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08 Dezembro 2025 | Redação

Em meio às reações negativas do mercado, Paramount tenta melar acordo com a Netflix e faz proposta de US$ 108 bilhões pela Warner

Paramount também alfinetou Netflix ao prometer 30 filmes nos cinemas

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(Foto: Reprodução)

Na última sexta-feira (5) o mercado cinematográfico havia entrado em ebulição com a notícia de que a Warner teria aceitado uma proposta de US$ 82,7 bilhões da Netflix por seus departamentos de cinema e streaming, mas a Paramount decidiu produzir novos capítulos para evitar o fim da novela. Nesta segunda-feira (8), em meio a diversas reações negativas do mercado em relação ao acordo, a Paramount apresentou uma nova proposta de US$ 108,4 bilhões para adquirir a totalidade das operações da Warner, incluindo  o negócio de televisão com a CNN, TBS, TNT e outras emissoras. As informações são dos portais Deadline e Variety.
 
Depois de Netflix e Warner anunciarem o acordo na sexta-feira, David Ellison, CEO da Paramount, mostrou que não vai desistir da briga. A proposta da Paramount prevê a aquisição em dinheiro de todas as ações em circulação da Warner por US$ 30 por ação, equivalente a um valor de mercado de US$ 108,4 bilhões, incluindo a assunção de dívidas, ou seja, a transferência das obrigações financeiras do devedor, no caso, da Warner para a Paramount. Atualmente a dívida da Warner é de aproximadamente US$ 35 bilhões.
 
Além do valor superior, a Paramount também afirmou que sua oferta de aquisição seria concluída em 12 meses, em comparação com os 12 a 18 meses projetados pela Netflix para finalizar seu negócio. Diante da nova situação, a Warner é obrigada por lei a informar seus acionistas em até 10 dias úteis se aceitará ou não a proposta da Paramount.
 
"Nossa proposta é superior à da Netflix em todos os aspectos. A oferta estratégica e financeiramente atraente da Paramount aos acionistas da Warner oferece uma alternativa superior à transação com a Netflix, que oferece valor inferior e incerto e expõe os acionistas da Warner a um processo prolongado de aprovação regulatória em múltiplas jurisdições, com resultado incerto, além de uma combinação complexa e volátil de ações e dinheiro", disse Ellison em uma teleconferência com analistas e investidores.
 
A nova oferta que promete chacoalhar ainda mais o mercado é respaldada por um capital de US$ 40,7 bilhões provenientes do cofundador da Oracle, Larry Ellison, pai de David Ellison, e da RedBird Capital Partners, e por um financiamento dos fundos soberanos da Arábia Saudita, Catar e Abu Dhabi, bem como da Affinity Partners, a empresa de investimentos formada por Jared Kushner, genro de Donald Trump.
 
Além disso, para colocar mais pimenta em toda a história, a Paramount tocou em um ponto sensível para a Netflix em uma teleconferência realizada com a imprensa e investidores também nesta segunda-feira. Enquanto o mercado olha com apreensão a possibilidade da Netflix lançar ou não os filmes da Warner nos cinemas, a Paramount prometeu lançar mais de 30 filmes nos cinemas e afirmou que também respeitará os "períodos tradicionais de exibição", em uma clara alfinetada à Netflix.
 
"Nós amamos o cinema e a indústria do entretenimento. Acreditamos profundamente em seu futuro e queremos ajudar a preservá-lo e fortalecê-lo. Os filmes são uma das maiores exportações dos Estados Unidos. Queremos valorizar este legado, não diminuí-lo. Esta transação visa construir mais, não reduzir. Mais oportunidades para a indústria, mais opções para os consumidores, mais valor para os acionistas e mais apoio aos talentos criativos", disse David Ellison.
 
Antes de entrar nas reações negativas do mercado, que não foram poucas, também vale destacar que o presidente Donald Trump se manifestou sobre a negociação entre Warner e Netflix ao afirmar que "pode ser um problema" e que vai se envolver na decisão sobre a aprovação do negócio.
 
Durante a cerimônia do Kennedy Center Honors, uma premiação que anualmente celebra diversos artistas e aconteceu ontem (7) no Salão Oval, na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos elogiou Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, chamando-o de "fantástico", mas também observou que a fusão entre Netflix e Warner resultaria em uma fatia de mercado muito grande.
 
"Isso é algo que alguns economistas vão dizer. E eu também estarei envolvido nessa decisão. Eles (Netflix) têm uma participação de mercado muito grande, e com a Warner Bros., essa participação aumenta bastante e isso pode ser um problema", disse Trump.
 
MAIS REAÇÕES NEGATIVAS DO MERCADO
 
Na última sexta-feira, o Portal Exibidor já havia reportado reações negativas do Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos (WGA), União Internacional de Cinemas (UNIC), entre outros, sobre a possível aquisição da Warner pela Netflix, mas a lista não parou por aí.
 
