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21 Agosto 2025 | Redação

Diante de cenário desafiador, Projeto Paradiso auxilia exibidores e distribuidoras a levarem cinema nacional ao público

Projeto Paradiso foi responsável pelo Prêmio Paradiso de Distribuição durante o XX Panorama Internacional Coisa de Cinema

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(Foto: Divulgação)

Um dos principais gargalos do cinema nacional, sem dúvidas, é chegar ao público final e conquistá-lo. Diante de um menor investimento para distribuição e principalmente exibição, se comparado às políticas públicas voltadas para a produção, o desafio de levar produções brasileiras ao público é bastante grande. Nesse cenário desafiador, o Projeto Paradiso, que tem o processo de desenvolvimento de produções como foco principal de trabalho, se tornou um importante aliado para exibidores e distribuidoras. Prova desse compromisso é o Prêmio Paradiso de Distribuição, oferecido durante o I Seminário de Exibição do XX Panorama Internacional Coisa de Cinema, de Salvador, no mês de abril.

Em Salvador, o longa O Silêncio das Ostras (Olhar Filmes) foi premiado, mas vale destacar que essa foi a segunda premiação do Projeto Paradiso destinada ao apoio à distribuição em salas de cinema no Brasil. A primeira iniciativa foi inaugurada na Mostra de Cinema de São Paulo e já conta com duas edições, em que foram premiados os longas Saudades Fez Morada Aqui Dentro (Cajuína Audiovisual), de Haroldo Borges, em 2023, e Malu (Filmes do Estação), dirigido por Pedro Freire, no ano passado.

O I Seminário de Exibição do XX Panorama Internacional Coisa de Cinema contou o apoio da AEXIB (Associação dos Pequenos e Médios Exibidores do Brasil), que também foi responsável pelo Prêmio Festival AEXIB, e agraciou O Último Azul (Vitrine Filmes) como vencedor. O prêmio, aliás, garante a exibição do longa nas salas de cinemas administradas pelos exibidores presentes no evento e, de acordo com Cláudio Marques, responsável pelo Cine Glauber Rocha e organizador do evento, o filme que chega aos cinemas na próxima quinta-feira já tem a exibição confirmada em ao menos 60 salas de cinema espalhadas pelo Brasil.

"Ainda estamos trabalhando, mas na última contagem, por parte da AEXIB, 'O Último Azul' ia entrar em pelo menos 60 salas de cinema que já confirmamos. Esse número ainda deve crescer, e é claro que tem o trabalho da Vitrine Filmes, além do prêmio que demos, então acho que vai ser uma grande quantidade de salas de cinema", disse.

O Prêmio Paradiso de Distribuição, por sua vez, concedeu o valor de R$ 10 mil para investimento na distribuição de O Silêncio das Ostras. Ambas as premiações, vale destacar, foram decididas pelos próprios exibidores presentes no evento.

Além de Cláudio Marques, o Portal Exibidor também conversou com Rachel do Valle, diretora de programas do Projeto Paradiso, e Argel Medeiros, diretor executivo na Olhar Distribuição, para entender melhor o cenário e as dificuldades de levar o cinema nacional até o público.

"A principal dificuldade é o espaço, a janela de cinema. É muito difícil competir com o mercado norte-americano e a gigantesca quantidade de obras disponíveis. Nossos filmes independentes têm muita luta para conseguir espaço e às vezes para conseguir a própria distribuição. Faltam salas, faltam complexos e mesmo que haja uma estratégia, ainda temos pouco investimento na distribuição, pensando em investimento público e apoios para a distribuição. Temos um montante de recursos bastante significativos para produção, sem entrar aqui no mérito de como está sendo disponibilizado e de previsibilidade, mas em termos de montante ainda é muito discrepante. A distribuição precisa de um olhar mais significativo porque de nada adiante ter obras e ninguém ver, não poder ver por não ter espaço para exibir isso", destacou do Valle.

