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23 Junho 2021 | Renata Vomero

Com mercado ainda incerto, Vitrine Filmes lança projeto de capacitação e iniciativa de apoio ao cinema nacional

Felipe Lopes destacou novidades da distribuidora, que começa atuar também no setor de produção

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(Foto: Divulgação)

Em janeiro deste ano, entrevistamos os diretores da Vitrine Filmes, Silvia Cruz e Felipe Lopes, para falar sobre as perspectivas 2021, diante de tudo o que aconteceu em 2020. Naquele início de ano, o olhar sobre o mercado era de gradual recuperação, mas com a expectativa de que até o fim do primeiro semestre já tivéssemos alcançado a tão almejada retomada.

A realidade veio um pouco diferente, no entanto, com uma parte do circuito ainda fechado e grandes restrições dentro dos cinemas. Com desafios estres desafios a serem enfrentados, a Vitrine Filmes, novamente, precisou mudar o planejamento e voltar a se reinventar para seguir movimento o mercado.

A primeira surpresa veio com o Oscar, com Druk: Mais Uma Rodada (Vitrine/Synapses) em mãos, favorito – e vencedor – do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, havia ali uma boa oportunidade de alcançar o público que tem como hábito assistir aos filmes da temporada de premiações antes da cerimônia. No entanto, com o fechamento de boa parte dos cinemas justamente no período, a Vitrine precisou mudar a estratégia e lançar o filme diretamente no digital, com ele em cartaz em cerca de cinco cinemas apenas.

“Quando aconteceu tudo isso com Druk, a gente antecipou o lançamento em TVOD, começamos com um valor só para venda, um pouco mais caro que o aluguel, de R$29,90. Mas esse não era o planejamento, um mês antes esse não era o planejamento. Veio uma onda nova, fecharam [os cinemas] em várias cidades, tivemos que repensar tudo porque tínhamos que pensar no Oscar, se não o filme teria sido adiado. O fator Oscar fazia o imediatismo fazer sentido”, explicou Felipe Lopes.

A decisão deu certo, já que Druk se mostrou o filme com o melhor resultado em TVOD da história da Vitrine Filmes, que tem 11 anos. No entanto, ainda é um ponto fora da curva, embora o streaming e o entretenimento doméstico tenham ganhado força neste período de restrições ao cinema, o formato de compra e aluguel de filmes ainda tem sua resistência, não tem crescido tanto.

Desta maneira, pensando também em criar mais um braço de apoio ao cinema nacional, a Vitrine Filmes lançou o projeto Alugue e Apoie, que conta com mais de 160 filmes e tem como objetivo estimular o consumo legal de cinema brasileiro. Já que a pirataria tem se mostrado um outro desafio, principalmente para as distribuidoras independentes, caso da Vitrine.

“A gente tem que ser um pouco repetitivo, tem que falar o que é obvio, lembrando que tudo isso faz parte de uma cadeia. Se a gente tinha o hábito de ir na locadora, para quem não está indo tanto no cinema, era um frequentador e está indo menos, ainda consumindo em casa, isso é algo que não vai alterar no seu custo mensal. É trabalhar um pouco essa consciência dos consumidores de filmes no aluguel também”, reforçou o executivo.

E quando se pensa em mercado, outro fator tão acelerado neste momento, foi a aglutinação dos elos do setor, algo que tem sido notado no mundo inteiro, com as aquisições, compras e fusões de conglomerados de mídia. Desta forma, se tornou cada vez mais necessário que os players dos diferentes elos do setor entendam o trabalho um dos outros. Pensando no quanto a formação audiovisual no Brasil é carente de qualificação no segmento de distribuição, então, surgiu o Vitrine Lab, com apoio da Lei Aldir Blanc e do ProAC, para levar essa capacitação a jovens que atuam no cinema no Brasil inteiro, já que a formação é online e gratuita, o que facilita a diversidade de acesso.

“A distribuição é um gargalo para poder divulgar nossos filmes, falar do cinema brasileiro, então, tem esse recorte em cima do cinema brasileiro. Mas tem a falta de conhecimento, sou formado em cinema, temos muitas formações assim dentro da Vitrine, e a gente não observa o olhar do mercado dentro dessa capacitação, é muito voltado para a produção. Também é muito difícil encontrar gente jovem, porque as pessoas acabam se formando dentro do mercado”, explicou.