Começando pelo Brasil, o diretor Kleber Mendonça Filho rebateu comentários de Ted Sarandos criticando o tempo de exclusividade das obras nas salas de cinema antes de chegarem ao streaming. O co-CEO da Netflix afirmou que considera as janelas longas e pouco benéficas ao consumidor.
 
Em resposta, Kleber Mendonça Filho afirmou no X (antigo Twitter) que continuará garantindo, por contrato, ao menos três meses de exibição exclusiva em cinemas para seus filmes, com possibilidade de ajustar esse prazo em comum acordo. O diretor ainda destacou que, caso muitas salas fechem, pretende manter seus filmes em cartaz em espaços que permaneçam ativos, priorizando cineclubes e cinemas que defendam a experiência de ir ao cinema.
 
Ainda na sexta-feira (5), a Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex) e a Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec) publicaram uma manifestação conjunta criticando a negociação entre Warner e Netflix.
 
"A possível aquisição da Warner Bros. Discovery pela Netflix é mais um passo em um processo acelerado de consolidação global que concentra poder de decisão em poucas plataformas. Quando empresas desse porte passam a controlar diferentes etapas da cadeia, elas passam também a definir sozinhas o ritmo de lançamento e a duração comercial das obras. O desafio se agrava quando lembramos que a própria Netflix já afirmou, em diversas ocasiões, que a indústria cinematográfica estaria perto do fim e que não teria compromisso em manter um fluxo contínuo de produção para as salas. Do outro lado, o setor exibidor é formado por centenas de empresas e milhares de salas que dependem exclusivamente da bilheteria. Esse descompasso estrutural cria um desequilíbrio competitivo evidente", dizia trecho da nota.
 
Fora do Brasil, uma das primeiras manifestações foi da Cinema United, que afirmou que a falta de um compromisso com a exibição de filmes no cinema prejudicará consumidores, exibidores e a indústria do entretenimento como um todo. Vale destacar que a Cinema United representa mais de 30 mil salas de cinemas nos Estados Unidos e outras 26 mil salas mundo afora.
 
"A proposta de aquisição da Warner Bros. pela Netflix representa uma ameaça sem precedentes para o mercado global de exibição cinematográfica. O impacto negativo dessa aquisição afetará cinemas desde as maiores redes até os cinemas independentes de uma única tela em pequenas cidades dos Estados Unidos e do mundo todo. A Cinema United está pronta para apoiar mudanças na indústria que levem ao aumento da produção cinematográfica e ofereçam aos consumidores mais oportunidades de desfrutar de um dia no cinema local. Mas o modelo de negócios declarado da Netflix não apoia a exibição em salas de cinema. Na verdade, é o oposto. Os órgãos reguladores devem analisar atentamente os detalhes desta transação proposta e compreender o impacto negativo que ela terá sobre os consumidores, a exibição cinematográfica e a indústria do entretenimento", disse Michael O'Leary, presidente da entidade.
 
Nos Estados Unidos e na Europa, Flix Brewhouse, Vue Entertainment, a maior operadora de cinemas privados da Europa, e Regal Entertainment, por exemplo, também se manifestaram contra o acordo.
 
"Está amplamente comprovado que janelas de exibição mais curtas resultariam em menor potencial de geração de receita para os filmes. Essas receitas menores inevitavelmente levariam ao fechamento de cinemas, o que limitaria a capacidade dos consumidores de assistirem aos filmes no formato originalmente idealizado pelos cineastas. Além disso, resultaria em perda de empregos e prejuízos econômicos para os comércios vizinhos aos cinemas afetados pelo fechamento. Em última análise, os consumidores sairiam perdendo", disse Eduardo Acuna, CEO da Regal.
 
Por fim, Richard Patry, presidente da Associação Nacional de Exibidores da França (FNCF), afirmou que a entidade vai lutar pelas janelas de exibição nos cinemas e alertou sobre como a aquisição da Warner pela Netflix pode impactar o núcleo do ecossistema cinematográfico francês.
 
"Esperamos que os órgãos antitruste nos Estados Unidos e na Europa examinem com muita atenção as potenciais consequências deste acordo. O cenário hoje é muito diferente do que era quando a Disney e a Fox se fundiram; a Netflix detém uma grande fatia do mercado de streaming e a Warner Bros. Discovery já é uma gigante consolidada. A  Warner Bros. sempre teve uma linha editorial bem definida e produz filmes de grande sucesso que agradam aos cinéfilos. Eles são os mais europeus de todos os grandes estúdios americanos. A Warner Bros. tem sido generosa ao permitir que os cinemas franceses exibam filmes icônicos de seu acervo para educar os jovens, e agora, com a Netflix, não sabemos se essa tradição será perpetuada", disse.

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