pressão e asfixiamento, mas ao mesmo tempo de afetos e trocas", explicou.
Por fim, Britz também destacou que Geni e o Zepelim (Paris Filmes), dirigido por Anna Muylaert, tem potencial para revelar "a nova Sônia Braga" ao público.
"’Geni’ ainda estamos no processo e é um filme com potencial internacional bastante grande. Temos Anna Muylaert, Chico Buarque, Seu Jorge, Gero Camilo e um elenco extraordinário, além da Ayla Gabriela, que é uma espécie de Sônia Braga de 2026 e ela vai ser um evento", finalizou.