O diretor da Olhar Filmes concorda sobre a falta de investimentos públicos para a distribuição e ainda destaca que desde 2018 não é feito um edital exclusivo para a comercialização das obras brasileiras.

"O maior desafio é o desequilíbrio entre o que se investe na produção e o que se destina à comercialização. Desde 2018 não temos editais exclusivos para comercialização no FSA. Aguardamos com ansiedade o edital de comercialização, que será anunciado no Festival de Gramado. Ainda assim, esse investimento vem com atraso, estava previsto no PAI 2024, onde foram destinados R$ 160 milhões do FSA para produzir longas e apenas R$ 60 milhões para distribuí-los — valor que ainda precisa atender filmes novos e represados, produzidos pelos editais anteriores do FSA, da Lei Paulo Gustavo e do fomento indireto. O audiovisual é um ecossistema: não basta produzir. É preciso investir de forma equilibrada em distribuição, exibição e formação de público. Sem isso, as obras brasileiras não circulam, o impacto social se perde e deixamos de gerar emprego, renda e soberania cultural no mercado interno e externo", disse.

Foi nesse contexto, diante desse cenário de dificuldades, que o I Seminário de Exibição surgiu para unir exibidores, distribuidores e produtores e convidá-los a falar uma mesma língua. O fato de diversos exibidores assistirem filmes nacionais e serem responsáveis pelas premiações, aliás, concede uma chancela para que as produções possam entrar em dezenas de salas de cinema espalhadas pelo país.

"A exibição não participa da política pública do audiovisual no Brasil. Sempre se pensa bastante na produção e também na distribuição, mas a exibição, que é feita sobretudo por pequenos e médios exibidores, que representam pelo menos um terço da exibição no Brasil com mais de mil salas. Nunca se pensa na exibição cinematográfica quando os editais são feitos e há uma insatisfação muito grande por parte dos exibidores. A questão é que todo o dinheiro está na produção e se produz muitos filmes. No ano passado, por exemplo, foram cerca de 600 longas-metragens no Brasil e pouquíssimos filmes chegaram ao circuito comercial preparados para alcançar o seu público. Aqui no Cine Glauber Rocha, por exemplo, no ano passado nós exibimos 96 longas-metragens e a imensa maioria deu prejuízo, não tinham um plano de distribuição e comercialização. Aí exibimos o filme, ligamos o ar-condicionado, o projetor, temos os funcionários, e ficamos com o prejuízo enquanto o produtor e o distribuidor são 100% subsidiados, ou seja, eles n

Voltando ao trabalho do Projeto Paradiso, que costuma trabalhar e incentivar sobretudo o desenvolvimento de novas obras, e não apenas a ponta da distribuição, a possibilidade de contribuir para a distribuição foi um grande chamariz para participar do I Seminário de Exibição, contribuindo para levar projetos brasileiros para as salas de cinema. Entretanto, Rachel do Valle também destacou a necessidade de se pensar na produção integrada, levando a distribuição em consideração desde a pré-produção, para de alguma forma "facilitar" a distribuição dos filmes.

"Acho essencial que desde o início se pense em estratégias, quem é o público e para qual público é determinada obra. Temos uma ação desde 2019 que fazemos uma formação chamada 'desenho de audiência' em parceria com o BR Lab que é voltada para projetos de longa-metragem de ficção, que ainda estão na fase de desenvolvimento dos seus roteiros, mas que já olham para a estratégia de audiência, e essa estratégia vai pensar todo o processo. Quem é a audiência para captar recursos, quem é a audiência de fundo, quem é a audiência de possíveis co-produtores e, na ponta final, quem é o público e audiência que vai assistir o filme. Tem que pensar nesse desenho de audiência, nesse público e na estratégia de distribuição. Já ouvi muitos distribuidores falando que quando chega na hora de fazer o marketing, não tem uma foto boa do set, por exemplo. É importante fazer um still, pensar em um cartaz interessante, e tudo isso faz parte de como atrair o público para um filme", disse.

