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03 Dezembro 2025 | Yuri Cavichioli

Levantamento da Ancine aponta expansão do VoD no Brasil em 2025, mas reforça desafios para obras nacionais

Relatório mapeia 106 serviços e reforça baixa circulação de obras brasileiras, sobretudo independentes

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(Foto: Divulgação)

A ANCINE divulgou, através do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA), o Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil 2025. O estudo aprofundou o monitoramento do segmento ao avaliar 106 plataformas que operam no país, um aumento significativo em relação às 60 mapeadas em 2024, registrando um crescimento de pouco mais de 76%.

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Produzido pela Secretaria de Regulação, o levantamento reúne dados coletados em agosto de 2025 e aprofunda o monitoramento iniciado em 2022. A edição atual permite comparar a evolução da oferta e da presença de obras brasileiras nas plataformas ao longo desse período.

Os dados revelam dois cenários opostos que coexistem no mercado. De um lado, o consumo digital segue em crescimento e consolida o VoD como principal porta de acesso a filmes e séries no país; de outro, a presença de obras brasileiras nos catálogos continua limitada.

O mercado de VoD manteve sua trajetória de crescimento em 2025, com mais de 138 mil títulos disponíveis no Brasil. Apesar disso, o conteúdo nacional continua com participação restrita.

As cinco plataformas de maior audiência (Netflix, Prime Video, Disney+, HBO Max e Globoplay) oferecem, juntas, apenas 6,3% de obras brasileiras, sendo 3,4% independentes. Quando a plataforma brasileira é excluída, o índice cai para 2,7%, com apenas 2,2% de títulos independentes entre as quatro maiores estrangeiras.

A baixa participação das obras brasileiras nas cinco maiores plataformas fica mais evidente quando observamos os números isolados de cada uma: Netflix (2,8%), Prime Video (3,1%), Disney+ (1,3%) e HBO Max (3%). A Globoplay, por sua vez, possui 33,9% do catálogo voltado para o audiovisual brasileiro, ajudando a elevar a média das cindo maiores.

Considerando todas as plataformas de streaming do mercado, a que possui a melhor média é a Brasiliana TV (80%), seguida por Embaúba Play (53%), Curta!On e Tamanduá TV (46% cada), AmazôniaFLIX (44%) e Spcine Play (43%). Claramente, por serem empresas nacionais, a média é bastante elevada - apesar de apenas duas estar acima de 50%.

A circulação também é limitada. Das aproximadamente 5,5 mil obras brasileiras identificadas, mais de 3.700 obras brasileiras estão presentes em apenas uma ou duas plataformas. Segundo o estudo, só 52,3% dos filmes nacionais lançados nos cinemas entre 1995 e 2024 aparecem nos catálogos avaliados. Entre as 12.660 obras nacionais exibidas na TV por assinatura entre 2015 e 2024, somente 27,5% migraram para o ambiente de VoD.

O levantamento também aponta para a relação entre os tipos de produções disponíveis nos streamings e que estão registrados na Ancine. O maior destaque está nos documentários, que representam 37,7% das obras registradas na agência, e 32,5% das obras nacionais disponíveis nos streamings. Os outros gêneros citados são: ficção (30,6% e 49,1%); videomusical (21% e 2,4%); animação (7,7% e 5,3%); variedade (7,1% e 4,1%); e reality show (1,2% e 1,4%).

Observa-se também que, a partir dos dados apresentados no Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil 2025, a produção nacional enfrenta um gargalo significativo: mais de 15 mil obras não chegam a passar por cinema, TV paga ou VoD. Apenas uma parte reduzida circula entre essas janelas, e a migração para o streaming permanece limitada.

Em 2024, por exemplo, dos 197 longas que estrearam nas salas de cinema, apenas pouco mais da metade está disponível no ambiente digital, o que já indica uma diferença relevante entre produção e circulação.

Esse padrão se repete ao longo da série histórica. Em alguns anos, a distância entre o total lançado nos cinemas e o volume disponível no VoD chega a mais que triplicar, como ocorre em 2006 (71 lançados vs. 22 disponíveis), 2009 (83 lançados vs. 27 disponíveis) e 2023 (161 lançados vs. 53 disponíveis).

Na prática, muitos títulos continuam com circulação limitada após a janela de cinema, o que reduz seu alcance e suas oportunidades de receita.

O relatório mostra ainda que as plataformas brasileiras disponibilizam mais obras nacionais (3.906) que as estrangeiras (3.641), mesmo com catálogos menores. Esse volume equivale a 38% do total de títulos disponíveis nos serviços internacionais, destacando o papel das iniciativas locais na preservação e circulação do conteúdo brasileiro.

Metodologia e recorte do panorama

A publicação detalha que o mercado de VoD ainda não é obrigado a fornecer dados primários à ANCINE, o que faz com que o estudo utilize informações coletadas automaticamente pela empresa de data science BB Media/Fabric, responsável por monitorar catálogos acessíveis a partir de IP brasileiro. A amostra considera apenas plataformas com pelo menos 100 títulos e desconsidera serviços de nicho, como aqueles dedicados exclusivamente a esportes, música, jornalismo ou conteúdos teatrais.

A identificação de obras brasileiras é feita por meio do cruzamento dos catálogos com o Certificado de Produto Brasileiro (CPB), critério que pode deixar de fora produções realizadas no país, mas sem registro formal.

Ganha destaque a necessidade de políticas de incentivo e regulação capazes de ampliar a presença das obras brasileiras no ambiente digital, fortalecendo a visibilidade, alcance e retorno econômico.

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