23 Dezembro 2025 | Redação
Retrospectiva 2025: os principais acontecimentos do ano no mercado cinematográfico
Questões políticas, PL do Streaming e vendas de majors estão entre os destaques do ano
O ano de 2025 está chegando ao fim e, se tem algo que ninguém questiona, é que proporcionou fortes emoções ao mercado cinematográfico. Entre políticas públicas, o aguardado PL do Streaming no Brasil, a iminente venda da Warner, e a chegada de uma nova major ao mercado de distribuição brasileiro, muito provavelmente veremos reflexos desses acontecimentos nos próximos 12 meses que estão chegando.
No geral, as bilheterias apresentaram resultados satisfatórios e continuam no processo de recuperação pós-pandemia, mas ainda sem atingir os patamares anteriores. No mercado internacional, os grandes destaques são as vendas de grandes majors de Hollywood. Enquanto a Paramount finalmente concluiu seu processo de venda para a Skydance, de forma inesperada e Warner também entrou em processo de venda, e ao que tudo indica será adquirida pela Netflix no próximo ano.
No Brasil, o assunto que chamou a atenção do mercado de janeiro a dezembro foi a aprovação do PL do Streaming. Entre idas e vindas, a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do projeto no mês de novembro, mas uma decisão definitiva ficará apenas para 2026. Além disso, uma notícia chacoalhou o mercado no dia 21 de novembro, no apagar das luzes de 2025. A Amazon MGM Studios anunciou que abrirá um escritório de distribuição no Brasil no próximo ano e terá Caio Meira como Líder de Distribuição no Brasil, marcando a chegada de uma nova major ao nosso mercado.
Confira abaixo a retrospectiva completa!
Política
O ano de 2025, na verdade, começou ainda no final de 2024 - ao menos no Brasil. Nos últimos dias do último ano, o Governo Federal publicou uma Medida Provisória que prorrogou até 31 de dezembro de 2029 a vigência dos incentivos fiscais para o setor audiovisual, permitindo o abatimento no imposto de renda das quantias investidas na produção de obras audiovisuais cinematográficas brasileiras de produção independente.
Depois disso, ainda no início do ano, uma outra demanda do setor finalmente foi atendida. No dia 3 de janeiro a Ancine publicou no Diário Oficial da União a regulamentação da Cota de Tela para o ano de 2025, visando estimular a programação de filmes brasileiros em sessões a partir das 17h e incentivar a programação de obras brasileiras premiadas em festivais.
Outro destaque que vale ser mencionado foi a assinatura de um acordo entre Netflix e Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) para promover o turismo audiovisual no Brasil, contando com um guia virtual de turismo que apresenta o Brasil por meio de cenários vistos em séries, filmes e realities nacionais da plataforma.
Além disso, no mês de julho a Ancine aprovou a suspensão temporária de parcelas de empréstimos concedidos por meio das Linhas de Crédito Emergencial do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). A resolução permite que salas de cinema registradas na agência solicitem o adiamento de pagamentos de principal e juros até 31 de dezembro de 2026, com possibilidade de extensão do prazo de amortização. Poucos dias depois, no início do mês de agosto, a agência também atualizou os limites da Lei do Audiovisual e anunciou a redução de burocracia em seus procedimentos.
Depois, durante o ano também foram liberados alguns aportes para o setor cultural - em especial o audiovisual - e um decreto do Ministério da Cultura (MinC), garantiu a manutenção integral dos recursos da Lei Aldir Blanc para os estados e municípios que executarem o mínimo de 60% do montante recebido no ano anterior. Isto significa que se todos os entes cumprirem estes requisitos, serão investidos R$ 3 bilhões por ano em cultura. No mês de julho, através do edital Arranjos Regionais, o MinC também anunciou um aporte de até R$ 210 milhões para fortalecer o audiovisual nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e em agosto anunciou um investimento de R$ 60 milhões para ampliar a distribuição de filmes brasileiros.
No estado de São Paulo, especificamente, o ano também foi agitado para o setor audiovisual. No ano em que a cidade se tornou a 3ª cidade brasileira consagrada como cidade criativa da Unesco na categoria Cinema, Lyara Oliveira deixou a cadeira de presidente da Spcine e deu lugar para a advogada Anna Paula Montini.