O Prêmio Paradiso de Distribuição foi criado com o intuito de atacar esse gargalo do cinema nacional e, na visão de Cláudio Marques, a participação do Projeto Paradiso, por sua sua história e contribuição com o cinema nacional, dá uma chancela e força maior ainda ao prêmio.

"Particularmente tenho uma admiração muito grande pelo Projeto Paradiso e acho que vem fazendo a diferença desde que surgiu, e provocamos o Projeto Paradiso para estar perto da gente. O Projeto Paradiso traz muita qualidade para o cinema brasileiro e provoca e faz com que as pessoas pensem, melhorem, e tornem os projetos e processos mais bem elaborados. É muito interessante e importante que a questão da exibição também entre na agenda do Projeto Paradiso. Os procuramos e conversamos porque é uma marca muito importante, um selo de qualidade, e fico muito honrado de ter o Projeto Paradiso contribuindo para pensarmos a exibição do cinema brasileiro", disse.

Sobre a premiação e o I Seminário de Exibição como um todo, Rachel do Valle afirmou ser de extrema importância para o mercado uma vez que grandes eventos da indústria como o Show de Inverno e Expocine atraem grandes distribuidoras, mas falta um olhar mais cuidadoso para pequenos e médios distribuidores e exibidores.

"Já somos parceiros do Panorama e quando o Cláudio nos trouxe essa ideia do I Seminário ficamos pensando no que poderíamos fazer com eles voltado para esse seminário. O Projeto Paradiso não tem um super foco em distribuição e surgiu essa ideia porque eles já teriam uma premiação da Associação dos Exibidores, que achei super interessante, e pensei em colar nessa ideia porque era muito boa. Eles reuniram mais de 50 pequenos e médios exibidores e se eles se comprometeram a escolher um longa que estivesse na competição para exibir em suas salas de cinema. A premiação seria esse longa sair de lá já com essas salas (quase 500 salas desses 50 exibidores) e a gente entraria com uma contribuição financeira para que o distribuidor pudesse usar da forma que achasse melhor, sem a gente ter nenhuma ingerência em como gastar. Gostaram tanto de dois filmes que dividiram o premio e 'O Último Azul' recebeu o premio das salas, e 'O Silêncio das Ostras' ficou com o Prêmio Paradiso de Distribuição. Em 2026 a ideia é a gente ren

Argel Medeiros ainda destacou que o Prêmio Paradiso de Distribuição ajudou O Silêncio das Ostras, que chegou aos cinemas no dia 26 de junho, a potencializar a estratégia de distribuição, além de viabilizar algumas ações de promoção e divulgação do filme, como a exibição do longa em Matipó/MG, onde o quase todo o filme foi gravado.

"Vários exibidores viram o filme no Seminário de Exibição realizado dentro do Panorama Internacional Coisa de Cinema e, consequentemente, a sua premiação, logo ajudou muito na receptividade do filme entre os programadores das salas de cinemas. Na primeira cine-semana, conseguimos entrar com o filme em 17 salas de 12 cidades, na segunda semana ampliamos para 19 salas e ficamos como filme em cartaz durante 4 semanas. É muito importante a realização de mais eventos e possibilidades de encontro entre os distribuidores de cinema nacional e exibidores", comemorou o diretor da Olhar Distribuição.

Por fim, Rachel do Valle destacou a intenção de o Projeto Paradiso trabalhar em mais programas aceleradores para distribuição, e reforçou o compromisso de manter o Prêmio Paradiso de Distribuição no próximo ano para continuar auxiliando na distribuição e exibição de produções brasileiras.

"É importante ter um olhar muito atento para a distribuição e acho que precisamos ter mais investimentos nessa área. Estamos felizes com esse prêmio para distribuição. Nosso principal foco é na etapa de desenvolvimento e nossa estrutura é voltada para o desenvolvimento, mas tudo no entorno que consigamos contribuir, vamos estar perto e querendo fazer. Estamos felizes com esse prêmio, com a iniciativa do Panorama, felizes com a escolha de 'O Silêncio das Ostras' e já ansiosos para pensar em uma segunda edição", finalizou.

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