Com essa transformação de todo o setor, que se mistura cada vez mais, a Vitrine começa agora a arriscar no meio de produção, entrando como coprodutora em alguns projetos. Algo que veio de forma natural dada a aproximação da distribuidora com os parceiros na área. Segundo, Felipe Lopes, o primeiro projeto que terá a Vitrine como coprodutora será o próximo documentário de Maria Augusta Ramos. “O audiovisual tem um dinamismo e temos que acompanhar essas movimentações para sobreviver e se destacar em um cenário competitivo em um momento de crise... ainda mais neste país”, ressaltou.

Entre as estreias deste ano estão a Sessão Vitrine edição especial de 10 anos com lançamento coletivo de quatro longas, entre eles A Torre, de Sérgio Borges; Entre Nós, um Segredo, de Beatriz Seigner e Toumani Kouyaté; Chão, de Camila Freitas, e Desvio, de Arthur Lins. Algumas das fortes novidades nestes últimos meses foram o novo documentário sobre o impeachment da Dilma, Alvorada, de Anna Muylaert e Lô Politi; First Cow, da diretora Kelly Reichardt; O Livro dos Prazeres, de Marcela Lordy e muitos outros títulos.

Com tudo isso em mãos, vem a certeza de que muita coisa fica e muita coisa vai embora, mas se mantém a garantia de que o público é grande consumidor de cinema e que os players precisam trabalhar seus títulos para alcançar eles. A tela grande, no entanto, seguirá como principal meio de lançamento.

“Acho que fica para depois a gente olhar para todas as telas, o que volta do que era antes é a importância da sala de cinema. Economicamente para a gente faz toda a diferença, impacta até no nosso potencial de investimento, a gente faz o investimento pensando no retorno, que quando é lançado no cinema esse retorno é significativo. Acho que a gente tinha um olhar que acabava deixando de olhar para as outras telas, acho que tem o retorno dos cinemas, mas agora com mais atenção para a continuidade do filme em outras telas, para ter uma carreira completa. O setor trabalhar com janelas, pensar nesse todo será muito melhor com o cinema junto”.

Confira a entrevista completa:

Conversamos no início do ano, para fazer um perspectivas 2021 como você analisa este primeiro semestre e qual perspectiva tem agora para o ano como um tudo?

Foi um primeiro semestre muito difícil, durante a pandemia a gente começou a viver uma semana por vez. Chegou em um momento que todo o planejamento era revisto com uma frequência tão grande, que quase não valia. A gente mudou muito nosso modo de trabalhar, porque não tinha como planejar a longo prazo. É uma doença muito instável, falar de futuro é difícil por conta disso, porque desde o ano passado tudo muda. Março e abril deste ano foram impensáveis para a gente, nossos principais lançamentos eram Druk, que já estávamos visando o Oscar, e na semana que entrou em cartaz perdemos São Paulo, em seguida o Rio, e muitas outras capitais fechadas. Na semana de lançamento do filme chegamos a ter apenas cinco salas com ele em cartaz, isso era impensável para um filme que ganhou o Oscar de Filme Estrangeiro. A gente sabia que mesmo ele tendo um perfil mais nichado, ele tinha um grande potencial, falávamos de no mínimo 30 salas e não de cinco. Como a gente não trabalha exclusivamente com filmes grandes, temos uma diversidade enorme, a gente trabalha nichos muito específicos, a gente sempre olhou cada filme de uma maneira única, mesmo antes da pandemia, tivemos que ter lançamentos que foram day-and-date, porque a gente acreditava que, fazendo uma análise estratégica, a gente poderia testes este modelo com determinado filme para conseguir alcançar o nosso público. Com a pandemia, a gente pensou que tinha que alcançar o público onde que ele esteja. Quando aconteceu tudo isso com Druk, a gente antecipou o lançamento em TVOD, começamos com um valor só para venda, um pouco mais caro que o aluguel, de R$29,90. Mas esse não era o planejamento, um mês antes esse não era o planejamento. Veio uma onda nova, fecharam em várias cidades, tivemos que repensar tudo porque tínhamos que pensar no Oscar, se não o filme teria sido adiado. O fator Oscar fazia o imediatismo fazer sentido.

De que forma tudo isso tem servido de aprendizado para vocês?

