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05 Dezembro 2025 | Redação

Warner aceita proposta de compra de US$ 82,7 bilhões da Netflix pelos negócios de streaming e produção de conteúdo

Apesar do acordo fechado, negociação ainda precisa ser aprovada pela Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos Estados Unidos

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(Foto: Reprodução)

A longa novela está prestes a ter um final feliz - ao menos para a Netflix. Nesta sexta-feira (5), a Warner aceitou uma proposta de US$ 82,7 bilhões da empresa pelos departamentos de cinema e streaming. Desta forma, a Warner dará sequência a sua divisão anunciada no mês de junho, e a Discovery Global continuará sendo uma empresa independente responsável pelos componentes de televisão tradicionais, como CNN e Discovery Channel. Vale ainda destacar que a Netflix reafirmou um compromisso de lançar os filmes da Warner Bros. nos cinemas. As informações são dos portais The Hollywood Reporter, Deadline e Variety.
 
Na última segunda-feira (1), a Warner recebeu propostas formais de Paramount, Netflix e NBCUniversal para sua aquisição, e agora a Netflix está muito próxima de vencer a concorrência. Apesar do processo se encaminhar para um desfecho, ainda é necessário que a Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos Estados Unidos aprove o acordo. A aprovação ainda pode esbarrar na lei antitruste dos Estados Unidos, e especialistas do setor olham para a situação com apreensão.
 
Incorporando a HBO Max e o catálogo da Warner, a participação da Netflix no mercado de streaming poderia superar 30%, um nível considerado potencialmente problemático pelas leis estadunidenses. A lei antitruste, vale destacar, é um conjunto de regras que impede que uma empresa concentre poder a ponto de prejudicar a concorrência, os consumidores ou a indústria.
 
Nesse contexto, inclusive, a Paramount levava vantagem devido a relação estreita entre Donald Trump e David Ellison, CEO da Paramount. O presidente dos Estados Unidos já havia deixado claro que Ellison teria um caminho regulatório mais fácil e, possivelmente, teremos notícias da Casa Branca em breve comentando o assunto. A Paramount argumentava que possuía a única das três ofertas com um caminho claro para a conclusão do negócio, e após o anúncio oficial da Netflix, a empresa, inclusive, partiu para o ataque.
 
Em uma carta aberta publicada após o anúncio oficial do negócio, a Paramount afirmou que as ofertas de Netflix e NBCUniversal apresentam sérios problemas que nenhum órgão regulador poderá ignorar. A Paramount classificou o processo de venda como injusto e tendencioso em favor da Netflix e argumentou que "tem uma base crível para acreditar que o processo de venda foi contaminado por conflitos de interesse da administração, incluindo os potenciais interesses pessoais de certos membros da administração em cargos e remunerações pós-transação". A Warner, por sua vez, rebateu afirmando que seu conselho "cumpre suas obrigações fiduciárias com o máximo cuidado, tendo-as cumprido integralmente e de forma rigorosa, e continuará a fazê-lo".
 
Voltando ao processo de compra, deixando as intrigas de lado, o acordo entre Netflix e Warner deverá ser concretizado depois que a divisão de redes globais da Warner, a Discovery Global, se transformar em uma nova empresa de capital aberto, uma mudança que agora está prevista para o terceiro trimestre de 2026.
 
Os conselhos administrativos da Netflix e Warner votaram unanimemente pela aprovação do negócio que prevê que o serviço de streaming pague US$ 27,75 por ação da Warner, totalizando um valor patrimonial de US$ 72 bilhões pelos estúdios de cinema e televisão da major, além de HBO Max e HBO. Os termos do acordo prevêem que cada acionista da Warner receberá US$ 23,25 em dinheiro e US$ 4,50 em ações ordinárias da Netflix por ação ordinária da Warner. Os valores citados foram revelados pelo Deadline, entretanto, o veículo não detalhou a diferença de US$ 10,7 bilhões para se chegar ao valor total do acordo de US$ 82,7 bilhões.
 
