27 Outubro 2025 | Yuri Cavichioli
Mapeamento da Animação do Brasil confirma expansão de pequenas empresas e aponta para regulação do streaming
Nos últimos cinco anos, número de empresas cresce 46% e mercado ainda tem lacuna considerável em relação às cooperações internacionais
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O setor brasileiro de animação acaba de ganhar uma nova configuração. O 2º Mapeamento da Animação do Brasil foi apresentado na última sexta-feira (24) durante o V Encontro de Ideias Audiovisuais, na Mostra de Cinema de São Paulo. O levantamento atualiza dados de 2019 e oferece um panorama detalhado sobre os profissionais, empresas, formatos de produção e desafios enfrentados por esse segmento estratégico do audiovisual. Segundo informações da Tela Viva.
Realizado pela Iniciativa Cultural, o estudo teve coordenação de Alessandra Meleiro, que destacou a importância dos dados para formulação de políticas públicas e estratégias de investimento. O ecossistema de animação envolve players privados, associações, entidades sem fins lucrativos e empresas. Essas informações são essenciais para subsidiar políticas públicas, planejar o futuro e orientar decisões estratégicas, segundo a profissional.
“Precisamos nos instrumentalizar. Ferramentas como esse mapeamento são fundamentais para o debate público e privado. Não há como construir um setor sólido sem conhecer sua própria estrutura e dimensões”, observou Paulo Cidade, responsável pela metodologia da pesquisa, reforçando a relevância do levantamento para o fortalecimento do setor.
Entre os principais resultados, o mapeamento reuniu 466 respostas, número superior ao de 2019 (455). A pesquisa mostra que 57% dos participantes atuam como prestadores de serviço individual e que o ecossistema segue formado majoritariamente por micro e pequenas empresas. Além disso, o levantamento revela um cenário rejuvenescido: 46% das empresas foram criadas nos últimos cinco anos, evidenciando a entrada de novos players no mercado.
O estudo também indica que 60% da atividade econômica permanece concentrada no Sudeste, embora outras regiões tenham registrado crescimento. O Norte (18%) e o Sul (16%) aparecem em seguida, mostrando uma leve descentralização em comparação a 2019, quando o Sudeste representava 64% do total.
Entre os formatos de produção, os curtas-metragens (72%) continuam sendo os mais realizados, seguidos por séries (56%) e longas (45%) - como muitas produtoras desenvolvem diferentes tipos de projeto, os percentuais se sobrepõem. O resultado mostra que o curta ainda é a principal porta de entrada para novos profissionais e ideias autorais, enquanto o crescimento das séries e longas indica um amadurecimento do mercado, com produções mais estruturadas e voltadas a plataformas e canais de exibição contínuos. "Esses curtas inscritos não são necessariamente projetos de empresas. Recebemos muitos filmes de animadores independentes, estudantes, adolescentes. Com as novas tecnologias e os aplicativos, tem muito mais gente produzindo curtas animados. Esse número de curtas brasileiros inscritos no festival é um dado interessante para o próprio estudo, porque não deixa de ser uma forma de mapeamento também", aponta Julio Cavani, jornalista e curador geral do Animage.
Em relação às coproduções, o levantamento aponta que 60% das empresas não realizam parcerias internacionais, indicando que há um potencial de crescimento e preenchimento dessa lacuna de oportunidades. As colaborações mais recorrentes ocorrem com Estados Unidos, Canadá e França, países que também figuram entre os principais destinos de exportação de serviços e conteúdos brasileiros.
Reynaldo Marchesini, produtor e membro da diretoria da Abranima, destacou o impacto das políticas regulatórias sobre a animação nacional. “Em 2019, a Lei 12.485 impulsionou o surgimento de novos estúdios. Agora, precisamos discutir a regulação do streaming para garantir espaço e sustentabilidade à produção brasileira, especialmente num momento de retração financeira”, avaliou.
O levantamento aponta que 58% dos entrevistados não são associados a nenhuma entidade representativa. Em um setor no qual profissionais e empresas atuam em diversas etapas do processo produtivo, o custo-benefício da participação em associações pode pesar na decisão, considerando o tempo e os recursos exigidos. Ainda assim, os especialistas destacam a importância do engajamento coletivo para fortalecer a representatividade e ampliar o acesso a recursos e políticas de fomento.
Com periodicidade ainda irregular, os especialistas defendem que o mapeamento seja realizado a cada dois anos, garantindo uma base contínua de informações sobre o comportamento e a evolução do setor. “Precisamos de editais de pesquisa que assegurem a continuidade desse trabalho”, concluiu Alessandra Meleiro.
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