O que a gente leva de lição, tenho cuidado com essa visão otimista, porque realmente está muito difícil, mas a dose de otimismo que eu tenho é a de que até agora a gente está conseguindo encontrar solução. A Vitrine é uma distribuidora independente, que trabalhar com cinema independente, com foco maior em filmes brasileiros, ainda assim a gente está hoje bem. Não estamos incríveis, porque o mundo não está. O cenário pré-pandemia para a gente foi quando a gente lançou Bacurau e A Vida Invisível, foi um ano lindo, então, os nossos planos para 2020 eram os melhores possíveis, de manter uma ascensão. Mas conseguimos nos reinventar, temos conseguida, as perspectivas futuras é continuar nesse modus operandi, esperando a vacinação. O que está muito diferente hoje é que o retorno para a sala de cinema está muito mais no cinema comercial, nos multiplex, do que nos cinemas de arte. Então, como temos esse perfil mais nichado, temos filmes mais abertos, claro, mas temos um perfil que olha para esse cinema de arte e este perfil está um pouco mais resistência, estamos tendo mais dificuldade.

Ficamos muito focados no nosso setor, mas socialmente falando, vivemos em uma sociedade que vive em bolhas sociais, quando falamos desse segmento de arte, estamos em uma bolha em que as pessoas ainda estão vivendo mais restrições, ficando ainda em casa, sem ir tanto para a rua. A gente percebe isso e a gente vai olhando dependendo do filme, quando a gente vê que um filme tem esse perfil, pensamos em uma estratégia diferente, de repente uma campanha mais curta, algo focado no digital, a gente segue trabalhando para conseguir encontrar nosso público.

O que você acha que vai ficar deste modo de trabalhar?

Acho que fica para depois a gente olhar para todas as telas, o que volta do que era antes é a importância da sala de cinema. Economicamente para a gente faz toda a diferença, impacta até no nosso potencial de investimento, a gente faz o investimento pensando no retorno, que quando é lançado no cinema esse retorno é significativo. Acho que a gente tinha um olhar que acabava deixando de olhar para as outras telas, acho que tem o retorno dos cinemas, mas agora com mais atenção para a continuidade do filme em outras telas, para ter uma carreira completa. O setor trabalhar com janelas, pensar nesse todo será muito melhor com o cinema junto.

Recentemente, vocês lançaram uma nova iniciativa de apoio ao cinema nacional que é o Alugue e Apoie, como surgiu essa ideia?  E como ela reverbera em apoio ao cinema nacional como um todo?  

Falar da campanha do Alugue e Apoie é uma análise estratégica do que a gente está vivendo hoje nessa multiplicidade de janelas. Fazendo um comparativo com o passado, cresci indo em locadora, com o hábito de consumo de filmes, em que ele era um produto e eu pagava para assisti-lo. Vejo o cinema como esse diferencial do evento, do programa, de você ter um programa social. No entretenimento doméstico, o fato de você não ir em uma locadora, a gente observa que o consumidor não tem o hábito do aluguel digital, sei que a pirataria existe e nós, de uma distribuidora independente, lutar contra isso é muito complicado e esbarra em uma frente de dificuldade de acesso. Não é tão simples, não é fácil conseguir levar conteúdos nichados para o Brasil inteiro, enfim. A gente sabe o quanto o cinema está sendo impactado pela pandemia, a gente teve mais vendas para os serviços de streaming e vimos que o nosso aluguel não cresceu tanto, tivemos pontos fora da curva, como Druk, mas nossa média mensal, a gente percebe o quanto falta para o consumidor ter consciência do quanto isso é importante para a cadeia como um todo. Vejo muita gente sendo ativista, lutando pelo cinema brasileiro, porque o melhor jeito de você defender a cultura, é você consumir a cultura, mas a gente percebe que há uma visão de parte dos consumidores de que você não precisa pagar pelo conteúdo.

Tem uma questão no sucesso do streaming que é a facilidade do acesso e da compra, um ponto importante para o consumidor, você cadastra o seu cartão ali e quase não tem a sensação de que não está pagando. Academia lucra muito com isso, né? Pessoal faz plano anual e as vezes nem aparece (risos). Essa lógica de ter a facilidade de estar no seu cartão, você aperta só um botão e ter um catálogo imenso, já é uma facilidade. O que a gente luta, e o Druk é um caso muito bom para analisar isso, porque você tem que buscar fatores que vão fazer aquela pessoa tomar a decisão de ver aquele filme naquele momento. Então, se é um filme que está no Oscar, é um fator que impulsiona. Outro fator é sensibilizar o público de entender a cadeia, se tem o streaming de um lado, tem a pirataria de outro, porque já aconteceu de a gente lançar filme neste momento e eu receber links de títulos que eu distribuo, uma coisa absurda. Recebi de pessoas que têm consciência do setor. A gente tem que ser um pouco repetitivo, tem que falar o que é obvio, lembrando que tudo isso faz parte de uma cadeia. Se a gente tinha o hábito de ir na locadora, para quem não está indo tanto no cinema, era um frequentador e está indo menos, ainda consumindo em casa, isso é algo que não vai alterar no seu custo mensal. É trabalhar um pouco essa consciência dos consumidores de filmes no aluguel também.

