08 Maio 2025 | Redação
Filme "Oratório" encerra filmagens e promete ser o primeiro terror nipo-brasileiro do cinema nacional
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As filmagens de Oratório — também conhecido pelo título em japonês Butsudan — foram encerradas no interior de São Paulo e marcam um feito inédito no cinema brasileiro: trata-se do primeiro longa de terror a abordar diretamente a experiência nipo-brasileira. Com direção de Caroline Okoshi Fioratti (Meu Casulo de Drywall), o projeto combina o universo do horror com temas de ancestralidade, luto e conflitos geracionais, partindo de uma perspectiva feminina e asiática.
A produção é da Aurora Filmes, em coprodução com a Haikai Filmes, viabilizada por meio da Lei Paulo Gustavo do Governo do Estado de São Paulo. O lançamento está previsto para o segundo semestre de 2026.
Escrito em parceria com Fioratti e a atriz Larissa Murai (Um Ano Inesquecível – Inverno), que também protagoniza o filme, Oratório acompanha três irmãs que se reencontram após a morte da avó. O ponto de tensão é a herança deixada: um antigo casarão e um oratório budista, objeto sagrado que representa a memória dos antepassados. A divergência sobre o destino desse altar desperta forças sobrenaturais, obrigando as personagens a enfrentarem traumas, medos e segredos do passado.
“O terror foi a forma que encontramos de criar metáforas e ressignificar traumas culturais e padrões de comportamento que fazem parte da nossa construção como mulher nipo-brasileira", comenta Fioratti.
Inspirado em lendas do período Edo e mitologias como a dos yūreis (fantasmas) e yōkais (criaturas sobrenaturais), o roteiro se apoia em estudos de folclore japonês e na construção simbólica do medo. "Eu e a Carol lemos sobre yureis e yokais (fantasmas e criaturas sobrenaturais, respectivamente), e nos debruçamos sobre lendas do período Edo (que cobre os anos de 1603 a 1868), fizemos cursos de folclore japonês e, principalmente, estudamos a construção do medo. Sinto que nos munimos de tudo o que era possível para que, no fim, pudéssemos ser livres. E essa liberdade nos permitiu criar algo profundamente nosso, assombrado pelas nossas memórias e pelo nosso próprio inconsciente", comenta Murai sobre o processo de escrita do roteiro.
O elenco principal conta ainda com Yohama Eshima e Vivi Ohno, em seus primeiros papéis protagonistas no cinema. "Dezesseis anos como atriz, e Nathália é minha primeira protagonista no cinema. Acho que isso diz algo sobre a importância de estarmos vivendo um momento de abertura para o que sempre existiu: histórias brasileiras, com muitos rostos diferentes, mas brasileiros", destaca Eshima.
Na trama, a personagem Yuriko — interpretada por Ohno — é inspirada na figura folclórica de Oiwa, espírito de rosto desfigurado. A caracterização envolveu uso de próteses complexas, numa preparação física e simbólica que a atriz define como “libertadora”: “Sair do padrão de beleza e encontrar força no que é considerado não convencional foi um dos maiores presentes dessa personagem.”
A equipe técnica reflete o compromisso com representatividade: a maioria dos chefes de equipe são mulheres nipo-brasileiras, incluindo nomes como a diretora de arte Flora Fujii, a dublê Samira Hayashi e o diretor de fotografia Hélcio Alemão Nagamine. Também integram o elenco Miwa Yanagizawa e Gabriel Godoy, em participações especiais.
Mais do que um filme de terror, Oratório se propõe a refletir sobre identidade e pertencimento: "A oportunidade de fazer este projeto veio de quem sabe a importância de contar essa história, pessoas que tem mais do que o rosto parecido com o meu, tem histórias ancestrais que se conectam, escancarando o racismo, a dificuldade de se expressar, de demonstrar afeto", resume a diretora.Compartilhe:
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