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03 Junho 2016 | Natalí Alencar

Cinema, espaço de inclusão

Sessão Azul exibe filmes para crianças autistas

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(Foto: Sessão Azul)

Muitas famílias com crianças autistas deixam de ter convívio social por receio ou em alguns casos, até vergonha da reação e pré-conceitos em situações que para eles talvez não sejam tão confortáveis como, por exemplo, frequentar shoppings, restaurantes, festas ou ir ao cinema.

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Pensando nisso, e com base em outras experiências inclusivas nas salas de cinema como o CineMaterna, Carolina Figueiredo e Bruna Manta, ambas psicólogas e especialista no tratamento do TEA (Transtorno do Espectro do Autismo) e Leonardo Bittencourt Cardoso, gerente de projetos, decidiram criar a Sessão Azul, exibições de cinema voltadas a pessoas com TEA e seus familiares, em um ambiente preparado para tornar a experiência mais confortável, com som mais baixo e luz acesa.

Por enquanto, as sessões são realizadas apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas em breve o projeto chegará a outras regiões como Vila Velha (ES). Os filmes são escolhidos por meio de enquetes realizadas na internet e a iniciativa é feita em parceria com o CapaciTEAutismo e as redes Kinoplex e Cinesystem. Mas já estão em curso negociações com outros exibidores.

O projeto realizou 10 sessões entre dezembro de 2015 e maio deste ano e as próximas estão previstas para 04/06 (Rio de Janeiro) e 11/06 (Vila Velha).

Em entrevista ao Portal Exibidor, Carolina Figueiredo, conta a motivação para a criação do projeto.

Na edição 21 da Revista Exibidor você encontra outras experiências diferenciadas que transformam a sala de cinema em um local de infinitas possibilidades como o CineMaterna, CineClubinho, Clássicos Cinemark e Cinematographo.

- Como surgiu o projeto?

A ideia surgiu porque trabalho com crianças e adolescentes autistas, mais com crianças. Trabalhava com elas no consultório e fui percebendo com as famílias que eles ficavam muito presos em casa e não tinham lazer. Os pais ficavam com medo de levar e de dar problema por conta de comportamento inadequado e o fato de as pessoas ficarem olhando.

Então, eles acabavam não indo a certos ambientes como cinema, teatro, shopping e até mesmo para parquinhos. A criança ficava sem esse contato social. Fui percebendo isso e foi surgindo a ideia. No começo, ia com um paciente ou outro fazer esse tipo de trabalho e aí quis abranger mais pessoas, incluindo as que não têm tanto contato com terapias, não têm dinheiro para pagar e o governo não ajuda. Quando criamos, o intuito era abranger mais pessoas e ajudá-las a inserir seus filhos numa sessão de cinema, de teatro e em outros lugares.

- Como foi a negociação com os cinemas?

Não foi muito fácil. O Kinoplex foi o único que abriu espaço quando nós procuramos. A maioria dos cinemas a gente tem que pagar a sala. O Kinoplex fez a primeira sessão gratuita, viu como era, foi testando e abriu mais espaços para fazermos. Então, os exibidores agora estão recebendo a ideia melhor, perceberam que é um projeto bacana. Mas no começo não foi muito fácil.

- Além do Kinoplex e Cinesystem, vocês estão em negociação com outros exibidores?

Sim, inclusive com os shoppings. Por exemplo, o Shopping Metropolitano alugou a sala do Cinemark para fazermos a sessão. Estamos negociando com a Centerplex e com outros shoppings parceiros: Nova América e Boulevard Shopping.

- E qual a periodicidade das sessões?

Uma por mês.

- Quais adaptações são feitas na sala?

A luz fica acessa e o som mais baixo. Quando as crianças entram, já tem o filme, não tem trailer antes e tem terapeutas na sala que ajudam quando a criança não quer entrar. Eles podem andar e sentar no chão. Direcionamos sempre para que sentem nas poltronas, para irem se acostumando, mas se tiverem dificuldade, deixamos sentarem no chão, para que possam participar de alguma forma.

- Quantos terapeutas ficam na sala?

No mínimo quatro, mas na maioria das vezes tem mais, seis.

- Qual o perfil do público que acompanha?

Geralmente a mãe, o pai e os irmãos, mas em alguns casos, os avós também acompanham. A faixa etária das crianças autistas é bem variada, desde bem pequeno até mesmo adulto.

- As sessões costumam ter quantas pessoas?

Varia por conta do tamanho da sala, mas já fizemos com 300 pessoas no Kinoplex Grande Rio (São João do Meriti - RJ), mas a maior foi no Kinoplex Nova América (Rio de Janeiro - RJ), em que utilizamos três salas. Foi no Dia Nacional do Autismo e recebemos mais de 400 pessoas.

- E o valor do ingresso?

É meia-entrada sempre. Em alguns casos, o shopping custeia e oferece cortesia.

- E como as famílias receberam o projeto?

Há um impacto forte, em alguns casos, as famílias choram e se emocionam porque é uma oportunidade levar os filhos e acabam voltando porque é muito difícil ir numa sessão comum. Eles agradecem muito e algumas crianças já estão indo em sessões normais.

- E quais os próximos passos do projeto?

Queremos atingir mais pessoas e locais que não têm tanto acesso e fazer outras coisas além do cinema. Migrar para outras atividades culturais.

Precisamos inserir eles no nosso meio para que sejam cada vez mais capazes de interagirem. Queremos abranger todos os níveis do autismo e as sessões são abertas ao público, qualquer pessoa pode ir. Com isso, queremos que as famílias com outras crianças se interessem em participar das sessões para que aprendam a respeitar e interagir com crianças que tenham comportamento diferente.

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