Você falou sobre o sucesso de Druk, como foi o resultado do filme?  

Pensando a nível de Vitrine, Druk foi o nosso melhor resultado em TVOD em 11 anos de empresa. A gente tem filmes de muito sucesso, mas Druk é nosso maior resultado em TVOD da história, o apelo do Oscar, o pessoal querendo ver o filme antes da cerimônia. Foi desesperador, a gente não esperava que fosse dessa forma, mas que bom que conseguimos lançar o filme assim. Eu sou esse público que gosta de ver os títulos do Oscar antes da cerimônia. Fico feliz que as pessoas que não puderam ver o filme nos cinemas, conseguiram assistir de alguma forma, e de forma legal, claro.

Vocês também lançaram o Vitrine Lab, com um projeto de capacitação em distribuição. Qual é a importância de levar essa formação aos profissionais, uma área tão carente de qualificação?  

Primeira coisa que é importante forçar é que o Vitrine Lab veio de dentro de equipe, que veio com essa proposta. A gente sempre conversa muito sobre esse gargalo no mercado de distribuição e sobre o conhecimento deste setor. Com a Lei Aldir Blanc e o ProAC a gente conseguiu inscrever o projeto e viabilizar esta edição, que até pensamos em desdobrar para conseguir fazer edições futuras. Vamos continuar inscrevendo em editais de fomento, porque tem um custo para levantar o laboratório, mas ele veio muito dessa percepção de que tem um gargalo na distribuição intrínseco. A distribuição é um gargalo para poder divulgar nossos filmes, falar do cinema brasileiro, então, tem esse recorte em cima do cinema brasileiro. Mas é falta de conhecimento, sou formado em cinema, temos muitas formações dentro da Vitrine, e a gente não observa o olhar do mercado dentro dessa capacitação, é muito voltado para a produção. A gente tem mais de 150 filmes lançados, então, temos um contato muito próximo com os produtores, e ficamos surpresos, porque para nós tem coisas que são conceitos básicos do nosso dia a dia e que não é do conhecimento de profissionais que estão há 20 anos no mercado de produção. O que essas pessoas entendem de produção, eu não arrisco nem 10%, mas tem também este outro lado. O que a gente entende do mercado, não chega. Também é muito difícil encontrar gente jovem, porque as pessoas acabam se formando dentro do mercado. Tenho pós-graduação em Marketing e Gestão Empresarial, mas foi só quando fui trabalhar com distribuição que fui aprendendo um monte de coisa sobre este segmento. É muito bom a gente poder ter um espaço de troca, com o fomento, podendo fazer isso de forma gratuita, para jovens de todo Brasil, e de todo Brasil mesmo, temos alunos do Macapá ao Sul do Brasil. Olhando também um eixo Rio- São Paulo que a gente não olha tanto, como o interior de São Paulo, ou mesmo uma aluna nossa que é da Cidade de Deus. Então, quando a gente fala neste eixo Rio-São Paulo, envolve a classe média alta destes lugares.

Estamos agora no meio do processo das aulas e está sendo uma troca incrível. É isso, a gente entende que a distribuição é um gargalo, mas é uma turma com um nível muito alto de conhecimento do setor audiovisual, que vem de coletivos, com uma formação de cinema, que trabalham dentro de suas localidades de fazer um audiovisual mais regional. Então, tem sido bacana levar esse olhar da distribuição e difundir isso. Temos muito essa vontade de ampliar esse conhecimento. Estamos observando e queremos ter mais, queremos fazer da forma mais acessível e plural possível, vamos fazer módulos abertos a todos. Vamos continuar oferecendo bolsas, foram 600 inscritos.

 A pandemia acelerou muito essa questão dos elos do setor se integrarem. Como vê a importância do laboratório nesse sentido de misturar esses profissionais?  