Em um pronunciamento feito na manhã de hoje (5), Ted Sarandos, co-CEO e ex-diretor de conteúdo da Netflix, afirmou que a missão da empresa sempre foi entreter o mundo. "Ao combinar o incrível catálogo de séries e filmes da Warner Bros. — de clássicos atemporais como ‘Casablanca’ e ‘Cidadão Kane’ a favoritos modernos como ‘Harry Potter’ e ‘Friends’ — com nossos títulos que definem a cultura pop, como ‘Stranger Things’, ‘K-Pop Demon Hunters’ e ‘Round 6’, poderemos fazer isso ainda melhor. Juntos, podemos oferecer ao público mais daquilo que ele ama e ajudar a definir o próximo século da narrativa", completou o executivo.
 
No mesmo comunicado, a Netflix reafirmou seu compromisso em lançar filmes da Warner nos cinemas - ou ao menos, demonstrou considerar a possibilidade ao utilizar o verbo "esperar".
 
"Os estúdios da Warner Bros. são de nível internacional, sendo a Warner Bros. reconhecida como uma fornecedora líder de títulos para televisão e entretenimento audiovisual. A HBO e a HBO Max também oferecem uma proposta complementar e atraente para os consumidores. A Netflix espera manter as operações atuais da Warner Bros. e expandir seus pontos fortes, incluindo os lançamentos de filmes nos cinemas. Eu não consideraria isso uma mudança de abordagem para os filmes da Netflix — ou para os filmes da Warner, aliás. Acho que, com o tempo, as janelas de lançamento vão evoluir para serem muito mais amigáveis ​​ao consumidor, para que possamos alcançar o público onde ele estiver, mais rapidamente. Por enquanto, vocês podem contar com o lançamento de todos os filmes planejados para os cinemas pela Warner Bros. Os filmes da Netflix seguirão o mesmo caminho de sempre: alguns deles terão uma curta temporada nos cinemas antes do lançamento, mas nosso principal objetivo é levar filmes de estreia aos nossos assinantes, porque é isso que eles procuram", disse Sarandos.
 
A Warner, por sua vez, enviou um memorando aos seus funcionários destacando que planeja estabelecer um escritório de integração, no qual o planejamento da empresa será coordenado com a Netflix, dentro dos requisitos regulatórios. A carta assinada por David Zaslav, CEO da Warner, também destacou que Gunnar Wiedenfels assumirá o cargo de CEO da Discovery Global após a separação da nova empresa, prevista para o terceiro trimestre de 2026.
 
No memorando, Zaslav observou que, embora haja alguma colaboração, "até que a transação seja concluída, a WBD e a Netflix permanecem empresas separadas". A Warner Bros. Discovery realizará uma reunião geral com seus funcionários ainda hoje (5).
 
"Pode ser tentador entrar em contato diretamente com colegas ou ex-colegas da Netflix, mas é essencial que todas as interações sejam gerenciadas por meio deste escritório para garantir que cumpramos todas as obrigações legais e regulamentares. O que podemos afirmar agora, com base na direção definida hoje, é que essa estrutura oferece um caminho mais claro para a Warner Bros. dentro da Netflix e para a Discovery Global como uma empresa independente. Para ambas, o objetivo é posicionar seu trabalho criativo, seus talentos e suas marcas para navegar em um mercado que está em constante evolução e cada vez mais globalizado. Esta decisão reflete a realidade de um setor que passa por uma transformação geracional — na forma como as histórias são financiadas, produzidas, distribuídas e descobertas — e reconhece a empresa forte e transformada que somos hoje, o valor significativo que criamos e a resiliência e atratividade que agora nos posicionam em um mercado em rápida evolução", dizia o memorando.
 
REAÇÃO NEGATIVA DO MERCADO
 
Logo após o anúncio oficial do acordo entre Warner e Netflix, Jason Kilar, ex-CEO da WarnerMedia, foi um dos primeiros executivos do estúdio a comentar publicamente sobre o acordo. "Se me fosse dada essa tarefa, não conseguiria pensar em uma maneira mais eficaz de reduzir a concorrência em Hollywood do que vender a WBD para a Netflix", publicou Kilar no X, ex-Twitter.
 
Em resposta a uma publicação no X discordando de sua opinião, Kilar acrescentou: "Quando uso a expressão 'competição' em Hollywood, estou me referindo a ter um número suficiente de entidades vibrantes e robustas que possam e irão competir agressivamente entre si para produzir e distribuir filmes, séries, eventos ao vivo e muito mais nas próximas décadas. Não estou focado no legado disso tudo".
 