Também foram anunciados grandes investimentos, com um aporte de R$ 100 milhões da prefeitura para o setor audiovisual dentro do pacote São Paulo +Cultura, um investimento de mais de R$ 143 milhões em novos editais, e um investimento de R$ 100 milhões da Ancine através do FSA.
PL do Streaming
A grande novela do PL do Streaming não deixa de ser política, mas merece um tópico à parte. Após muitas discussões com diversos elos da cadeia audiovisual, e alterações na alíquota da Condecine, a Ancine e o MinC fizeram alguns apontamentos para ajustes, como uma alíquota de 6% da receita bruta para a Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional).
O MinC manteve um diálogo constante com o Congresso Nacional e, após muitas idas e vindas, a Câmara dos Deputados aprovou no dia 4 de novembro o texto-base do Projeto de Lei nº 8.889/2017, o PL do Streaming.
Mas, apesar da aprovação na Câmara e da pressão do setor, a votação não andou no Senado e uma decisão final ficou para o ano de 2026. Um dos pontos de maior atenção do setor é em relação à janela de exibição de filmes nos cinemas antes de entrarem para os catálogos das plataformas de streaming e a expectativa é que a votação no Senado - infelizmente - não seja concluída antes do mês de março.
Exibição e bilheterias
Na exibição e nas bilheterias como um todo, 2025 foi um ano de altos e baixos. No Brasil, o grande destaque foi Lilo & Stitch (Disney), que vendeu mais de 10 milhões de ingressos e logo em sua estreia mostrou que estava chegando para fazer história ao vender 2,7 milhões de ingressos. Mundialmente tivemos uma grata surpresa: a maior bilheteria do ano é chinesa. A animação Ne Zha 2 (A2 Filmes) arrecadou US$ 1,9 bilhão e desbancou os grandes blockbusters de Hollywood.
Logo no começo do ano, vale destacar, um filme que havia estreado em 2024 também fez história. Nas primeiras semanas de janeiro, Moana 2 (Disney) alcançou o feito notável de ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão em bilheterias. No Brasil, tivemos três grandes destaques que se sobressaíram. O Auto da Compadecida 2 (H2O Films) e Ainda Estou Aqui (Sony), lançados no ano passado, venderam 2,92 milhões e 2,74 milhões de ingressos respectivamente em 2025. O outro grande destaque foi O Agente Secreto (Vitrine Filmes), que pode ser nosso representante no Oscar 2026 e também levou mais de um milhão de espectadores aos cinemas.
No Brasil, o ano começou com a notícia de um marco histórico para a indústria de exibição. O país atingiu o maior número de salas de cinema em funcionamento desde 2014, com 3.509 em atividade e outras 48 salas fechadas temporariamente. O recorde anterior era de 3.478 salas em 2019.
Apesar de 2025 ter se mostrado um ano de desafios, com o mês de outubro apresentando um dos piores resultados em muitos anos, e uma queda de público de 43% em relação ao mês de outubro do ano anterior, também houve motivos para sorrir.
No primeiro trimestre de 2025, por exemplo, houve um aumento de 7,2% na venda de ingressos em relação ao mesmo período do ano anterior. Considerando apenas produções nacionais, o aumento foi ainda maior, com um crescimento de 28,1% em relação ao primeiro trimestre de 2024. O bom ritmo foi mantido nos meses seguintes e no dia 19 de junho, no Dia do Cinema Brasileiro, a Ancine divulgou que o público total nas salas de cinema e renda total dos cinemas haviam crescido mais de 20% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O Brasil, vale destacar, teve o seu melhor primeiro semestre desde o início da pandemia ao vender 60 milhões de ingressos, um número 4,1% maior do que os 57,2 milhões de ingressos vendidos no primeiro semestre de 2024.