Tem uma tendência mundial de aglutinar esses conglomerados. Claro que a gente surge atendendo num nicho, gargalo, a gente tem que ter diversidade, pluralidade e conhecer o mercado. Temos que ter uma visão macro da indústria, por exemplo, na pandemia agora nós estamos atuando também como coprodutores de alguns filmes. A gente é uma caixinha de surpresas! É muito orgânico, sempre estivemos muito próximos das produtoras, nunca tivemos isso de esperar um filme ficar pronto para trabalhar nele. Gostamos de estar no projeto desde o começo, de ler o roteiro. Estou indo amanhã em set para fazer fotografia para cartaz, então, estamos sempre acompanhando.  Uma coisa que acontecia, porque a gente acabava esbarrando em alguns entraves, como distribuidor independente, no FSA, se a gente acessa o fundo não podemos coproduzir. Com toda essa mudança que a gente está vendo nas políticas públicas, que é ruim porque precisamos de investimento público, mas com elas começamos a atuar em algumas produções que não tinham recursos do FSA. Pela lógica do mercado, tudo estava se misturando, então, acabou que a gente foi se envolvendo na captação para algumas produções, temos uma equipe razoável, então, temos pessoas que têm expertise nisso. Aí, quando lidávamos com algumas produtoras pequenas, levávamos também essa bagagem. Em determinados momentos falamos que podíamos coproduzir juntos, o próximo documentário da Maria Augusta Ramos vamos entrar como coprodutores, e também em alguns projetos futuros que ainda vamos divulgar. Vemos isso, outras distribuidoras independentes com plataforma de streaming, vemos esse movimento, é tudo muito orgânico. O audiovisual tem um dinamismo e temos que acompanhar essas movimentações para sobreviver e se destacar em um cenário competitivo em um momento de crise... nesse país.

Tem uma coisa que falo muito com a equipe, o centro da Vitrine é o conteúdo, a gente sabe e gosta muito de vender e comercializar, mas isso permite que a gente tenha toda essa capilaridade, permite que a gente trabalhe uma capacitação dentro da nossa expertise, permite que a gente entre de outras formas nas produções trazendo parceiros para o financiamento, crie projetos como a Sessão Vitrine, o Aluge e Apoie, que a gente trabalha essa sensibilização. Também sou presidente da Associação de Distribuidores Independentes, o próprio setor do cinema está vinculado com as políticas públicas, ter essa percepção é importante, para podermos lutar pela gente.

É um setor muito unido, não é?   

É um setor que percebeu o resultado da união historicamente, como a própria criação da Ancine, que é uma vitória. É muito bom dialogar, trabalhar e ter essa troca com o setor que muita gente, a sempre fala isso em eventos como a Expocine (risos), é desse olhar de a gente pensar que estamos dentro do mundo, estamos integrados em uma sociedade, situação política e de mercado, não dá para dissociar quando vamos trabalhar. Acho que é por isso que a gente consegue também dentro de um cenário de crise, pensar em possibilidades. É difícil, é cansativo, mas tem muitos momentos gratificantes, é gratificante conhecer novos talentos do Brasil inteiro que estão olhando para distribuição, é muito gratificante quando a gente recebe um filme que consegue romper a barreira e as pessoas estão alugando, é muito gratificante quando conseguimos lançar um filme no meio da pandemia e as pessoas comparecem, mesmo que em uma quantidade menor do que era antes, mas elas estão indo ali com a máscara e cuidado. Acho que a gente se agarra nessas vitórias.

Por fim, quais são os próximos passos e o que vocês esperam para o futuro?   

O futuro do cinema vejo como o melhor possível, a gente passa por uma crise política do setor, junta-se isso a crise de saúde pública. Ninguém parou de consumir filme e audiovisual. O futuro do cinema é continuar construindo boas histórias com qualidade e encontrar esse público em todas as telas. É voltar para a tela grande, sei que as pessoas estão morrendo de saudade, mas também entender que tem diversas possibilidades. Vamos continuar exibindo, produzindo e distribuindo muito cinema, muito filme brasileiro, muito filme independente e estrangeiros também, e encontrar e comunicar essas obras da melhor forma possível por todo Brasil e por todo o mundo também, porque queremos ampliar e vendo possibilidade para ir além. A gente as vezes dá alguns passos para trás, mas tem conquistas que ficam, estamos em um momento de maturidade do nosso cinema que não tem como voltar atrás, fazemos conteúdos, trabalhamos e fazemos negócios referentes ao nosso cinema que são referência, acho que isso a gente não vai perder, o público entende e percebe a qualidade, nesse ponto consigo ser otimista, mesmo enfrentando muitas batalhas continuamente. Passar por um ano e meio de pandemia em uma empresa do perfil da Vitrine, conseguindo sobreviver bem, isso mostra que tem como fazer esse negócio, isso mostra que a gente tem capacidade, tem produto, tem público.

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