Além disso, o Variety também noticiou com exclusividade que um consórcio de importantes empresas do setor enviou uma carta aberta ao Congresso dos Estados Unidos, repleta de preocupação, descrevendo um potencial colapso econômico e institucional em Hollywood caso a Netflix consiga adquirir a Warner.
 
A carta foi enviada por e-mail a membros do Congresso de ambos os partidos na quinta-feira, por um coletivo anônimo que se identificou apenas como "produtores de filmes preocupados". O grupo explicou que deixou a carta sem assinatura "não por covardia", mas por medo de represálias, dado o considerável poder da Netflix como compradora e distribuidora.
 
A comunicação, que conta com diversos cineastas de renome entre seus signatários, destaca três áreas de grande preocupação, incluindo a possibilidade de a Netflix "destruir" o mercado de filmes em salas de cinema, aumentando ou eliminando o tempo de exibição dos filmes da Warner Bros. nos cinemas antes de chegarem à eventual plataforma de streaming conjunta Netflix-HBO Max. Na quinta-feira (4), algumas fontes disseram ao Variety que a proposta da Netflix prevê uma janela de exclusividade de apenas duas semanas nos cinemas antes da transição para o streaming.
 
A carta ao Congresso também faz referência às inúmeras vezes em que Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, afirmou que o modelo de negócios da Netflix não tem nada a ver com cinemas - incluindo uma citação de uma teleconferência de resultados de 2023, na qual Sarandos disse: "Levar as pessoas ao cinema simplesmente não é o nosso negócio".
 
A nota conclui instando os membros da Câmara e do Senado a se manifestarem publicamente contra a aquisição e a submeterem o potencial negócio ao "mais alto nível de escrutínio antitruste".
 
Também fazendo coro às reações negativas, o Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos (WGA) Leste e Oeste emitiram uma declaração conjunta instando que a possível venda "deve ser bloqueada" pelos reguladores dos EUA.
 
"A maior empresa de streaming do mundo absorvendo uma de suas maiores concorrentes é exatamente o que as leis antitruste foram criadas para impedir", dizia o comunicado. "O resultado seria a eliminação de empregos, a redução dos salários, o agravamento das condições de trabalho de todos os profissionais do entretenimento, o aumento dos preços para os consumidores e a redução da quantidade e da diversidade de conteúdo para todos os espectadores. Os trabalhadores do setor, assim como o público em geral, já sofrem com o controle rígido exercido por poucas e poderosas empresas sobre o que os consumidores podem assistir na televisão, nos serviços de streaming e nos cinemas. Essa fusão precisa ser bloqueada", concluía.
 
Por fim, a União Internacional de Cinemas (UNIC), associação comercial que representa as redes de cinema e exibidores de cinema em 39 territórios europeus, também manifestou forte oposição à aquisição da Warner pela Netflix.
 
"Assim como em outros lugares, os cinemas na Europa dependem de um único produto para sua viabilidade: filmes. E para garantir que possam atrair e atender com sucesso o público mais amplo possível, esse fluxo de conteúdo precisa ser consistente e diversificado, com um período de lançamento exclusivo apoiado por um marketing eficaz. Nesse sentido, a planejada aquisição da Warner Bros. pela Netflix falha em todos os aspectos", dizia um comunicado emitido pela entidade.
 
Laura Houlgatte, CEO da UNIC, destacou que a associação fará todo o possível para deixar claros os potenciais impactos da negociação, fazendo forte oposição ao acordo, e falou sobre a possibilidade de menos filmes chegarem aos cinemas.
 
"Caso seja autorizado a prosseguir, este acordo representa um risco duplo. Se um estúdio desaparecer, isso inevitavelmente significará que os cinemas terão menos filmes para exibir ao público, levando à redução da receita, ao fechamento significativo de cinemas e à perda de empregos no setor. E, em muitos aspectos, isso é pior do que a aquisição de um estúdio de cinema por outro, como vimos com a aquisição da 20th Century Fox pela Disney há cerca de uma década. Tanto em palavras quanto em ações, a Netflix deixou claro repetidas vezes que não acredita nos cinemas e em seu modelo de negócios. A Netflix lançou apenas alguns títulos nos cinemas, geralmente para concorrer a prêmios, e por um período muito curto, negando aos exibidores uma janela justa de exclusividade", disse.

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