A arrecadação mundial, por sua vez, também apresentou um crescimento de 17% no primeiro semestre, apesar de ainda distante dos patamares pré-pandemia. Enquanto os 100 filmes de maior bilheteria em todo o mundo somaram uma renda de US$ 10,75 bilhões neste ano, o número foi de US$ 9,17 bilhões em 2024. Os números, entretanto, ainda ficam 28,29% abaixo dos US$ 14,99 bilhões arrecadados durante o primeiro semestre de 2019, o último antes da pandemia. Vale destacar que, além de Ne Zha 2 e Lilo & Stitch, apenas um outro filme faturou mais de US$ 1 bilhão. Zootopia 2 (Disney), que ainda está em cartaz, arrecadou US$ 1,27 bilhão até o momento.
Premiações
O ano começou confundindo a cabeça de especialistas e apostadores com três das principais premiações do mundo tendo diferentes vencedores na categoria de Melhor Filme. Enquanto o Globo de Ouro premiou O Brutalista (Universal), o BAFTA escolheu Conclave (Diamond Films), e o Oscar deu o prêmio máximo para Anora (Universal).
Apesar de não conquistar os principais prêmios, vale destacar a participação do Brasil nas premiações. No Globo de Ouro, Fernanda Torres fez história ao conquistar o prêmio de Melhor Atriz de Filme de Drama pelo seu trabalho em Ainda Estou Aqui.
O filme dirigido por Walter Salles ainda fez história ao se tornar o primeiro filme brasileiro a concorrer na principal da categoria do Oscar, de Melhor Filme, e fez mais história ainda ao trazer o primeiro Oscar para o Brasil e vencer na categoria de Melhor Filme Internacional.
O Brasil ainda conquistou destaque internacional com O Último Azul (Vitrine Filmes), que levou o Urso de Prata do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim, e com O Agente Secreto, que rendeu os prêmios de Melhor Diretor para Kleber Mendonça Filho e de Melhor Ator para Wagner Moura de Cannes.
No Brasil, as duas principais premiações do mercado também foram para caminhos opostos. Enquanto no Festival de Gramado o longa Cinco Tipos de Medo (Downtown Filmes) foi o grande vencedor, no Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro o selecionado foi Ainda Estou Aqui.
Vendas de majors
Um dos grandes marcos do ano de 2025 é a venda de grandes majors de Hollywood. A Paramount já estava em um processo de venda que se arrastava desde 2024, mas no dia 24 de julho finalmente foi selada a fusão bilionária entre Paramount e Skydance.
A operação girou em aproximadamente US$ 8,4 bilhões e transformou David Ellison, fundador da Skydance, em uma das principais figuras de Hollywood. A Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos Estados Unidos aprovou a operação por 2 votos a 1. Poucos dias depois, no início de agosto, o acordo finalmente foi oficialmente assinado dando fim a uma novela que durou 20 meses.
Mas, se a venda da Paramount já era aguardada, o mercado entrou em ebulição no dia 21 de outubro quando a Warner admitiu a possibilidade de venda. Apesar de uma dívida na casa de US$ 35 bilhões, Paramount, Netflix e NBCUniversal travaram uma verdadeira batalha pela major.
Surpreendendo o mercado, no dia 5 de dezembro a Warner aceitou uma proposta de US$ 82,7 bilhões da Netflix pelos seus departamentos de cinema e streaming. A Paramount, por sua vez, tentou atravessar o negócio ao divulgar uma proposta de US$ 108 bilhões por todo o conglomerado da Warner no dia 8 de dezembro.
Pouco mais de uma semana depois, em 17 de dezembro, a Warner rejeitou a proposta da Paramount e agora os próximos meses devem ser de negociações com o governo para que a venda para a Netflix seja aprovada. Vale destacar que incorporando a HBO Max e o catálogo da Warner, a participação da Netflix no mercado de streaming poderia superar 30%, um nível considerado potencialmente problemático pelas leis estadunidenses.
Eventos
Por fim, o ano de 2025 também foi forte para os eventos do mercado de cinema. O Portal Exibidor se fez presente em alguns deles e a cobertura completa pode ser lida nos links a seguir:
- Expocine
- Rio2C
*As informações da retrospectiva foram compiladas até o dia 23 de dezembro*














