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14 Agosto 2019 | Fernanda Mendes e Renata Vomero

Segundo especialista da ESPM, protagonistas femininas são reflexo de demanda da sociedade

Tatiana Amendola comenta os motivos que levaram a esse novo momento do cinema

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(Foto: Warner Bros.)

Não são poucos os novos exemplos do cinema que tragam mulheres como protagonistas, mas não só isso, mulheres desempenhando papeis antes pouco vistos sendo empenhados pelo gênero, que sempre foi retratado como frágil, secundário e estereotipado. Atualmente, com Mulher-Maravilha, Capitã Marvel, Thor, Moana, Frozen, 007, Star Wars...é possível ver inúmeros blockbusters focando no empoderamento feminino, que as mídias perceberam ser um atrativo ao grande público, tendo algum deles batido recordes de bilheteria, inclusive.

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No entanto, isso não surgiu de repente e muito menos como uma forma de agradar a um público específico, mas sim, como um reflexo de uma discussão que já vem ocupando diversas esferas sociais. A principal dessas discussões, é o fato de o feminismo, movimento social que busca a igualdade entre os gêneros, ter tomado o protagonismo nos debates do mundo todo.

O fato de as mulheres estarem cansadas de estabelecerem uma jornada dupla e passarem a questionar isso nas redes sociais e em outros grupos de debates, acabou por gerar um fortalecimento deste movimento social, além disso, diversas outras minorias sociais passaram também a questionar os padrões de gênero. “Quando você junta tudo isso, você cria um novo Zeitgeist, um novo espírito do tempo, uma coisa nova e maior do que questões específicas, de grupos específicos, então aí rola um espírito questionador disso tudo. E essas questões começam a ser percebidas nos produtos midiáticos, entre eles os filmes, a mulher vai rever um filme como o da Branca de Neve, uma animação ou um filme heróis, e vai ver que não tem nada a ver e quer ressignificar o lugar da mulher”, explica Tatiana Amendola, socióloga e professora de Ciências Sociais e do Consumo da ESPM SP

É aí então que surgem esses filmes, como o Frozen, que traz uma representação feminina já diferente do que se costumava ver em uma princesa da Disney nos cinemas. Assim como a Mulher-Maravilha, que não precisa mais ser salva por um homem ou um príncipe, mas sim o contrário disso tudo. Recentemente, a Marvel anunciou que Natalie Portman será a nova Thor nos cinemas, pegando o bastão, ou o martelo, neste caso, das mãos de Chris Hemsworth, a personagem em versão feminina, no entanto, já era conhecida dos fãs dos quadrinhos. “Na HQ ela já existia, mas não adianta ter se o terreno não é fértil para isso, as teorias feministas também já existem há muitos anos, não adianta a coisa ficar parada lá.  Isso tudo precisa encontrar um terreno fértil no mercado para ecoar, é uma pena, mas a gente precisa de um número maior de pessoas ou de uns grupos-chave para fazer essa mudança”, comenta a professora.

Bom, prova dessa transformação foi a pesquisa realizada pela SEMrush, que estudou o comportamento dos brasileiros nos sites de busca quanto aos filmes da Disney entre 2017 e 2019, o resultado da análise concluiu que os três títulos mais pesquisados contavam com mulheres no protagonismo, eram eles Capitã Marvel, Frozen e Moana.  O primeiro, contou com 8,5 milhões de buscas, Frozen com 8,2 milhões e Moana com 7,1 milhões. Além disso, Star Wars, que hoje conta com uma protagonista mulher, veio logo em seguida com 6,9 milhões de buscas. “Há uma cobrança de maior diversidade e a Disney precisa sim ressignificar seus personagens. Ninguém fala mal da mudança do Dumbo, mas falam da Ariel, porque isso toca num ponto para as pessoas brancas, porque elas não querem ver as princesas diferentes, elas estavam num lugar que era confortável para elas. Elas entendem que seu lugar está ameaçado, o lugar de poder”, revela Tatiana referindo-se às mudanças recentes em personagens do estúdio. Recentemente, a Disney anunciou Halle Bailey como a atriz principal do live-action de A Pequena Sereia, o que gerou muitas críticas na internet por ser uma atriz negra, diferente da animação original.

Além disso, a professora salientou a importância dos filmes de herói da Disney e Marvel passarem a buscar uma nova forma de atingirem o público, que antes era mais tido como masculino. “A Marvel sempre foi criada para atender ao público masculino, mas o masculino mudou, está em transformação. A gente tem em parcelas significativas da população o questionamento do que é o masculino, que já não é mais a mesma coisa das gerações anteriores. Se a Marvel sempre vendeu para o masculino, está na hora de ela perceber que o masculino não está separado do feminino e que o masculino mudou. Não temos mais duas caixinhas binárias separadas, o mundo está muito mais fluído, mais transitório, transparente, muito mais trans mesmo, porque a gente transita entre as caixinhas do masculino e do feminino. Tem que mudar o marketing, essa questão de gênero não dá mais para ser trabalhada assim. Agora, uma empresa pode escolher se quiser trabalhar mais com essa questão, mas é um lado mais conservador. Existe uma tendência, social e cultural ligada a essa dissolução a esses padrões conservadores de gênero, que se expressam no marketing e publicidade, que acho que não deveriam ser conservadores, a meu ver. Eles falam com o futuro e novas geração, mas existem um monte de empresas que ainda falam com esse consumidor tradicional”, finaliza.

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